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Narrador da Fox abraça estilo "visceral" e não foge nem de treta

UOL Esporte

23/11/2018 04h00

Narrador é uma das principais vozes do Fox Sports desde 2012 (Foto: Bob Paulino/Fox Sports)

Marco de Vargas se define como um "narrador raiz". Aos 45 anos, ele é uma das principais vozes dos canais Fox Sports desde seu lançamento no Brasil, em 2012, e cada vez mais abraça um estilo de locução que gosta de chamar de "visceral". É ele o criador de frases emblemáticas em transmissões, do tipo "se existe algo para ser copado pode esperar que o Grêmio vai copar", "você é o cara, Victor", "o clube com a alma mais copeira desse país", "camisa que só guindaste consegue erguer", entre várias outras. Também é o dono de um bordões mais conhecidos da atualidade": "É rede!".

O tal estilo visceral não é exclusividade da tela da TV ou dos dispositivos móveis, onde ele faz transmissões. Nas redes sociais é igualzinho. No último domingo, por exemplo, ele narrou a classificação da Votuporanguense à final da Copa Paulista e depois postou o seguinte no Twitter: "Pode ser em Buenos Aires, Londres, no Saara, em Marte, no campo careca da várzea ou em Votuporanga: narrador raiz vai lá e dá o recado sempre com a mesma paixão…".

Chamado por seus seguidores na internet de "Tio Marco", o narrador se diverte com as interações, exalta elementos tradicionais do futebol, relembra narrações antigas ou momentos marcantes, como quando narrou concurso de beleza no Rio Grande do Sul, divulga o trabalho e responde até provocação. Nos últimos meses, alguns fãs do narrador Gustavo Villani, ex-Fox Sports e hoje no Grupo Globo, agitaram uma comparação entre ele e Marco De Vargas, porque os dois narraram para seus canais os mesmos jogos do Grêmio na Libertadores. O profissional da Fox, que chegou a twittar que "sou muito mais eu" do que Villani, mas não fala especificamente sobre a treta virtual, diz que autenticidade é o que busca na web.

"Gosto da rede (afinal, é rede!), pois a utilizo como instrumento para exercitar algumas ideias e conceitos, além de ser uma grande diversão para o Tio Marco. Não me levo tão a sério e consigo transitar com leveza pela rede. É claro que isso não aconteceu da noite para o dia, houve um processo de amadurecimento até chegar ao atual estágio em que me encontro bastante seguro para tentar ser eu mesmo na maior parte do tempo, buscando justamente mostrar que, embora os tempos sejam outros, acredito que, quanto maior é a sua autenticidade, mais você se afirma enquanto ser humano", diz, ao UOL Esporte.

Bordão nasceu para evitar confusão

Tradicionais entre as décadas de 1970 e 90, os bordões em transmissões esportivas voltaram à moda. Marco de Vargas, identificado com a repetição do termo "É rede!" antes do longo grito de gol, criou a marca há anos para não ser confundido com um colega do SporTV/Premiere, onde trabalhou antes da Fox: "Pensei numa forma de tentar me diferenciar através de uma marca pessoal e testei no ar algumas frases por meses, tipo: "tá na rede!", "rede!", "foi pra rede!" e, o definitivo, "é rede!". Acabei gostando do resultado da última, o público assimilou e não só adotei como registrei a frase como marca."

Quanto às frases marcantes nas transmissões, o narrador aposta na espontaneidade. "Confesso que no passado tentava elaborar coisas do gênero e sempre esbarrava num entrave: o jogo acabava não proporcionando brechas, não conseguia usar nada e era uma energia inútil desperdiçada com isso. Então decidi partir para o improviso, confiar no taco e na bagagem cultural. E aí começaram a surgir nas transmissões frases", diz Marco de Vargas, que já citou trechos de poemas, músicas, filmes, seriados e até animações referentes aos times. "Tudo de improviso, no calor do momento e de acordo com a vibe da transmissão", conta.

O resultado de tudo isso é que Marco tenta atingir uma "identidade única" no trabalho: "Nos tempos de rádio achava minha voz monótona devido ao grave e tentava trabalhar em busca de mais médios e agudos, tons mais altos, à procura de um dinamismo que julgava tornar minha locução mais atrativa. Com o tempo, já trabalhando em televisão, aceitei que não tinha como modificar a própria natureza e assumi meu timbre natural. Ao fazer isso, passei a buscar um ritmo que pudesse casar com a voz e acabei por encontrar a minha própria fórmula de fazer a coisa fluir com naturalidade. O que sempre me motivou e motiva a evoluir é a busca por uma identidade própria."

Passa pela identidade própria justamente o estilo "visceral" nas transmissões esportivas.

"Costumo dizer que transmito jogos dessa natureza com alma e paixão e, empunhando um microfone, me sinto como um guerreiro espartano feroz com sua espada na mão, sempre pronto para enfrentar o pior dos inimigos. Tenho por hábito colocar um pouco de mim mesmo, da minha essência, em tudo que me proponho a fazer e, como ariano com ascendente em escorpião, sou guerreiro por natureza e as batalhas me motivam. Encaro tais transmissões como batalhas a serem vencidas e dessa forma aproveito a atmosfera que esses jogos proporcionam como uma arma motivacional a meu favor. Com um tipo de narração visceral como o meu, muitos podem amar e outros tantos vão detestar."

Gabriel Carneiro
Do UOL, em São Paulo

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