Topo

Desempregado, Noronha quer voltar à TV e explica 'sono' ao vivo na Globo

UOL Esporte

13/11/2013 06h02

Em mais de 50 anos dedicados ao jornalismo, Sérgio Noronha diz que fez de tudo e viu de tudo. Trabalhou em rádio, jornal, revista e televisão. Foi de office boy a chefe, cometeu gafes, conviveu com a 'metideza' do amigo Galvão Bueno, enfrentou demissões e a repressão da censura e alimentou seu ego com o sucesso na televisão.

Sem trabalhar há dois anos, ele reflete sobre a carreira e curte a vida que o jornalismo lhe proporcionou. Carioca da gema, gosta de praticar exercícios, frequentar a praia de Ipanema – a um quarteirão da sua casa -, encontrar os amigos e sair para jantar.

Só não marca compromisso nas noites de quarta e quinta-feira: os dias são reservados para assistir aos jogos da rodada. Ainda conserva o hábito de ler quatro jornais por dia e assistir a esportes na televisão, especialmente futebol e vôlei feminino, que "tem menos pancada e mais malícia".

SONO DE MADRUGADA

Então de repente você começa a trabalhar às 3h da manhã. Quem não está acostumado, não aguenta

Apesar da vida tranquila, Noronha guarda uma frustração: o desejo de voltar a trabalhar, de preferência como comentarista esportivo, porque 'não teria mais pique para ser chefe de jornal'. Do alto de seus 80 anos, se vê sem oportunidades após seu último trabalho na TV Bandeirantes.

"A renovação é inevitável. E na renovação sobram os mais velhos. É normal.  Na televisão as pessoas têm grupos, e os meus grupos já faleceram, como Armando Nogueira, que era meu amigo. Mudou tudo, tudo. Na Bandeirantes tive um contrato de um ano, mas não quiseram renovar", diz.

Noronha passou por dezenas de jornais, revistas e rádios, mas enche a boca é para falar da televisão. Um 'mundo de sonhos' que o fez conviver com gente poderosa como o ex-vice presidente global José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, virar amigo de Galvão Bueno e conhecer a fama que o acompanha até hoje.

Quem é o melhor comentarista da TV esportiva? VOTE NA ENQUETE DO UOL

"A televisão satisfaz seu ego, sua vaidade, você passa a ser conhecido na rua, todo mundo te conhece. Mesmo quem não gosta de você não tem coragem de dizer. A fama preenche a vaidade de qualquer um. E quem não é vaidoso?  Quem não gosta de ser reconhecido, de chegar a um restaurante e procurarem a melhor mesa para você?", filosofa ele, que diz ainda ser reconhecido nas ruas.

"Eu moro em Ipanema e aqui tem muito turista. Eles tiram fotografia, perguntam várias coisas: 'E o Flamengo, vai ou não vai?', 'Você tem que meter o pau no Vanderlei Luxemburgo'. Nem sempre o que dizem é a minha opinião. Então eu acho graça".

As aparições na televisão o fizeram ser conhecido, mas também expuseram suas falhas e escancararam suas gafes. O comentarista ficou marcado por aparecer no ar cochilando ao ser chamado pelo apresentador Luís Roberto, durante um programa na Copa do Mundo de 2002.

Noronha tem dificuldades para lembrar do episódio, mas se justifica dizendo que o programa era de madrugada por causa do fuso horário da Coreia do Sul e do Japão.

"Não lembro, mas não estou dizendo que não aconteceu. Pode ter acontecido. Sabe o que é? Esses trabalhos de madrugada mudam sua rotina de repente, você não passa por um processo de adaptação, surge um evento e você precisa mudar a hora de dormir, de comer, de fazer a barba, de acordar".

"Então de repente você começa a trabalhar às 3h da manhã. Quem não está acostumado, não aguenta. Foi no estúdio? Acho que estou me lembrando, pode ter sido isso. Deve ter sido isso. Não estou acostumado a fazer programa de madrugada. Mas nunca tive a pretensão de ser perfeito".

Mesmo com as dificuldades, Noronha faz declarações de amor ao jornalismo, uma profissão cheia de 'riscos, saídas, subidas e descidas'. Ele é a prova disso. Começou a carreira como office boy na revista "O Cruzeiro", em 1954, e se tornou repórter quando a revista passou por uma reformulação. Chefiou várias redações, mas também foi demitido outras tantas.

Viveu o período mais difícil quando era secretário de redação do "Jornal do Brasil" e enfrentou a censura da ditadura militar. Teve que conviver diariamente com a presença de censores armados que fiscalizavam as edições do jornal antes da impressão.

"O jornal era ativo na briga contra a ditadura. E ficavam os censores dentro do jornal, todos uniformizados, eles tinham que ler o jornal antes ir para a gráfica. Na queda do Salvador Allende (presidente chileno que foi deposto por um golpe de estado em 1973), o coronel falou que era proibido dar na manchete. Demos a capa só em texto e sem título. Mas chamou muito mais atenção. No dia seguinte chegaram lá armados com pistola", conta.

Mas também tiveram momentos bons. Ele se orgulha de ter convivido com pessoas como Armando Nogueira, Boni e Galvão Bueno, de quem ficou amigo na Copa de 1982, na Espanha. "O Galvão era metido a piloto de automóvel, só queria andar de carro. Ficamos muito amigos".

Das suas lembranças, só diz não gostar de uma coisa. O apelido de 'Seu Nonô', recebido quando trabalhava na Rádio Globo, segundo ele, para agradar a classe C. "Parece nome de mestre de bateria de escola de samba".

Por Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.