Processado por criticar Danilo Gentili, José Trajano discorda de prisão
(Crédito: Lucas Lima/UOL)
Antes de ser condenado à prisão por injúria, o humorista Danilo Gentili abriu uma queixa-crime pela mesma infração contra o jornalista José Trajano. Em 2016, Gentili se disse atacado em sua honra após Trajano afirmar ao vivo na ESPN que o humorista fazia apologia ao estupro.
Trajano acabou sendo absolvido em duas instâncias. Três anos depois, o jornalista evitou celebrar a condenação de Gentili, em processo movido contra ele pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), apesar de "sentir nojo" do humorista. A polêmica sobre a condenação moveu humoristas, juristas e público na última semana.
"Eu gostaria de vê-lo condenado, mas não na cadeia e sim cumprindo penas alternativas, capinando um terreno, trabalhando em um orfanato, em um asilo, trabalhando de verdade", afirmou o jornalista, que classificou como "cruéis" as ofensas contra Rosário. "Eu sei que tem gente vibrando, mas, por mais que eu discorde e sinta nojo dele, prisão é um pouco demais."
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O processo que o apresentador do "The Noite", do SBT, moveu contra Trajano foi consequência de uma crítica feita à ESPN, que convidara Gentili a participar de uma edição do "Bate-Bola". "O canal abrigou esta semana um personagem engraçadinho, que se porta como um sujeito que faz apologia do estupro. Em nome do humor, dizendo que no humor cabe tudo", afirmara o jornalista na ocasião.
Naquela semana, tinha vindo a público um tuíte antigo do humorista no qual ele chamava de "gênio" um homem que espera uma mulher ficar bêbada para fazer sexo com ela. O humorista considerou as palavras de Trajano ofensivas e criminosas, uma tentativa de "moer" sua reputação.
O crime de injúria tem como pena máxima até três anos de prisão, mas a reclamação foi afastada pela Justiça. Segundo a decisão do juiz José Zoéga Coelho, do Juizado Especial Criminal, quando o humorista "delibera tomar valores sensíveis da sociedade contemporânea como tema de suas manifestações, põe-se voluntariamente em terreno aberto para críticas – que então não pode estranhar."
Segundo Trajano, sua demissão da ESPN teve relação com o episódio, já que a emissora não teria gostado de ver uma crítica pública à produção do "Bate-Bola". O jornalista é um dos fundadores da ESPN no Brasil. "Eles alegaram corte de custo, mas é papo furado. Ficou bastante óbvio que a solidariedade ao Danilo se somou a um desgaste por minhas posições políticas e isso contribuiu com o corte do meu contrato", afirmou.
Em um texto publicado no Facebook em 2016, o apresentador justificava sua indignação: "O militante petista Trajano, usando seu distintivo de jornalista, ontem me acusou na televisão de um crime que jamais cometi (e com certeza jamais cometeria). Ao contrário do que esse povo diz, eu não acho que todo homem é um estuprador em potencial, pois eu sou homem e abomino o estupro."
Segundo o site "The Intercept Brasil" o humorista também processou criminalmente outra jornalista que o acusou de incentivar a cultura do estupro por causa da postagem no Twitter, mas também perdeu. Após ser condenado no caso de Maria do Rosário, Gentili passou a criticar tentativas de cercear sua liberdade de expressão e recebeu a solidariedade de figuras públicas dos dois lados do espectro político.
Procurado, Gentili não retornou aos pedidos de comentários até a publicação desta reportagem.
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