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Em nome do jornalismo, André Rizek já foi gogo boy e vendeu vibrador

UOL Esporte

22/07/2015 06h00

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André Rizek diz que é um cara chorão, mas também podia se declarar um sujeito bem-humorado. O apresentador do Sportv contou boas e engraçadas histórias como nos tempos em que trabalhou na Playboy. Durante os três anos na revista, o jornalista se fantasiou de gogo boy e foi vendedor de sex shop.

Mas o profissional que esperava escrever ensaios profundos na imprensa foi parar no Redação Sportv depois de uma carreira no esporte marcada pela reportagem que denuncia a Máfia do Apito, publicada pela revista Veja, em 2005. Rizek chegou a ser reconhecido por lixeiros, tem 726 mil seguidores no Twitter e nem assim se considera uma das caras da emissora.

UOL Esporte – Qual o evento que te deu mais prazer em cobrir e por quê?
André Rizek – Os eventos que me deram mais prazer foram as matérias da Playboy, claro! Mas, falando sério, a Copa de 98 pelo Lance! Foi demais… Eu tinha 23 anos e foi tão emocionante que, no meu primeiro jogo, Marrocos x Noruega, em Montpellier, chorei demais, muito mesmo, chorava copiosamente por estar lá, numa Copa! Sou meio chorão…

UOL Esporte – Qual é o seu esportista favorito?
Rizek – Dos esportistas, sou fanático pelo Muhammad Ali, pelo que ele representou, pelo que é. Tenho uma 'fotaça' dele, em preto e branco, que virou pôster na parede da sala da minha casa.

UOL Esporte – Você mencionou a Playboy. Os seus dias na revista foram divertidos?
Rizek – Fiz muita coisa divertida lá. Trabalhei três anos na revista e virei uma espécie de repórter gonzo, que vira personagem das matérias. Então eu trabalhei, anônimo, num sex shop por oito dias, vendendo muito estimulador de clitóris por controle remoto, era o que eu mais vendia! Também anônimo, fui ao Encontro Nacional dos Swingers, em BH. Até gogo boy por um dia eu fui. Era um curso de sexo para mulheres, que ensinava como elas (mulheres mais ricas) poderiam dar mais prazer aos maridos. Ensinava a fazer um bom strip tease, colocar camisinha com a boca… Os gogo boys serviam para estes testes, digamos, práticos. E eu fui, porque a diretora (Cynthia de Almeida) queria essa pauta de qualquer maneira e combinamos com a professora de eu estar lá. Como gogo boy… Meu desempenho, obviamente, foi uma tragédia. Mas a matéria ficou legal!

UOL Esporte – Você é considerado uma das caras do Sportv. Isso assusta? Envaidece? Um pouco dos dois? Caso não concorde com essa afirmação, quem para você é a cara do Sportv?
Rizek – Olha… Qualquer pessoa que apresentar o Redação e o Troca de Passes será uma das caras do Sportv. Tem mais a ver com a força desses programas do que com o jornalista. Mas os nomes de maior expressão, pela audiência que os eventos têm no canal, e a competência deles, claro, são o Milton Leite e o Luiz Carlos Junior, sem dúvida. O Luiz está aqui desde que o canal foi lançado.

UOL Esporte – Existe alguém na emissora por quem você tenha muita gratidão?
Rizek – Para mim "o cara" será sempre Jota Junior. Não apenas pela elegância e precisão com que narra qualquer esporte. O Jota é a pessoa mais correta e generosa que conheci nesse meio tão competitivo. Minha primeira transmissão no canal foi um Santos x Cruzeiro. Só isso… Eu tremia de tão nervoso que estava. Nunca tinha comentado um jogo. E o Jota, apesar de todo o nome que tem, não se importou um guiar um moleque, que não sabia nada, o jogo todo. O Jota é um cara único.

