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Cacá Rosset fazia graça na TV. Agora ataca ‘jornalismo engraçadinho’

UOL Esporte

21/02/2014 06h00

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Crédito da foto: Mastrangelo Reino/Folha Imagem

Cacá Rosset tem o teatro como seu habitat, mas transitou na crônica esportiva por sete anos. Sua missão era introduzir linguagem bem humorada nas entediantes conversas sobre futebol. Longe da TV desde 2007, Cacá afirma se sentir constrangido com o que vê nos noticiários, rotulando de "Ditadura do Engraçado" o atual modelo de jornalismo esportivo.

O excesso de gozações e brincadeiras feitas em programas de esportes cansa o telespectador e não capta a essência do humor, opina Cacá.

"Sabe aquele cara chato que quer contar piada durante todo o casamento? É o que está acontecendo hoje com os programas de esporte na TV. Eles querem ser engraçados toda hora. São jornalistas que querem ser humoristas. É irritante e constrangedor. Às vezes você tem jornalistas bons em apuração, mas que não são humoristas. Há uma inércia na produção dos programas", critica.

"É o mesmo que pedir a um médico para que projete um foguete nuclear. Vai ser um desastre".

Embora reprove o tipo de humor usado em programas na TV, Cacá elogia Tiago Leifert, apresentador e mentor do atual formato do Globo Esporte. O "craque" Neto e Milton Neves também são avaliados positivamente.

"Considero o Tiago, assim como o Neto, dois grandes comunicadores. O Tiago tem uma aceitação enorme com o público jovem. Ele sabe ser sério e engraçado. Já o Neto é mais 'povão'.".

O ingresso de Cacá Rosset no mundo do futebol ocorreu por acaso em 2001. Começou com um convite feito por Milton Neves para participação em uma mesa-redonda na Bandeirantes. Cacá assinou contrato com a emissora paulista três meses após a primeira exibição.

Ao UOL Esporte, Cacá analisou o comportamento de ex-colegas, relembra algumas passagens pela crônica esportiva, e diz que voltaria ao noticiário esportivo caso surgisse um projeto interessante. Confira:

UOL ESPORTE – Qual a sua impressão do atual formato no jornalismo esportivo?

Cacá Rosset – Sabe aquele cara chato que quer contar piada durante todo o casamento? É o que está acontecendo hoje com os programas de esporte na TV. Eles querem ser engraçados toda hora. São jornalistas que querem ser humoristas. É irritante e constrangedor. Às vezes você tem jornalistas bons em apuração, mas que não são humoristas. Há uma inércia na produção dos programas.

UOL ESPORTE – Mas alguém se salva no noticiário esportivo?

Cacá Rosset – Sim. Tem bastante pessoas boas. Eu considero o Tiago, assim como o Neto, dois grandes comunicadores. O Tiago tem uma aceitação enorme com o público jovem. Ele sabe ser sério e engraçado. Já o Neto é mais 'povão', passa sua mensagem sem enrolação.

UOL ESPORTE – Você classifica o atual modelo do jornalismo esportivo como 'irritante, infantilizado e cheio de gracinhas'. De que forma o humor se encaixaria em um programa?

Cacá Rosset – O humor é ótimo no esporte, mas um programa tem que ter uma transição do sério para o engraçado. Temos ótimos exemplos. O Beto Hora [humorista do programa Na Geral, da Rádio Bandeirantes] faz muito bem isso. O Paulo Morsa é sério e engraçado. O pessoal da Energia 97 FM. O Debate Bola [da Record, já extinto] era um programa que foi muito bom nos primeiros anos.

UOL ESPORTE – Você virou comentarista esportivos para tornar mais cômico os temas. Como você descreve o ambiente esportivo?

Cacá Rosset – A crônica esportiva é o lugar em que mais vi egos inflados, e olha que eu estou há décadas no teatro, que é conhecido por ser um lugar de grandes vaidades. Quando se fala em crônica esportiva, não estamos falando de pessoas, mas de 'deuses' e 'semideuses'. Alguns comentaristas não permitem que haja contestação, porque se sentem acima do bem e do mal
UOL ESPORTE – Você sentiu inferiorizado ou sofreu preconceito por não ser um especialista no futebol?

Cacá Rosset – Não senti porque nunca tive pretensão de ser comentarista.

UOL ESPORTE – Você e Milton Neves simulavam enterros de clubes para ironizar uma eliminação ou rebaixamento de um time. Como o povo reagia às brincadeiras?

Cacá Rosset – 99% das pessoas levam na brincadeira. Lógico que um ou outro não gostava. Mas a gente fazia uma farra. Lembro de várias passagens bem humoradas. Eu já saí algemado e preso do programa com o Paulo Morsa, logicamente que de mentira. Outra vez apostei com o Milton Neves que o Corinthians chegaria à final da Libertadores de 2003. Se ele perdesse, iria com uniforme inteiro do Corinthians. Acabei perdendo. Eu tive de ir fantasiado de Carmen Miranda ao programa. Já levei um macaco ao programa.

UOL ESPORTE – Como você entrou nos debates esportivos?

Cacá Rosset – Eu sempre gostei de futebol. Recebi convite para uma aparição e acabei ficando. Isso durou sete anos. Eu era um olhar não especializado, com certa dose de irresponsabilidade, justamente para quebrar aquela rigidez dos programas do gênero. Futebol não é ciência exata, e quando tentam ser analítico demais, fica parecendo aula da Politécnica

UOL ESPORTE – E por que saiu?

Cacá Rosset – Eu já estava pensando em dar mais atenção à produção teatral. Até um dia que decidi sair. A Record também havia feito mudanças no esporte. Mas voltaria se fosse para algo que tivesse uma edição e projeto interessantes. Agora estou trabalhando na produção do espetáculo "Agonia e Êxtase de Steve Jobs".

Por Bruno Thadeu

Do UOL Esporte

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