Da seleção de vôlei para a novela das 21h: a trajetória de Lica Oliveira
Se você perguntasse a Eliani de Oliveira aos 20 anos o que ela imaginava que estaria fazendo hoje, aos 44, certamente não teria como resposta: "vou ser uma atriz na novela das 21h da Globo". Naquela época, ela estava em outro mundo, o do esporte. Atualmente ela é conhecida por Lica Oliveira e vive a personagem Dulce no folhetim "Em Família", engatando mais uma carreira em uma vida em que já foi jogadora de vôlei olímpica, jornalista, apresentadora e agora atriz.
Lica, de 1,77 m, seria uma baixinha nas quadras hoje se quisesse voltar a jogar de central para encarar outras colegas de posição. Mas, numa época em que o vôlei evoluía de sua fase amadora para a profissional que se vê hoje, a carioca se deu muito bem. Conviveu com estrelas como Ana Moser, Fernanda Venturini e Fofão, jogou duas Olimpíadas e até atuou e morou na Itália, ainda sem fazer ideia de que sua vida lhe reservaria outras tantas voltas.
"Eu sou muito grata pelas oportunidades. No vôlei eu vivi tudo que podia como jogadora. Fui a duas Olimpíadas, morei fora, onde tive meu filho, e fechei um ciclo muito interessante. O jornalismo é algo que estava muito a fim de fazer, e cheguei na televisão, assim como queria. E a teledramaturgia – que eu achava que nem teria mais chance de fazer com minha idade -, foi uma benção e estou muito feliz de viver isso", conta ela.
O começo: vôlei
Lica Oliveira nasceu no Rio de Janeiro e tentou um pouco de tudo. Chegou a se testar no atletismo, mas não competiu. Achava que não tinha porte físico para isso, mas seu tamanho acabou gerando um interesse em tentar o vôlei, ainda no colégio. O momento chave foi num torneio interno, em que ela fazia parte do time da 6ª série e se sagrou campeã sobre meninas da 8ª, inflando o ego de todas as garotas. "A turma toda saiu atrás de treinar", relembra.
Sócia de um clube, ela acabou sendo encorajada por uma amiga e também foi atrás. Aos 12 anos, já "meio altinha" para a média de suas amigas, bateu uma bola e chamou a atenção da técnica. Rapidamente foi federada e colocada para jogar um campeonato mirim. Em 1977, começava sua vida como atleta.
Três anos depois, ainda conhecida como Eliani, a carioca já estava na seleção de novos, aos 16, e quatro anos depois, recebeu a convocação para os Jogos de Los Angeles, em 1984.
Quem é ou foi sua jogadora favorita de vôlei?
Resultado parcial
Total de 37516 votos"Peguei a década de 1980 toda na seleção. Com Olimpíadas, Mundiais, Pans. Eu peguei a fase de transição do vôlei. Quando comecei era o 'paitrocínio'. Apesar de ser funcionário público, meu pai teve de bancar treinos, tênis, joelheiras… Naquela época era complicado de transmitir jogos, era o tempo da vantagem, então a partida durava três, quatro horas. Hoje evoluiu, facilitou para ser mais atrativo. Peguei um pouco da fase precária, mas não foram vacas tão magras, também tive um pouco de conforto e deu para juntar um dinheirinho – apesar de saber que a carreira era curta e uma hora ele ia acabar", contou Lica.
Ela até tentou investir em outras coisas. Começou faculdades de comércio exterior e fonoaudiologia, mas não conseguia conciliar as coisas. Acabou provando ser a melhor coisa.
Lica lista conquistas de título brasileiro (foram quatro) e as com a seleção como as mais especiais da carreira. E na lembrança ficam as festas após os títulos, algumas até engraçadas. "Certa vez, conseguimos a classificação para a Olimpíada de Seul. Na comemoração, algumas exageraram. Tínhamos que sair às 7h da manhã, rumo ao aeroporto e a comemoração foi madrugada adentro. De manhã, a gente estava tentando disfarçar para a comissão técnica, uma segurando no braço da outra. Entramos no ônibus arrumamos tudo. Mas a menina que estava pior não aguentou e vomitou. Estragou tudo! Mas é assim, uma farra. Nessa hora todo mundo vira criança", ri Lica, com as lembranças.
A trajetória foi longa, e a levou a morar na Itália com o ex-marido (com quem tem um filho). A carreira nas quadras só se encerrou em 1998, quando satisfeita e realizada com o que tinha vivido, Lica resolveu encerrar aquele capítulo.
Estagiária no jornalismo
É difícil recomeçar passados os 30 anos, mas Lica Oliveira gosta de desafios. Ela encarou um curso de jornalismo e não teve vida fácil para começar na profissão. Chegou a ser estagiária, mas logo conseguiu se estabelecer e perseguir o sonho de atuar na TV.
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A carioca esteve em dois jornais da RedeTV! – enfrentou até um tiroteio em uma cobertura por lá – e seu ápice foi quando entrou para o Esporte Espetacular, da Globo.
"Gostava da linguagem televisiva, sabia que eu queria esse ambiente. E surgiu a oportunidade de fazer um teste para o Esporte Espetacular porque a Glenda (Kozlowski) estava grávida e ia tirar um período de licença maternidade. Fui aprovada e foi interessante, eu queria muito fazer esporte, que era o que conheci a minha vida inteira". Apesar de ser um programa leve em seu formato, a coisa não foi tão fácil para ela. "Hoje talvez me sentisse mais segura… Naquela época foi pesado, porque não tinha tanta experiência."
A atriz global
Foi junto ao jornalismo que nasceu a carreira de Lica como atriz, na segunda metade dos anos 1990. Enquanto cursava a faculdade, ela visitou a Rede Globo para fazer uma matéria. E acabou confundida. Uma produtora de elenco achou que ela estava lá por conta de testes e, por precisar de alguém com seu tipo físico, a abordou. Ela acabou aprovada para fazer a Oficina de Atores e, mesmo sem uma formação em dramaturgia, passou a conciliar mais uma paixão.
Lica participou de "Viver a Vida", de Manoel Carlos, e também trabalhou com o autor em "Mulheres Apaixonadas", de 2002. Outro trabalho do que se orgulha foi sua primeira participação nas telonas, no filme "Faroeste Caboclo".
Na novela "Em Família", a personagem Dulce faz parte de um dos núcleos principais da trama, permitindo a Lica contracenar com atores como Bruna Marquezine, Julia Lemmertz e Humberto Martins.
As carreiras mudaram, mas cada fase da vida de Lica acabou deixando lições. "O vôlei me ensinou muito. É o tipo de modalidade em que você não pode errar nunca e em que você tem de saber trabalhar em equipe, depende de suas companheiras. Esse perde e ganha do vôlei é também a vida, você tem de se superar a cada dia". E é assim que a jornada improvável de Lica segue, sempre aguardando por novos desafios.
Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo
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