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Comentarista da ESPN assume estilo reclamão: "até no condomínio onde moro"

UOL Esporte

08/11/2013 06h00

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Crédito: Reprodução

Mauro Cezar Pereira é um comentarista diferente dos demais, principalmente por ser sincero. Pode parecer uma qualidade incoerente em se tratando de alguém que dá opinião na TV, mas o niteroiense de 50 anos é tão verdadeiro nos seus comentários nos canais ESPN, onde trabalha desde 2004, que é capaz até de admitir durante uma transmissão de futebol ao vivo que o jogo está muito chato. "Tenho que ser honesto né?", justificou.

Mauro Cezar também tem outra característica forte na sua personalidade: a acidez nos comentários, algo que ele mesmo reconhece. Mas alega que não se trata de um personagem diante das câmeras. "Sou assim, um cara critico por natureza. Um cara inconformado. É a minha natureza, formação, jeito de ser. No condomínio em que moro, reclamo de tudo".

No bate papo de quase uma hora que concedeu por telefone ao UOL Esporte, Mauro Cezar falou de vários assuntos e contou um pouco do que ajuda a explicar os seus 30 anos de trajetória nas mais diferentes áreas do jornalismo. Confira os principais trechos da conversa:

UOL Esporte: Você chama atenção por ser muito crítico em jogos chatos. Isso não acaba sendo um convite ao telespectador mudar de canal?
Mauro Cezar Pereira: Já pensei muito nisso, existe essa máxima. Mas não posso pensar que quem assiste é tolo, muito menos idiota, imbecil. O cara está vendo o jogo. Não é que nem o rádio, que você pode usar a imaginação. Às vezes, a bola passa pela bandeirinha de escanteio e o narrador grita que foi rente a trave e parece que é verdade. Se o torcedor estiver em busca de um grande espetáculo e o jogo estiver chato, ele vai mudar de canal. Se não mudar, ou é muito fanático, ou torce para o time, ou porque quer ver futebol e está ali sem compromisso. Tenho que ser honesto né? Não posso tentar iludir o cara.

"Não posso afinar diante do ministro", diz Mauro Cézar

  • ReproduçãoNo final de agosto, Mauro Cezar voltou a mostrar opiniões divergentes do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, no "Bola da vez", da ESPN Brasil. O comentarista deu a sua versão sobre a troca de farpas, que já havia aocntecido no programa Roda Viva, da TV Cultura, e via Twitter. "Se eu critico e falo que penso dentro da empresa que me dá essa liberdade, não posso afinar diante do ministro. Não posso não perguntar. O cara que está assistindo não quer que pergunte coisas amenas. Ele vê que sou critico, liga no Roda Viva e fico alisando o ministro? Não dá. Tenho que ir para o confronto se for necessário. O ideal é que não chegue a isso, mas acaba acontecendo".

UOL Esporte: Seu estilo muito sincero já lhe rendeu problemas em alguma emissora em que você trabalhou? Acha que ser muito sincero, de tão raro, se tornou uma virtude neste meio do jornalismo televisivo?
Mauro Cezar Pereira: A televisão às vezes cria alguns personagens. Tenho muito cuidado para não virar personagem, pois não sou personagem. Sou assim, um cara critico por natureza. Um cara inconformado. É a minha natureza, formação, jeito de ser. No condomínio que moro, reclamo de tudo, participo sempre que acho errado. Se vejo um morador tratar mal um funcionário, eu reajo. A emissora que trabalho me dá liberdade expressão, e eu tento exercê-la. Não seria bom jornalista se não fizesse isso. Estaria sendo covarde e desonesto com quem me assiste.

UOL Esporte: Concorda com o Chico Lang que todo jornalista que comenta na TV, de alguma forma, acaba assumindo um personagem?
Mauro Cezar Pereira: Não sei se o Chico Lang faz personagem, ou se é assim desse jeito, porque não o conheço. Se eu for visto como personagem, sou personagem de mim mesmo. Não sou mal humorado, sou crítico, ácido muitas vezes. Meu lado, quando faço brincadeira, é muitas vezes sarcástico, é minha maneira de ser. Tem gente que detesta, tem gente que gosta. Isso pra mim é normal. A gente não deve ter pretensão de agradar a todo mundo. Jornalista, que trabalha com opinião, ficar preocupado em agradar as pessoas, tem que fazer outra coisa da vida né? Vai ter que criticar, botar o dedo na ferida, o que faço com frequência talvez um pouco maior do que os outros.

Não interpreto personagem. Sou do mesmo jeito, não mudo nada. Mesmo se quisesse, não seria capaz de fazê-lo, não tenho esse talento. Não sou ator, não sou humorista.

