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Burti conta como foi difícil se meter no meio do 'casal' Galvão e Reginaldo

UOL Esporte

21/03/2014 06h00


Uma das parcerias mais longevas da TV brasileira é a formada por Galvão Bueno e Reginaldo Leme, que trabalham juntos desde 1975 e há mais de três décadas lideram as transmissões de Fórmula 1 na Globo. Há dez anos, um estranho foi colocado no meio do "casal". Era Luciano Burti, jovem ex-piloto da categoria que teve de encarar o desafio de estrear como comentarista com o desafio de não pisar nos calos dos "chefes" e ao mesmo tempo encontrar seu espaço entre eles.

Hoje, Burti tem sua posição consolidada, faz revezamento nos comentários com Reginaldo e Rubens Barrichello e encontrou um estilo próprio. Quando o assunto é técnico ou surgem os áudios de conversas entre equipes e pilotos, é ele quem dá a visão de quem esteve dentro do carro em corridas e testes. Mas nem sempre foi assim.

Qual é seu comentarista preferido nas transmissões de F1 da Globo?

Burti admite que penou e precisou de muito esforço nos dois primeiros anos para superar as dificuldades de iniciar uma nova carreira e principalmente a de achar seu espaço entre Galvão e Reginaldo, mostrando ao mesmo tempo que tinha talento para estar naquele posto e que não estava atuando para "puxar o tapete" de ninguém.

"Entrar no meio do Galvão e do Reginaldo foi difícil, conquistar um espaço foi muito difícil. Ouvir de casa e fazer uma crítica é fácil, mas estar lá e fazer é complicado. Não é só sentar lá e falar", afirmou Burti.

O primeiro desafio sempre foi não atrapalhar a dinâmica dos companheiros. "Eu vejo (Galvão e Reginaldo) como um casal, é como marido e mulher mesmo, que tem uma relação com conflitos, que vivem como se fosse uma família e que se entendem do jeito deles. Quando comecei, precisava entrar sem atrapalhar uma relação que já existe, me encaixar para somar e não tomar o espaço ou pisar no calo de ninguém. Tive de mostrar jogo cintura e eles me apoiaram", conta Burti.

Apesar do apoio, Burti admite que o veterano Reginaldo Leme precisou de mais tempo para crer que não estava com os dias contados em sua posição.

"Eu fui muito bem acolhido, principalmente no início, com o Galvão. Com o Reginaldo levou mais tempo para a gente se entrosar. Ele não sabia se eu estava chegando para roubar um espaço. No começo tive que conquistá-lo, mas depois dos dois primeiros anos a gente construiu uma relação de grande amizade", detalhou ele.

Para Burti, o desafio era achar o seu tempo certo para falar no meio da dupla. Foi assim que ele acabou se destacando pelos comentários mais técnicos, mas sempre didáticos. Na preparação, o piloto fez muitas sessões de fonoaudiologia – e ainda o faz – e por um bom tempo assistiu em detalhes todas as transmissões das quais participou para fazer uma análise do que poderia melhorar.

Hoje o trio de comentaristas parece ter encontrado o ponto certo para trabalhar junto. Mas vale lembrar que em 2013, quando a Globo passou a ter um rodízio, com Leme, Burti e Barrichello trabalhando aos pares – e portanto deixando um de fora por fim de semana de GP – Reginaldo Leme não escondeu o descontentamento. Ele ficou fora de uma transmissão pela primeira vez em mais de 20 anos quando não foi escalado para o GP da Espanha (leia mais aqui).

Galvão, o comandante da nau

Se o desafio de Burti já era grande em se encontrar como comentarista ao lado de Reginaldo, o fato de Galvão Bueno ser conhecido por "falar pelos cotovelos" tem sempre seu lado positivo e negativo. Mas o piloto é só elogios e viu vantagem nisso.

Como o narrador assume o papel de maestro, o comandante da transmissão, isso lhe deu pistas de como atuar.

"O Galvão realmente comanda tudo, e faz tudo muito bem. Tem que diga que ele fale de mais, ou fale de menos… Mas assumir a posição que ele assume, saber comunicar ao público o que ele precisa ouvir e conseguir dividir a transmissão com os comentaristas é difícil. Ele faz como ninguém. Ele tem essa missão de dominar o espaço e isso nunca causou problemas, pelo contrário", explicou Burti.

Depois de desbravar o caminho, o piloto da Stock Car ganhou um companheiro ex-piloto no ano passado, com Rubens Barrichello passando a fazer parte do time. Rubinho ainda adicionou um toque de espontaneidade com suas idas ao grid antes da largada, arrancando frases e declarações de pilotos e dirigentes no calor do momento.

"Esse papel existe nas transmissões da Europa há muito tempo e sempre funcionou bem. Como ele está no ambiente que conhece, foi natural que funcionasse bem", concluiu o piloto e comentarista.

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

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