Repórter da Globo foi alvo de fake news e dos são-paulinos: "Fora, Hernan!"

André Hernan entrou há 15 anos no Grupo Globo como estagiário. Hoje, é um dos principais repórteres da emissora. Na Copa do Mundo da Rússia, por exemplo, foi a aposta para acompanhar a seleção brasileira por conta de seu estilo de reportagem: linguagem informal, bastidores e informações fora do protocolo. "Falo de futebol ao vivo e nas transmissões como se estivesse numa mesa tomando vinho com meus amigos", conta, ao UOL Esporte.

O estilo consagrou o repórter e virou até bordão. Em suas participações nos programas da casa, já é rotina os apresentadores pedirem pela "última informação" de Hernan.

Mas a exposição e a fama conquistadas nos últimos anos têm preço: já viralizaram pelas redes sociais diversas imagens falsas com informações supostamente escritas pelo repórter, como um acerto do São Paulo com o goleiro Marcelo Grohe, então no Grêmio, em outubro do ano passado. "Fake news é uma praga que precisamos combater. Essa mentira (sobre Grohe no São Paulo) proliferou em grupos e também nas redes sociais. A Globo fez uma nota desmentindo. Mas a mais curiosa foi há pouco tempo: um sujeito criou um perfil falso no meu nome no Twitter e anunciou que o Pato já estaria de saída do São Paulo. Levei na boa, mas muita gente replicou essa mentira. As pessoas tentam desconstruir a sua credibilidade por pura maldade. Isso é nojento", desabafa Hernan.

A relação do jornalista com as redes sociais, segundo ele, é um "desafio diário". "Outro dia um torcedor do Palmeiras tuitou: 'Graças a Deus a Globo tirou o André Hernan da cobertura dos jogos do Palmeiras'. Aí eu respondi: 'Tirou não. Estou de férias. Quando eu voltar você vai ter que me aturar'. Foi engraçado. Eu bloqueio quem me ofende. Mas quem provoca para chamar atenção ou em tom de brincadeira eu dou uma zoada, acho divertido. Mas é difícil manter uma relação saudável, ainda mais em tempos de polarização política. Às vezes, respondo aquelas mensagens mais grosseiras dos haters e acabo me arrependendo depois. O seguidor pode te xingar, mas se eu xingo é o repórter da Globo que está sendo mal educado, e aí é uma exposição desnecessária."

Torcida gritou "Fora Leco" e… "Fora Hernan"

Em março, o São Paulo empatou em 1 a 1 com o São Caetano pela última rodada da primeira fase do Campeonato Paulista, no estádio Anacleto Campanella. Apesar da classificação para as quartas de final, o time saiu de campo vaiado pela torcida. Entre os xingamentos a alguns jogadores e ao presidente Leco, um coro de "Fora Hernan" foi ouvido. "Seu pé frio, vai cobrir o Palmeiras", disse um torcedor são-paulino. Outros seguiram o coro. E o repórter foi vaiado pela torcida.

"Foi uma das coisas mais inusitadas que eu já vivi. E tem gente que acha que só jogador sofre pressão", diverte-se o repórter. "Levei na zoeira, talvez eles tenham razão em me chamar de pé frio. Meu aproveitamento cobrindo o São Paulo é patético. Em quase dez anos de reportagem só um título, a Flórida Cup de 2017. Muito pouco. Eles têm razão. Mas eu não vou renunciar (risos)."

"Quando faço uma pergunta que incomoda, as minhas redes sociais recebem uma enxurrada de insultos e xingamentos. Antes, eu ficava mal com isso. Refleti várias vezes se estava fazendo a coisa certa. Hoje, não ligo. Se me xingam por uma pergunta que fiz é sinal de que meu trabalho está sendo visto. E tudo tem o seu lado positivo, recebo também elogios por fazer perguntas mais duras. Faz parte", releva o jornalista.

Gratidão a Leifert e inspirações na reportagem

André Hernan está no Grupo Globo desde 2003, quando ingressou no SporTV. Antes, trabalhou por 5 meses na TV Cultura, em um estágio não remunerado. Ele entrou na reportagem em 2010, depois de longo caminho na produção, que considera fundamental em sua formação. "Eu queria mesmo era ser repórter", conta o jornalista, que se diz inspirado em nomes como Luiz Ceará, Roberto Thomé, Fernando Fernandes, Elias Awad e Mauro Naves.

Já na função de repórter, ele agradece a Tiago Leifert, que apresentou o Globo Esporte durante quase sete anos: "Quando assumiu o programa, ele me orientava muito. Pedia leveza nas reportagens, mas sem deixar de lado minha principal característica, que é a informação. Com essa mescla, meu trabalho evoluiu muito. O Tiago foi muito importante. Eu morria de medo de gaguejar ou errar o texto. Era tudo muito quadrado e quando me via no ar me achava um robô. Com o passar dos anos e a transformação dos padrões, do ao vivo mais falado, mais conversado, me sinto muito mais à vontade."

A busca de Hernan por sua "principal característica", porém, já atrapalhou a refeição de Carol, sua esposa, e seus filhos Nina e Bento, de 8 e 5 anos. "Enquanto faço o café da manhã, já estou com o telefone na mão, trocando mensagens com as fontes do clube que vou cobrir no dia. Confesso que já queimei algumas tapiocas por estar apurando notícias. Mesmo assim, eles falam em casa que eu faço o melhor café da manhã do mundo (risos)". Ele já interrompeu até uma licença paternidade para dar informação de que o Flamengo tinha acertado com o técnico Silas em 2010.

Futuro como apresentador?

Depois de duas Copas do Mundo, uma Eurocopa e o ouro olímpico do Brasil no futebol em 2016 como repórter, André Hernan assumiu uma função diferente no Grupo Globo neste ano. Ele foi apresentador do programa Central do Mercado, exibido durante a pré-temporada dos clubes brasileiros no SporTV: "É como se fosse meu terceiro filho que nasceu em 2019. Já estou com saudade de tocar a sirene e anunciar uma contratação. Foi uma oportunidade fantástica que a casa me deu e também um desafio muito grande ter que cultivar fontes fora dos clubes paulistas. O telefone não parava e brinco que eu até câimbra no dedo. Graças a Deus deu tudo certo."

"Gostei muito de apresentar. Quem não quer essa vida de maquiagem, estúdio e roupa passada (risos)? Não descarto isso para o futuro, mas sem pressa, sei que ainda tenho muita lenha para queimar na reportagem e vivenciar à beira do campo", conta o global.