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Bordões famosos marcaram época. Agora, ter um próprio voltou à moda da TV

UOL Esporte

29/09/2018 04h00

O narrador Rômulo Mendonça, da ESPN (Crédito: Divulgação)

"Olho no lance", "pimba na gorduchinha", "ripa na chulipa". Todos são bordões famosos de Silvio Luiz e Osmar Santos entre as décadas  de 70 e 90, tempo em que as frases repetidas em uma transmissão esportiva apareciam à exaustão e viravam marcas registradas de seus famosos narradores.

Isso nunca deixou o DNA do narrador esportivo, mas hoje em dia estão mais na moda que nunca. Fazem sucesso e até ficam nos assuntos mais comentados do Twitter quando são pronunciados pela primeira vez.

Rômulo Mendonça ganhou destaque em suas narrações da NBA na ESPN principalmente pelos bordões envolvendo lances de jogo, com LeBron James como personagem. "LeBron ladrão, roubou meu coração" foi um dos mais repercutidos (inclusive nos Estados Unidos).

"Para mim, uma transmissão esportiva em 2018 tem que ter humor e ultrapassar os limites de uma simples descrição esportiva. Minha inspiração é mais em tentar fazer diferente sem deixar de informar e dar emoção", disse Rômulo Mendonça em entrevista ao UOL.

Rômulo também ressalta que o estilo com bordões atrai o público mais jovem. "Acho curioso o aumento de uso de bordões na TV e acredito que minhas transmissões de vôlei na Rio-2016 chamaram a atenção para necessidade de buscar um estilo menos formal nesses tempos em que o pessoal mais jovem busca mais YouTube do que TV. Não sei a exata intensidade da minha responsabilidade nisso, mas foi um trabalho marcante e sempre lembrado".

Crédito: Divulgão

E quem mais respeitado no mundo dos bordões que Silvio Luiz para falar como é ser reconhecido por uma expressão que solta durante uma transmissão esportiva? "Vem na minha cabeça e eu falo. Eu não tenho um departamento de criação. Eu nunca pensei pra fazer. As pessoas que me encontram pedem para gravar bordão para amigo, para mulher, para ficar como caixa postal", contou Silvio.

Os grandes eventos esportivos são fábricas para novos bordões. O termo "negros maravilhosos" de Luis Roberto, que começou como uma gafe e virou destaque, ganhou a companhia do "Sabe de Kane?" na última Copa do Mundo. "O 'sabe de Kane?' foi inspirado pelos internautas. Muita gente brincou com isso antes do jogo. E quando o Harry Kane fez o gol de pênalti sobre a Colômbia, rolou.  Soltei o bordão e o pessoal curtiu. Os bordões servem para dar uma pitada de bom humor, de descontração para a transmissão", comentou o narrador da Globo em entrevista ao UOL em junho.

Locutor esportivo e irmão de Osmar Santos, Oscar Ulisses, da Rádio Globo, contou que no início da carreira era tímido em criar bordões. "Eu ficava meio tímido, mas depois passei a usar mais. Vai ficando mais fácil de usar, porque fica mais confiante", comentou o dono do bordão "pro goooool".

"Eu não gosto quando é forçado. Na transmissão esportiva, o trabalho a fazer é relatar o jogo para contar, pontuar a transmissão. O essencial é contar o jogo e narrar, relatar da maneira mais fiel, essa é a primeira preocupação. A partir daí, quando estiver dominado, fica mais natural o uso", explicou Oscar, que ainda lembrou como o irmão Osmar criou dois famosos bordões.

"O Osmar, especialmente, era meio pescador de bordões na vida. 'Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha'. Por coincidência, eu estava perto dele nos anos 70 e tinha um rapaz que tomou umas e outras e ficava gesticulando e falava: pimba ou ripa. E eu lembro que aquilo provocou um certo cansaço na gente. Um ou dois domingos depois, está lá o Osmar falando. Ele gostava muito de contato com movimentos. Nas festas, ele ficava voltado para as coisas que eram ditas. Às vezes, era por um livro, o 'animal' que ele costumava usar com jogadores quando iam bem foi de um filme", relatou.

Para Marcelo Nascimento, docente da área de rádio do Senac São Paulo, a invasão de bordões na TV e o sucesso nas redes sociais criam uma nova necessidade no mercado de narradores. "Eu acho que é uma demanda de mercado. Se pensar nos primórdios de rádio, a função era descrever, aquela coisa mais acelerada. Depois, a narração do rádio começa a descrever a atmosfera. TV tem imagem e não apenas se descreve. O narrador cria hipóteses que o cara vai fazer e compartilha com o espectador. O formato sobreviveu por muito tempo. E aí muda tudo. No momento em que o cara falou, o espectador reage e é imediato. Conectado em audiência", analisa.

O professor também destaca a repercussão das falas dos narradores nas redes sociais. Os narradores acabam virando meme. "O público se mobiliza rapidamente para tirar onda com as situações do jogo e o narrador. 'Cala boca, Galvão', de 2010, começou com a hashtag e tomou proporção grande. Mostra o poder para criar esse meme".

Karla Torralba
Do UOL, em São Paulo

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