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Ricci vê árbitros sem experiência e recorda primeiro contato com o VAR

UOL Esporte

16/04/2019 17h25

As primeiras atuações do árbitro de vídeo já renderam muitos debates nos programas esportivos. Entre pedidos por mais agilidade nas análises e maior transparência, os comentaristas tentam se acostumar com a novidade.

Em participação no Seleção SporTV de hoje, o comentarista de arbitragem Sandro Meira Ricci falou sobre as primeiras experiências do VAR. Ele recordou seu primeiro contato com a tecnologia e vê árbitros sem experiência para lidar com a tecnologia.

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"A minha primeira experiência oficial com o VAR foi na Copa das Confederações. Eu fui convocado como árbitro de vídeo e eu não tinha ainda trabalhado como tal. A gente tinha passado por inúmeros treinamentos, horas e mais horas de treinamentos, simulação com jogadores dentro de campo. Uma realidade bem diferente da que eu enfrentei quando estreei na abertura da Copa do Brasil como árbitro de vídeo. Saí da sala com dor de cabeça, preocupado se eu tinha feito as revisões da maneira adequada. Foi uma experiência muito marcante. Eu sei o que os árbitros estão sentindo hoje dentro da cabine", recordou Sandro.

Para o comentarista, a CBF falhou ao não realizar testes durante o ano passado a fim de deixar os árbitros mais confortáveis com a tecnologia.

"Concordo que a CBF deveria ter aproveitado todo o ano passado, onde já havia tido a discussão sobre a implementação do VAR, para investir não só na habilitação do árbitro de vídeo, mas no treinamento contínuo durante todo o campeonato passado. Aquela experiência em que você faz tudo, mas não há comunicação efetiva com o árbitro. Esse período foi perdido", defendei Ricci, que seguiu:

"Vai começar o campeonato com os árbitros sem experiência. Operadores que foram treinados e habilitados, mas não tem muita experiência e isso gera essa demora que a gente está vendo".

O ex-árbitro contou que conversou com colegas e percebeu que eles estavam receosos quando ao uso do VAR, já que o recurso explicita erros no campo.

"Na Copa do Mundo, na Copa das Confederações e no Mundial de Clubes, a conversa no corredor era: 'Quem vai fazer o jogo de abertura?', 'Quem vai fazer a final?' e Quem vai estrear o VAR?'. Quem vai ser o primeiro a expor um erro da arbitragem? Isso era um medo. E quando começou aqui no Brasil, conversei com vários árbitros e eles também tinham esse medo. Ninguém queria ser o primeiro".

Na sequência, Ricci reforçou a necessecidade de uma 'fortaleza mental' por parte dos árbitros. Além disso, ele acredita que, com a implementação do VAR, alguns profissionais do apito devam deixar a função.

"A maior qualidade, hoje, de um árbitro de elite é a fortaleza mental. Às vezes, você não está num dia bom, mas quando você está forte mentalmente, você consegue executar a sua função. Essa é a maior qualidade de um árbitro de futebol. Para saber que errou e não compensar, que precisa rever a jogada na beira do campo", explicou.

"Eu acredito que existem árbitros que vão morrer durante esse processo. Vão ter a sua carreira interrompida. Acredito que terão árbitros que não vão se acostumar com isso, vão resistir, tentar condicionar o árbitro de vídeo a não chamar", completou.

VARdependência?

O comentarista do Grupo Globo ainda comentou sobre a espera dos árbitros pelas decisões do VAR. Para Ricci, seus colegas não devem se apoiar no recurso, mas sim apitarem como sempre fizeram. Além disso, ele defendeu intervenções pontuais do VAR nos jogos.

"Se isso acontece, é culpa do árbitro (de campo).  Quando eu cheguei na Copa do Mundo, eu trabalhei com o Danielle Orsatto e ele me disse que quando a gente tem no campo um árbitro que toma as decisões, o VAR praticamente não faz nada. Agora, quando tem um árbitro inseguro, aí ele erra", falou.

"O que precisa é um árbitro que continue apitando como sempre fez. A gente vê, principalmente no Carioca, árbitros que ficam mais tempo com a mão no ouvido do que com o apito na mão. Para controlar os jogadores, eles colocam a mão no ouvido. Isso não é para controlar jogador, mas para mostrar que está se comunicando com o VAR. Isso gera insegurança, coloca uma pressão maior no VAR. A gente precisa trabalhar com naturalidade", completou.

"Quanto mais alta tiver essa linha de intervenção, ou seja, quando o arbitro de vídeo chamar o árbitro só em erros mais claros, menos a polêmica. O que esta acontecendo é que a polêmica esta saindo do campo de jogo para a cabine", concluiu.

Demora e irritação da torcida

Sandro Meira Ricci ainda falou sobre recorrente reclamação sobre a demora do VAR na análise dos lances. Para ele, a inexperiência dos árbitros é um dos motivos, assim como a checagem insistente.

"Demora muito primeiro pela inexperiência dos árbitros em trabalharem nessa função. Ele não pode errar e isso gera uma pressão maior. Muitas vezes acontece de você querer rever o lance, algo que já é claro, e você fazer confusão. Esse processo é de aprendizagem. A gente tem que criticar que deveria ter preparado melhor para chegar no Brasileiro e nas finais do Estadual e ter árbitros experientes", argumentou.

Ricci ainda defendeu maior clareza em relação ao VAR tanto dentro dos estádios, quando à comunicação.  "O certo seria mostrar, depois da decisão do árbitro, qual imagem ele usou para tomar aquela decisão. E a demora também está irritando o torcedor (…) Eu defendo que as gravações sejam publicas. Nada que é dito ali é proibido".

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