Álvaro José revela narração mais difícil: "judô às cegas"
Crédito da imagem: Edu Moraes/Record/Divulgação
Narrar uma final olímpica com transmissão para todo o Brasil. Mas isso sem ao menos poder assistir ao evento, seja in loco ou numa transmissão. O desafio, que parece impossível para a maioria, foi vencido com êxito por Álvaro José. Em 1992, durante a Olimpíada de Barcelona, na Espanha, o narrador conseguiu superar as dificuldades técnicas e realizou a locução de dois combates do judoca brasileiro Rogério Sampaio no torneio sem ver nenhuma imagem da disputa.
A situação inusitada aconteceu no estádio Olímpico de Montjuic (hoje Lluís Companys) durante a transmissão dos Jogos Olímpicos pela TV Bandeirantes. Logo na primeira luta do brasileiro, que conquistou o ouro na competição, Álvaro José teve que "se virar" quando descobriu que o duelo seria realizado no tatame B e ele só teria imagens do tatame A. "No escuro", o jornalista teve que contar com a ajuda do então editor Rogério Carneireiro para realizar o trabalho.
"Eu estava no estádio Olímpico de Montjuic. Naquela época tínhamos todos os sinais na posição de comentarista, o que não acontece hoje. A primeira luta do Rogério foi contra o português Augusto Almeida, luta no tatame B e eu só tinha sinal do tatame A. Aí fechei os olhos, colocaram no meu ouvido o retorno do nosso editor Rogerio Carneireiro, que foi árbitro de judô. Ele que falava: "Eles estão em pé. Agora no solo". Imaginei a luta e com a ajuda dele fui falando. Quando a luta acabou, duvidaram que eu não tinha o sinal. Nelson Guzzardi, diretor da transmissão, abaixou o comunicador e todos bateram palmas", conta em entrevista ao UOL Esporte.
A emoção não parou por aí. Ainda sem sinal do tatame B, Álvaro José teve que repetir a dose de percepção para o segundo combate do brasileiro, que foi contra o sul-coreano Sang-Moon Kim. E mais uma vez a tática funcionou.
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QUEM É O MELHOR NARRADOR DO BRASIL?
Passado na NBA e novo desafio na Record
Com vasta experiência no jornalismo, Álvaro José ficou caracterizado como um narrador completo e com habilidade para trabalhar em diversas modalidades. Uma demonstração dessa versatilidade foi durante o tempo em que transmitiu a NBA para o Brasil.
Fã de basquete, o jornalista define como um privilégio a oportunidade de narrar pela Band a final da temporada 1998/99, uma das últimas na TV aberta, entre Chicago Bulls e Utah Jazz, quando Michael Jordan se despediu do time de Illinois com uma atuação de gala e garantiu o título para a franquia.
"Foi empolgante. Um dos maiores momentos da minha vida. O pico da audiência passou dos dez pontos. Jordan foi um dos maiores atletas do século 20, só comparado a Pelé e Muhammad Ali. Naquele jogo, o Chicago venceu por um ponto, 87 a 86, e Jordan marcou mais da metade. Ele fez 45 pontos. A transmissão foi lá no Delta Center e eu me sentia bem, estava ligado. Foi um dos grandes momentos da minha vida profissional, mas só descobri isso depois, quando ele deixou os Bulls e repetiram várias vezes os melhores momentos daquele jogo. Estive nos seis títulos do Chicago Bulls, mas só narrei contra o Portland e as duas contra o Utah Jazz. Diante do Los Angeles Lakers, Phoenix Suns e Seattle Supersonics, Luciano do Valle que narrou com muita emoção. O jogo de 98 foi no inicio da Copa da França e eu assisti Brasil x Escócia lá nos Estados Unidos", afirma.
No entanto, o passar dos anos fez Álvaro José perder um pouco do encanto pela NBA. Com o torneio, segundo ele, carente das estrelas que marcaram os anos 90, o narrador afirma não sentir saudade de trabalhar com a liga e acredita que a televisão aberta não conseguiria repetir os índices de audiência da "Era Jordan" caso investisse na transmissão do campeonato, principalmente por conta do crescimento da TV a cabo.
"Hoje vivemos outro momento. Esporte é muito forte nos principais canais a cabo. Quando fizemos a NBA tinham poucos canais transmitindo para outros lugares do mundo. Em 1998, eram dezenas de canais a cabo de todo o planeta e poucos canais abertos. Quinze anos depois a diferença é mais acentuada. Não vejo a NBA como no século passado. Não tenho saudade de narrar não", analisa.
Mesmo sem o mesmo interesse de antigamente, o jornalista fez questão de comparecer ao jogo entre Chicago Bulls e Washington Wizards, que ocorreu em outubro no Rio de Janeiro e marcou a primeira partida da NBA no Brasil, mas deixou a Arena HSBC com uma ponta de decepção ao ver que não houve nenhum tipo de homenagem a Luciano do Valle, que, segundo o narrador, foi responsável pelo crescimento da liga no país.
"Fui à Arena da Barra, que fica próxima a casa da minha filha (a atriz global Fernanda Paes Leme) e cheguei com o jogo já iniciado. Mas foi bacana ver a NBA no Brasil. Poucos sabem, mas a NBA se tornou um fenômeno aqui por causa do Luciano do Valle, que chamava os jogos de basquete nas transmissões de futebol e falava de Magic Johnson e do "nosso Lakers". Os organizadores do evento no Rio e a própria NBA deveriam ter prestado uma homenagem ao Luciano. Foi uma falha", dispara.
Mesmo com notável história no jornalismo esportivo e uma série de sonhos realizados na profissão, Álvaro José parece ainda estar longe de parar e mais histórias marcantes devem estar por vir. Aos 55 anos, ele vive seu segundo ciclo na Record e acaba de estrear um novo quadro no programa "Esporte Fantástico". A atração, batizada como "Arquivo Fantástico", consiste em relembrar imagens que a emissora captou ao longo da história.
"O Arquivo Fantástico veio preencher uma lacuna na TV brasileira. Temos material para uns dois anos de programas inéditos e o editor Léo Romano gosta de garimpar essas raridades. Mostramos na estreia o primeiro jogo de Garrincha e Pelé na seleção brasileira. Pacaembu 1958 contra a Bulgária. Curiosamente esse foi o último jogo dos dois, na Copa 66, única vitória brasileira no mundial da Inglaterra. Vem muito mais por aí", promete.
Patrick Mesquita,
Do UOL, em São Paulo
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