UOL Esporte – Como você foi parar na televisão?
Rizek – Fui parar na TV por acaso. Nunca tinha pensado nisso, pelo contrário. Eu gostava de escrever, fazer reportagens especiais, e quando estava na Editora Abril (Rizek trabalhou na empresa entre 2001 e 2009), acreditava que fazer revista era a coisa mais legal do mundo. Em 2005, fiz a matéria da "Máfia do Apito" na Veja, em coautoria com a jornalista Thais Oyama. E aí me chamaram para falar dela, veja que coincidência, no Redação, à época apresentado pelo Luis Roberto. Eu fui, foi legal e logo na saída me convidaram para fazer participações no canal, em programas, comentar um jogo aqui e ali.

UOL Esporte – Você sempre foi espontâneo e desinibido na frente das câmeras?
Rizek – Quem vai gostar de ler essa pergunta é a fonoaudióloga da Globo, a Deborah Feijó… Ela é craque. Nunca me achei espontâneo e muito menos desinibido. Eu era péssimo, todo travado. Não via a menor importância em ser simpático no vídeo. Pelo contrário. Achava que o importante era a notícia e me esforçava para ser "incolor". A Deborah teve que fazer um trabalho comigo, porque também tenho dificuldade de me assistir no vídeo (até hoje). E a Deborah fez um trabalho para que eu observasse minhas expressões, meu gestual. Aquilo também era comunicação com o público. Muitas vezes minha expressão poderia passar uma mensagem diferente do conteúdo que eu estava transmitindo. E aí eu melhorei muito, relaxei, passei a me divertir também. Eu era péssimo no começo como apresentador.

UOL Esporte – Por que você acha que tem tantos seguidores no Twitter? Com que frequência gosta de postar?
Rizek – Não tenho a menor ideia, uma loucura. Bom, a coisa mais óbvia é a exposição do Sportv. Qualquer pessoa no meu lugar tem grande exposição. Mas o curioso é que abri a conta no Twitter em 2010 porque um amigo me convenceu, durante a Copa, que era uma boa maneira de conhecer mulheres… Nunca saí com ninguém por causa do Twitter… Mas ganhei uma ferramenta que me diverte. Posto sempre que tenho vontade de dizer alguma coisa, de compartilhar algo, sobre qualquer assunto, não apenas esporte. Assunto de interesse geral, não acho que minha rotina interesse aos outros então dela não falo (muito) no twitter.

UOL Esporte – Já ficou irritado com algum comentário sobre você no Twitter, ou com alguma resposta?
Rizek – Claro que já fiquei! Muitas vezes. Mas com o tempo fui aprendendo a lidar com isso. Muitas pessoas, como meus amigos Lédio Carmona e Marcelo Barreto, não têm estômago e por isso saíram do Twitter. Eu entendo. Tem muita gente que só vai para a rede social ofender, xingar, tentar desequilibrar os outros. Brinco com o Barreto aqui na redação: "Pronto, acabei o trabalho, agora vou ali dar uma relaxada lendo os caras me xingar". Gosto de responder com bom humor. O cara que xinga muitas vezes muda a postura com uma resposta engraçada. Pelo menos eu tento…

UOL Esporte – Houve alguma reação que considerou exagerada por parte dos espectadores?
Rizek – Às vezes os caras viajam. Uma vez teve uma criança que descobriu meu itinerário aqui no Rio, meus hábitos, por onde eu circulo etc. E convocou torcedores do time dele a me pegar. Achei o moleque no Facebook e, como ele tinha menos de 15 anos, achei a mãe também. Escrevi para ela, sobre a bobagem que o filho estava fazendo por causa de… futebol.

UOL Esporte – Você era daquelas crianças e adolescentes que sabiam tudo de esportes e se preparou para ser repórter esportivo ou a vida te levou para esta carreira?
Rizek – Sempre fui fanático por futebol, desde moleque. Minha mãe ficava maluca porque eu não queria saber de nada quando tinha futebol na TV. Eu grudava na frente da tela e via qualquer jogo, principalmente se tivesse o Silvio Luiz, meu ídolo, como narrador. Minha família, classe média, não queria que eu cursasse jornalismo. Lembro do meu pai dizendo que eu ia morrer de fome… Meu sonho, quando escolhi o jornalismo, era ser uma espécie de intelectual da imprensa, escrever longos ensaios em revista de cultura, essas coisas metidas a besta. Obviamente deu errado! Não tenho cultura e nem talento para isso.