UOL Esporte: Você é conhecido por um estilo um pouco ácido nos comentários. Concorda que carrega essa fama? Se preocupa com isso?
Mauro Cezar Pereira: Se eu tentar fazer alguma coisa diferente, vou estar interpretando. Vou emitir uma opinião que não é a minha. A gente aprende com o tempo e vai tentar colocar de uma forma mais clara temas delicados para evitar más interpretações. Há momentos em que tento não ser tão contundente como seria, para não parecer tão agressivo. Respiro fundo, tento usar as palavras com mais cuidado, mas sem deixar de falar como penso. A gente tem muitas opiniões que são levadas pelos resultados. Não posso analisar apenas pela tabela de classificação. Muito fácil né?

Não me preocupo com isso [ser ácido]. Tento falar o que penso, ser honesto. Acabo sendo um formador de opinião. Tenho que sustentar meu ponto de vista em cima de argumentos concretos. Tenho que colocar opiniões com argumentos para que a pessoa possa formar sua própria opinião.

UOL Esporte: Você não foge de discussões com os internautas no Twitter quando provocado. Alguns comentaristas até optaram por sair do Twitter por não aguentarem tanto desrespeito aos profissionais de TV. Como você vê essa relação entre comentarista e internauta nas redes sociais?
Mauro Cezar Pereira: As redes sociais oferecem muito mais vantagens do que desvantagens. Você fica sabendo no Twitter tudo com mais rapidez. As informações chegam mais rápido. Muita gente passa informação por lá. Se quiser confirmar, a gente checa e dá. Existem alguns amigos de Twitter que fiz, que frequentemente falam comigo, ajudam a fazer o programa e dão o feedback da crítica inteligente. Dizem: não gostei disso, acho que você foi mal naquilo. Elogios todo mundo gosta, ver o trabalho reconhecido é muito estimulante. As coisas ruins são os protozoários digitais, asnos virtuais, covardes, que se passam na rua, não vão me falar nada, e na internet me xingam, me ofendem. Você abre o computador e acaba sendo xingado por causa de futebol porque criticou um jogador, disse que o time jogou mal. Já discuti por um tempo, hoje não discuto não. Na maioria das vezes, só dou block. O cara vem, me xinga, e já dou block. Devo ter dado uns 10 mil blocks já.

Tenho procurado entender melhor como funciona, evitado situações desagradáveis. Às vezes, quando estou bem humorado, dou RT no xingamento dizendo: vejam que exemplo de educação na minha TL, faço uma ironia qualquer. Hoje raramente tenho respondido. É um amadurecimento de uma ferramenta nova. Tenho que respeitar e eles têm que me respeitar também. O cara te corrige porque sua opinião é diferente da dele. Eu digo: esse é seu ponto de vista, posso ter o meu?

Eu não desisto da ferramenta porque ela me ajuda muito mais do que atrapalha. Espero conseguir lidar da forma mais tranquila, mas não é fácil. É fácil falar: ignore o cara xingando. Eles te incomodam, mas com tempo, você vai se habituando.

UOL Esporte: Você lida numa boa com o perfil fake que fizeram de você no Twitter? Já falou com ele alguma vez?
Mauro Cezar Pereira: Eu o sigo. Acho engraçadinho. Amplifica as coisas que eu falo, distorce uma porrada de coisa. Tenta fazer sacanagem, mas não está ofendendo ninguém, não envolve família. Deixa o cara lá, tem gente que se diverte, é uma sátira. Se estou na TV, na rede social e  tem cara que resolve fazer, não me incomoda, claro que dentro de um certo limite. Tudo fica bem ruim quando se passa por você publicando falsas notícias, aí é um caso grave, até de polícia.

O meu a assume que é fake (risos). Já vi alguns colegas discutirem com ele, achando que era comigo. Ele provoca às vezes algumas pessoas que não percebem que ele é fake.

Tem que levar na brincadeira. O PVC tem ótimos fakes. O da cantada do PVC é muito divertido. O próprio PVC já mandou mensagem para ele. Todo mundo se diverte. Não pode levar tão a sério.

UOL Esporte: No Twitter, você também comenta muito um assunto polêmico, que é a arbitragem. Como você avalia o nível das arbitragens no país? O que dá para melhorar?
Mauro Cezar Pereira: Arbitragens são ruins. Os árbitros marcam faltas demais. Tudo é falta, tudo é pênalti. O jogo fica muito parado. Isso muito por conta também, opinião minha, do comentarista de arbitragem, que é um personagem curioso. Todo mundo discorda dele em algum momento quando ele está em atividade. Mas quando vira comentarista, vira dono da razão em algum momento. O futebol é repleto de situações absolutamente interpretativas, situações bizarras. Um encostão, entrada mais dura, já é tratado como falta, pênalti, e interfere no jogo. Tem árbitros covardes que amarram o jogo por conveniência própria. A arbitragem brasileira é das piores do mundo. Infelizmente atrapalha demais a qualidade do espetáculo. Duvido que um alemão, dinamarquês, tenha saco para ver um jogo com 48 faltas, não dá para toda hora parar. Se é para ver um jogo e parar toda hora, melhor ver beisebol.

Renan Prates
Do UOL, em São Paulo

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