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Repórter que cravou Love no Corinthians relembra provocação de Milton Neves

UOL Esporte

26/09/2013 06h00

"Vágner Love chegará ao Parque São Jorge de helicóptero na segunda-feira. Está tudo fechado". Com esta e tantas outras frases, Eduardo Savóia virou centro da mídia esportiva na metade dos anos 2000 e estourou os índices de audiência do Debate Bola, extinto programa da Record. Como o tempo já mostrou, o atacante não chegou ao Corinthians naquela segunda-feira e muito menos em qualquer outra, mas o jornalista ficou marcado como protagonista de uma das novelas mais bizarras do futebol brasileiro.

O ano era 2005 e o programa comandado por Milton Neves era um gigante da televisão aberta. Companheiro de nomes como Paulo Morsa, Renata Fan e Osmar de Oliveira, Savóia se destacava pelo caderninho que continha informações sobre contratações e polêmicas do esporte. Em uma de suas "previsões", o comentarista cravou que Love já havia acertado com o alvinegro paulista e deveria se apresentar em breve no clube, o que não aconteceu.

Hoje, aos 60 anos de idade, o paulistano lembra com ótimo humor a situação e brinca com a repercussão da novela. No entanto, ele faz questão em dizer que a contratação estava fechada e que não houve erro de informação. O problema foi o atleta ter vestido a camisa de outro time antes de acertar a situação com os russos do CSKA.

"O Love estava contratado pelo Corinthians. Ele estava contratado. O Andrés Sanches confirmou, o assessor me confirmou, ele me confirmou. Aí assessor de imprensa dele, que nem está mais no meio, cometeu a besteira de marcar uma coletiva do Love e um torcedor levou a camisa do Corinthians para ele vestir. O negócio estava fechado, mas não estava assinado. Aí os caras do CSKA romperam. O problema foi ele vestir a camisa do Corinthians. O CSKA não queria se desfazer dele, eles iam ajudar o Love a voltar ao Brasil. Aí você o vê vestindo outra camisa?", afirma Savóia em entrevista ao UOL Esporte.

"Os russos colocaram uma metralhadora na mesa e perguntaram se ele ia sair. O Love é muito meu amigo. Perguntei a ele sobre isso. Ele não desmentiu e nem confirmou, apenas abriu um sorriso", comenta.

Fato é que o caso se estendeu durante semanas e, todos os dias na hora do almoço, o comentarista falava sobre a contratação bombástica do Corinthians.

"O Milton queria polêmica. 'Quando chega o Love? Quando chega o Love?', ele dizia. Eles não queriam saber do jogador, queriam me encher o saco. Eu sabia que já era. Quando ele botou a camisa e a imagem chegou na Rússia, já era. A novela era mais o Milton me enchendo o saco, um jeito dele de aumentar a audiência. Ele disse: 'você vai ter que segurar essa bucha". Até hoje um ou outro me enche o saco e pergunta, mas a história ficou para trás', lembra.

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Mas nem sempre a carreira de Savóia foi marcada pelo personagem do caderninho ou pelas brincadeiras do amigo Milton Neves. Repórter desde a década de 70, o jornalista coleciona passagens por grandes veículos, como Jornal da Tarde, Jovem Pan, Bandeirantes e até mesmo a Rede Globo, onde foi substituído por Mauro Naves. Dono de grandes furos de reportagem, o hoje comentarista venceu prêmios, além de comentar eventos como Copa do Mundo e Olimpíada.

A situação só mudou em 1994, com o nascimento de Luca. Cansado de tantas viagens pela televisão, Savóia diminuiu o ritmo para ter a oportunidade de ver o filho crescer. Assim, ele retornou ao Jornal da Tarde e permaneceu até surgir o convite de Milton Neves e Eduardo Zebini para se juntar ao time da Record, onde criou o personagem do caderninho.

"O caderninho foi uma coisa de jornal. Todo repórter tem um bloquinho de anotações. Eu anotava algumas coisas e pensei: 'vou levar o caderninho para a TV'. Depois veio o celular. Eu atendia o telefone ao vivo, falava baixinho, e a informação chegava no momento.  Lembro que o Mauro Beting usava o notebook e eu fiz a marca do caderninho."

Após o fim do programa, em 2008, Savóia viu sua participação na TV diminuir cada vez mais e até recebeu convites de outras emissoras. No entanto, ele afirma ter um estilo "Muricy Ramalho" e pretende permanecer na Record, mesmo com saudade de estar diariamente com o "time dos sonhos" do esporte.

"A Record não tem tanto esporte, mas comentei a Olimpíada junto com o Romário. Hoje eu estou lá graças ao Douglas Tavolaro e ao Grego. Eu sinto falta do contato diário com o programa, todo dia estar lá no mesmo horário. Tinha o lado sério, mas tinha o lado artístico. O Debate Bola foi legal porque tinha o Milton, que tinha o dom de provocar. A Renata Fan, que estava começando, sempre muito interessada, estudiosa. Tinha o Morsa. Eu que trazia a informação do dia, o Godói falava da arbitragem e o Doutor Osmar. Foi o melhor time de todos os tempos", crava.

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Dilema de filho jogador

Mesmo que largue a carreira hoje, Savóia ainda terá que conviver com o futebol durante um longo tempo. Isso porque seu filho, Luca, começa a dar os primeiros passos rumo ao futebol profissional. Recém-contratado pelo Osasco para a disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior do próximo ano, o garoto de 19 anos teve passagens pelo Corinthians e pelo Palmeiras, mas curiosamente sofreu "limitações" por conta dos comentários e do relacionamento do pai com o clube do Parque São Jorge.

"Resolvemos sair do Palmeiras porque o negócio era muito complicado. Sou um formador de opinião, correto, e não vou fazer média porque meu filho joga no Palmeiras, assim como quando ele jogou no Corinthians. Os caras me veem como pai/jornalista, eu não me meto na vida do meu filho. Tem muita gente que eu devo ter criticado no passado e que hoje está no poder. O técnico dele disse que ele tinha restrições lá dentro", afirma.

Apesar do discurso "imparcial" sobre a carreira de Luca, Savóia deixa escapar uma ponta de orgulho pelos passos do jovem e lamenta o fato de o filho ter perdido a chance de acertar com a Juventus, da Itália.

"O meu grande desafio foi fazer dele um grande homem. Se ele tem essa certeza, não sou eu quem vai dizer não. Desde que ele cumpra as obrigações dele, sempre vai ter meu apoio. Ele tem capacidade. Ele teve a chance de ir para a Juventus quando jogava no B do Palmeiras. Tinha uns caras da Juventus e eles queriam o levar embora no dia seguinte, mas não tinha o passaporte. Agora tenho, mas já perdemos a barca", completa.

Patrick Mesquita
Do UOL, em São Paulo

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