UOL Esporte – E como foi parar na editoria de esporte?
Rizek – Fui parar em esportes por acaso. A página em que eu trabalhava, como estagiário no Jornal da Tarde, fechou, no caderno de cultura. E pintou uma vaga, remunerada, em esportes, para fazer tabelas. Era 1994. Eu fui, mas chorei de desespero (sou chorão, já disse). Eu olhava os caras que seriam meus futuros colegas – e amigos – e não queria ser como eles. Vendo com o olhar de hoje, fui ridículo, pois isso corre na minha veia! Aí, um dia, o repórter que cobria Corinthians (Arthur Almeida) teve um problema de saúde e eu era a única pessoa disponível para fazer um jogo, acho que contra o Mogi Mirim, no Parque São Jorge. Lembro que o Marques fez três gols e voltei com uma boa história. Gostaram. Passei a cobrir o clube e, com 19 anos, estava contratado como repórter de esportes do JT. Ali foi minha verdadeira faculdade de jornalismo.

UOL Esporte – Você vai a jogo de futebol quando não está trabalhando? Aliás, você tem dia de folga? Parece estar todos os dias na TV…
Rizek – Claro que vou a jogo! Só trabalha com isso quem é apaixonado por futebol. Mas a rotina, como qualquer uma, cansa… Tem dia que nem eu me aguento mais. Nossa escala nem é das mais cruéis. Folgo um dia por semana, sábado ou domingo. Folgo entre aspas, porque a gente sempre fica ligado em jogo, no noticiário. Quando tenho um fim de semana livre, uso para me esconder do mundo, num barraco no meio do mato que eu tenho, sem TV, telefone, internet, nada. Para trabalhar nessa vida, tem que gostar muito de esportes e de jornalismo.

UOL Esporte – O que você sente quando é reconhecido na rua?
Rizek – Acho, na maior parte das vezes, divertido. Mostra o quanto as pessoas gostam de futebol. Elas ficam indignadas, por exemplo, se você critica a atuação do time delas e vêm te cobrar. Mas talvez não tomem a iniciativa de ir cobrar um deputado corrupto… Isso é muito louco. A história mais legal de ser reconhecido foi quando estava saindo do cinema e uns garis desceram do caminhão de lixo para falar do Redação. Foi muito legal!

UOL Esporte – Você confia em José Maria Marin e Marco Polo Del Nero?
Rizek – Não confio em ninguém que dedique uma vida a ser dirigente de futebol neste país.

UOL Esporte – Se pudesse, o que você mudaria na gestão do futebol brasileiro?
Rizek – Não gosta de dizer o que eu faria, porque não sou gestor. Jornalista não sabe de nada, mas acha quem sabe. Não tenho experiência como gestor… O primeiro passo, óbvio, é reconhecer que estamos muito mal e buscar quais experiências bem sucedidas, no mundo, podem ser aplicadas aqui. Tem que ter gente capacitada para fazer isso. Mas como analista, palpiteiro e torcedor da Seleção eu quero dar uma sugestão, para amanhã. Junta todos os patrocinadores da CBF e diz que o momento é de fazer sacrifícios para recuperar o pouco de dignidade que resta à Seleção. E ninguém melhor para defendê-la, neste momento, que Pep Guardiola. Gasta dinheiro, traz o cara, cria uma agenda positiva para a camisa (ainda) mais vitoriosa do planeta. Deixar do jeito que está, que é o que vai acontecer, é manter a deprê pós 10 a 1 (Rizek somou aqui a semifinal perdida por 7 a 1 para a Alemanha e a derrota na decisão pelo terceiro lugar, para a Holanda, por 3 a 0). Não dá para aceitar que o Chile, com todo o respeito, tenha um técnico melhor do que o Brasil, melhor do que a Argentina. Vai buscar o que tem de melhor, pô! E deixa esse papo jeca de "nosso técnico tem que ser brasileiro" para trás.

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