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Amigão 'culpa' remédio por abandono ao vivo e lembra veto a apelido na Band

UOL Esporte

04/12/2013 06h00

(Foto: Reprodução)

Se você é fã de esportes, provavelmente já gargalhou em casa ao ver o apresentador Paulo Soares, o "Amigão", cair no riso ao vivo durante a apresentação do SportsCenter, na ESPN Brasil, ao lado de Antero Greco. Mas acredite: o lado brincalhão e cheio de risadas não reflete a personalidade de "Amigão".

Sério e nervoso, segundo ele próprio, já chegou a ficar preocupado com a imagem que os episódios de gargalhadas ao vivo poderia passar ao público. Hoje, relaxou após a aceitação dos telespectadores e o reconhecimento nas ruas.

Quem o vê rindo e brincando com Antero, não acredita no lado sério do apresentador. Mas quem se recorda de um episódio no ano de 2005 talvez entenda. Enquanto comandava o Linha de Passe, se irritou e abandonou o programa ao vivo.

"(…) Falei 'estou indo embora', e era indo embora de tudo. Não só do programa, mas da ESPN, estava fora. E depois pensei: 'ninguém vai querer que eu volte'. Fui embora mesmo, estava esgotado", relembrou Amigão, em um bate-papo de 50 minutos com o UOL Esporte, em que falou sobre sua carreira.

"Amigão", aliás, virou quase um nome. Ele mesmo reconhece que muitas vezes é mais conhecido pelo apelido do que pelo próprio nome. Criado em 1989, por um antigo companheiro, "Amigão" virou marca registrada. Impulsionou a carreira do apresentador e trouxe coisas positivas. Mas teve um local que 'vetou' o uso do "slogan" por Paulo Soares: a Rádio Bandeirantes. "Acho que a rádio perdeu mais do que eu", brinca.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista

UOL Esporte: De onde vem o apelido "Amigão da Galera"?
Paulo Soares: Surgiu em 1989, com o Osvaldo Pascoal, que era um dos repórteres na Rádio Record. Ele era muito criativo, bolava alguns slogans para o pessoal. O Reinaldo Costa virou "o locutor que o povo gosta", e eu virei o Amigão da Galera. Ele achava que eu tinha de ter uma marca, e via que eu era muito amigo das pessoas, que as pessoas gostavam de mim. E aí pegou. Hoje me conhecem mais por Amigão do que por Paulo Soares. Tipo um Luiz Inácio Lula da Silva. No rádio eu era conhecido como Paulinho Soares. Em um ano, pegou muito rápido o Amigão. Eu fazia TV também, e isso ajudou a fixar o apelido. Virou uma marca carinhosa.

UOL Esporte: Você gosta do apelido?
Paulo Soares:  Eu gosto, acho simpático. Virou uma marca, e uma marca carinhosa, e nesse sentido acho legal. Apelidos algumas vezes são complicados. Mas eu gosto do meu, me acostumei com isso. É até engraçado, às vezes as pessoas falam "ô amigão", e eu olho. Quando vejo, estão chamando o garçom, e não eu. É uma coisa carinhosa, e virou uma marca para mim.

UOL Esporte: Você acha que esse apelido te ajudou no meio de trabalho?
Paulo Soares:  Eu acho que sim. Mas, por exemplo, quando estive na Rádio Bandeirantes, em 1999 e 2000, a marca Amigão não podia ser usada. Era vetada. E acho que a rádio perdeu mais do que eu. Todo mundo me conhecia por Amigão. Eu não podia usar, e as pessoas que eu entrevista me chamavam assim. Não sei (porque não deixavam usar). Até onde sei, eles não curtiam esses rótulos, slogans, apelidos. Pensavam que podia descaracterizar o locutor. Mas acho que esse apelido ajuda sim. É uma marca que sempre agregou, alavancou.

UOL Esporte: No SportsCenter você parece carismático. Tem muito reconhecimento nas ruas por conta disso?
Paulo Soares:  Tem muito, bastante. E isso me ajuda. As pessoas olham para mim como uma figura simpática. A marca Amigão ajuda muito também, e o fato de estar há muito tempo na ESPN. Você passa a ser reconhecido na rua, tem abordagem, e sempre positiva. As pessoas vêm conversar, elogiar. É difícil uma abordagem que fale mal do trabalho. Normalmente é de forma respeitosa, carinhosa. E essa abordagem é pela minha carreira, por aparecer na ESPN, e também por aparecer tanto na internet, no UOL, no CQC, no programa do Danilo Gentilli. Isso tudo ajuda a repercutir. O bom é que é sempre positivo. Não me lembro de alguma coisa negativa.

UOL Esporte: Como você começou na TV?
Paulo Soares: Desde que comecei, trabalhei em Araras, depois em Santos, até entrar no rádio de São Paulo, em 83, na Gazeta. E eu fazia TV também. Na Record também fazia. Quando fui para a Rádio Globo, em 92, fui para a TV Cultura. Sempre tive um pé nos dois. E foi quando conheci o José Trajano. No rádio sempre narrando, e na TV narrando mais do que apresentando. Comecei a apresentar alguns programas em 97, quando começamos a ter estúdio na ESPN. E quatro anos depois, o Trajano me convidou para apresentar o SportsCenter. Agora já são 13 anos de programa quase.
O que me ajudou muito foi a entrada do Antero (Greco). Passamos a ter essa dupla, e o SportsCenter é muito importante para mim. Acho que temos um trabalho de parceria, ajudamos muito a ESPN e eles ajudam a gente. É uma troca de forças. E nisso a marca Amigão ajudou muito, a marca Sportscenter ajudou muito, as equipes do programa sempre foram muito fortes. E tomara que eu fique lá mais uns 20 ou 30 anos.

