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Veteranos da Band veem Globo melhor pós-Leifert: 'Eram muito quadrados'

UOL Esporte

10/03/2015 12h00

Trabalhar na TV em 2015 é ter acesso a tecnologia de última geração e viver com muito menos falhas que em outros tempos. Hoje os links ao vivo funcionam, as transmissões de eventos quase não caem… Mas nos anos 1980 e 1990 era diferente. Foi driblando perrengues que apresentadores como Elia Junior e Simone Mello comandaram na Band transmissões cheias de improviso e de tom mais leve. Do outro lado, na concorrência, a Globo tinha um estilo mais "quadrado", que só mudou definitivamente com Tiago Leifert a partir de 2009. E a dupla exalta esse novo formato, que transformou o padrão global como um todo.

Simone e Elia foram a dupla mais marcante na apresentação dos domingos esportivos da Band. Eles comandavam transmissões que chegavam a ficar 12 horas no ar, do fim da manhã à noite, com o "Show do Esporte". E não era raro terem de mostrar todo o jogo de cintura para salvar o programa. Mais que isso, o importante era ter liberdade para ousar e ser informal, justamente por saberem que as limitações tecnológicas os obrigariam a improvisar.

Para a dupla, o jornalismo da Band era bem diferente da dos concorrentes, antecipando, de certa forma, o que se veria com Leifert, Alex Escobar e Fernanda Gentil, entre outros.

"O que se vê hoje é bem o que a gente fazia muito tempo, eu e o Elia", diz Simone, hoje afastada da TV. "Era uma coisa nossa, e a Globo não fazia na nossa época. Era mais séria, com um comportamento engessado. O nosso, como tudo dava errado (risos), a gente tinha que se virar."

"Imagina um programa de 12h, ao vivo, o que não acontecia", relembra Elia Junior, apresentador no Bandsports. "Antigamente caía o sinal, transmissão travava por causa de uma montanha. Diante dessa realidade, eles precisavam de apresentadores que tivessem essa capacidade de improvisar, de acordo com o que aparecia na hora."

Foi diante disso que a liberdade dada pela direção do programa acabou moldando o estilo dos veteranos apresentadores.

Pulemos cerca de duas décadas na história, e o jovem Tiago Leifert, com cara de menino, implantou uma revolução na Globo a partir de 2009. Falando sem teleprompter, direcionando-se mais ao público, apostando na informalidade… Essas inovações no formato do "Globo Esporte" de São Paulo foram bem aceitas pelo público e, cada um em um nível, os noticiários da emissora se adaptaram a uma nova realidade, incluindo o Jornal Nacional, liderado por William Bonner.

"A Globo era muito quadrada. Então ele (Tiago) foi fazendo uma coisa que fazíamos desde 1983, 1984. E com muita qualidade, solto, que é no que ele é muito bom. O que chamou atenção é ele poder fazer isso na Globo", analisa Elia Junior.

"Hoje é muito diferente, é muito mais legal. A Globo demorou para quebrar esse padrão mais sério, e acho o Tiago muito bom. Gosto muito também da Fernanda Gentil. Ela apresenta do jeito que ela é, que é o bacana. Ninguém mais assiste se não for real", complementa Simone.

Causos e flagras

A limitação tecnológica dos anos 1980 e 1990 complicava pra valer os apresentadores. E eles nem ligavam se eram flagrados em momentos embaraçosos quando as transmissões caíam.

"No momento que caiu o sinal era: 'resolve aí'. Era uma liberdade, mas uma obrigação", diz Simone. "O normal era ter pepino. Às vezes a gente ficava com as pernas no balcão, lendo os jornais, enquanto passava os eventos. E tinha de ficar ali em frente à câmera. E já aconteceu de voltar e eu estar ali. Não dava para pedir desculpa, tinha que explicar o que estava acontecendo. Outras vezes já entrei passando batom, ou estávamos conversando sobre um jantar da noite anterior… Mas era natural, não era um bicho de sete cabeças acontecer um erro desses".

Elia também teve suas correrias para voltar ao ar. "Estar lendo jornal, ou indo para o banheiro e voltar correndo… Ou às vezes o cara tinha que ir te chamar correndo lá dentro do banheiro para voltar para o ar. Sempre aconteceu", ri Elia, que considera que viver tudo isso era uma aula, algo que qualificou seu trabalho.

Simone define seus momentos mais famosos na TV assim: "A gente brincou de fazer o programa por mais de dez anos". E completa. "O Elia sabia muito mais de esporte, entendia muito. Eu entendia muito mais ou menos, mas adorava estar ali na TV."

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

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