Repórter da TV Record expõe time do coração e afirma: "Pago um preço alto"
Luiza Oliveira
01/04/2019 12h00
Arquivo pessoal
Quem acompanha Janice de Castro no Instagram sabe do amor dela pelo Atlético-MG. São várias as postagens com a camisa do Galo e menções ao time nos dias de vitórias e derrotas. A repórter da Record não tem problemas em expor seu time do coração, postura incomum entre jornalistas esportivos.
Janice acredita que é saudável jornalistas assumirem seus times e lembra que todos já foram torcedores de arquibancada um dia. Além disso, questiona a mentalidade presente no meio de que é preciso esconder o próprio sentimento, em momento em que tanto se fala em tolerância e respeito no futebol.
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"Está na hora de mudar isso, e de as emissoras reavaliarem isso. É tão natural. Em nenhum momento me senti menos profissional por falar que sou Galo. Na hora que estou no jogo vestindo a camisa da Record, se é um Galo x Corinthians eu nem torço para o Galo, eu fico preocupada com o trabalho. Na hora de fechar o texto, vou ser imparcial. Não é possível que a pessoa acha que porque eu sou Galo vou falar mal do Corinthians e bem do Galo. Isso não existe. Me incomoda muito".
Janice conta que nunca teve problemas com torcedores ou com profissionais do futebol por assumir sua paixão. Ela é muito bem recebida nos estádios e tem brincadeiras saudáveis com os fãs. Até Rogério Ceni já brincou em uma coletiva. A repórter acredita que a maior restrição vem do meio.
"Os próprios jornalistas me julgam e falam: 'Você vacila muito', 'Assim ninguém vai te querer', 'Você exagera', 'Como você vai fazer um jogo do Cruzeiro?'. Eu pago um preço alto por assumir meu time, tenho portas fechadas em muitos lugares. Mas preferi pagar esse preço. Por que um jornalista no seu momento de folga não pode vestir a camisa, ir para a arquibancada e levar o filho? Tem que parar com isso. E o jornalista quando assume é até mais rigoroso com o próprio time".
Janice tem o apoio da TV Record, emissora em que trabalha há 15 anos. A exposição do time surgiu de forma natural lá dentro quando ela trabalhava em Brasília, e um apresentador que torcia para o Flamengo sempre brincava no ar. Janice cita jornalistas que ela admira e que revelam seus times, casos do comentarista da ESPN e também atleticano Mário Marra e de Mauro Beting e PVC, torcedores do Palmeiras. Além disso, exalta a atitude de Ivan Moré, que se emocionou recentemente durante a apresentação do Globo Esporte ao se lembrar do pai e revelou ser corintiano por causa dele.
Arquivo pessoal
Assis ajudou a realizar sonho de criança
O amor pelo Galo aconteceu de um jeito inusitado. Janice vem de uma família de cruzeirenses e começou a torcer pelo rival para provocar os primos quando ainda morava em Patrocínio-MG. Aos poucos, se apaixonou pelo clube. Na adolescência, era do tipo que dormia na fila para comprar ingressos e ia para jogos com as torcidas organizadas. A ideia de fazer jornalismo veio pelo sonho de cobrir o time. Mas a história acabou tomando outros rumos até o seu reencontro com o clube.
Assim que se formou na faculdade, ela procurou emprego em Belo Horizonte e bateu na porta de vários os veículos: Rádio Itatiaia, TV Horizonte, TV Globo e até a própria Record. Mas só levou "não" e ficou desempregada por um ano e meio no período que ela considera o pior da sua vida. Até que em 2004 foi morar com uma tia em Brasília para tentar outra chance. Na época, o Brasiliense vivia uma boa fase, e a TV Record estava expandido sua equipe. Janice conseguiu o emprego como repórter e logo assumiu também a apresentação do programa Esporte Record DF. A carreira decolou. Ela agradou ao público, virou garota propaganda em outdoors e em 2010 recebeu um convite para ser repórter em São Paulo.
Mas ainda não havia realizado o maior sonho da carreira, que era fazer uma gravação na Cidade do Galo. E foi só em 2012, quando Ronaldinho Gaúcho fechou com o time, que ela conseguiu. Foi Assis, irmão do jogador, quem a ajudou.
"Eu encontrei o Assis no jogo. Cheguei e contei a minha a história e o meu sonho. Falei: 'Já gravei com Cristiano Ronaldo, Maradona, fiz matéria na África. Mas nada disso para mim valeu, meu sonho é gravar matéria na Cidade do Galo. Me ajuda, Assis. Deixa eu gravar uma matéria com Ronaldinho Gaúcho'. Ele falou: 'Tá bom. Vou te ajudar'. E a primeira entrevista exclusiva do Ronaldinho Gaúcho foi comigo. Eu não acreditava. O Ronaldinho era o maior jogador que já vi jogar. Eu cheguei no hotel e só chorava. Precisei mudar para Brasília, ir para São Paulo para realizar meu sonho de gravar na Cidade do Galo. Deus escreve certo por linhas tortas".
Hoje, Janice de Castro tem portas abertas no clube que é fã e se tornou uma das repórteres esportistas mais longevas da televisão. Na TV Record, ela faz coberturas de treinos e jogos, mas sua paixão é contar histórias em matérias de comportamento. Com 15 anos de carreira, já sofreu episódios de machismo e assédio moral de chefe. Mas hoje se sente forte para fazer denúncias graças ao empoderamento feminino e à maturidade de seus 38 anos, que ela celebra.
"Hoje estou em uma fase engraçada porque entrevisto os filhos dos jogadores que eu entrevistava. E tenho idade para ser mãe do Gabriel Jesus, por exemplo. Ele tem 21 anos, eu estou com 38. Isso é muito engraçado. Eu me divirto, e a minha bagagem ajuda muito. Já são 30 anos acompanhando futebol".
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