VOTE: QUAL A MELHOR MESA-REDONDA DO BRASIL?

UOL Esporte: Quando você e o Antero não estão no programa é estranho, não é?
Paulo Soares:  Quando não estamos, as pessoas sentem um pouco. A gente já se conhece há muito tempo, já nos conhecíamos desde o final dos anos 80, já tínhamos uma parceria fora das quatro linhas. E começamos a trabalhar juntos em 1994, na TVA Esportes, até chegarmos ao SportsCenter, em 2001. Trabalhamos juntos em transmissões, e sempre nos demos bem. A gente sempre se divertia muito juntos. Era uma época difícil de acesso à informação, não tinha internet, e a gente rebolava para ter informações dos times, etc. Formei algumas duplas de transmissão nesses anos, com Paulo Roberto Martins, Luis Roberto, Fábio Sormani, e sempre dei muita risada.

UOL Esporte: Como é a relação com o Antero fora do programa?
Paulo Soares: É uma relação muito boa, mas muito mais de telefone. A gente é muito amigo, muito amigo, mas não de ficar saindo. Eu saio muito pouco, trabalho até tarde, e isso tira um pouco da minha vida social. A gente se vê pouco fora da emissora, mas nos falamos muito. Somos grandes amigos.

UOL Esporte: Essa parceria Amigão x Antero é tipo um Ronaldo x Romário?
Paulo Soares: Não sou de pensar muito nisso. A gente é uma dupla que deu certo, que está tocando bola todas as noites, trabalhando juntos. Se é Ronaldo x Romário ou qualquer outra dupla, não sei. É uma dupla que está muito bem, trabalhando com muita seriedade. A gente faz com felicidade. Podemos estar cansados, com algum tipo de problema fora, mas estamos ali fazendo com alegria o programa.

UOL Esporte: Vocês diversas vezes dão muita risada durante o programa…
Paulo Soares: Eu perdi o controle com vários caras, várias transmissões foram comprometidas porque eu começava a rir no meio de jogo, de programa. E com o Antero acontece muito isso. Quando começou o SportsCenter, e isso aconteceu nas primeiras vezes, a gente ficava preocupado. Estava no ar, rodando VT de alguma matéria, e o Antero começava a rir. Eu não me segurava, não consigo. Eu ficava preocupado, falava 'vão demitir a gente. Isso não pode acontecer'. E isso também virou uma marca. Às vezes damos várias notícias importantes, mostra gols, e se você dá risada, falam mais do que qualquer outra coisa no programa. É até uma preocupação que tenho. Somos jornalistas, não humoristas, comediantes. Mas é legal ter essa naturalidade. Vem de uma amizade antiga, de longa convivência, e que passou a ser bem vista pelas pessoas.

UOL Esporte:  Mas é espontâneo, não é? Como vocês ficam quando tem esses ataques de riso?
Paulo Soares:  Antes de começar a fazer os programas no estúdio, a gente estava transmitindo jogo, e aí fecha o microfone e o cara em casa não percebe que você está rindo. E isso era muito rápido. Mas ao vivo não tem para onde correr. Ou o diretor corta, põe matéria no ar, chama intervalo… No começo eu tinha vergonha, falava 'isso não pode'. Ficava envergonhado, ali não é lugar para ficar rindo. Mas depois relaxei, dou risada mesmo e o Antero também. E o engraçado é que na redação todo mundo se diverte, curte aquilo. Nunca ninguém pediu para pararmos. Chegava no dia seguinte e as pessoas estavam rindo. Mas temos que nos controlar muito. Vamos levando sério, mas às vezes tem uma derrapada…

VOTE: QUAL O MELHOR APRESENTADOR ESPORTIVO DO BRASIL?

UOL Esporte: Recentemente teve aquela que você chamou um vídeo em que uma pessoa solta um pum durante um jogo de sinuca…
Paulo Soares: Algumas matérias vão para o ar e a gente não está sabendo. Às vezes os meninos da produção põe isso por fora, sem a gente ter conhecimento, para provocar. Teve essa que pegou meio de surpresa, uma do veado atropelado por um skatista. São coisas que a gente não se aguenta, engraçadas, e acaba dando risada mesmo. Mas sabe o que é legal? O programa é em um horário difícil, bem tarde, muitas pessoas estão cansadas, a gente consegue levar o programa de uma forma leve, suave para as pessoas em casa. Para elas verem o programa e se informarem, mas sentirem que estão vivendo um momento de entretenimento. Eu acho que isso é bom, não é aquele jornal sério, batido, rancoroso, que você fica descarregando o noticiário. Tem uma mescla de ser programa sério, mas que passa um ar de leveza.

UOL Esporte: E o dia que você chamou as notícias no estilo 'Rei do Camarote'? É você quem dá a ideia?
Paulo Soares: Muitas vezes o que acontece no programa a gente dá risada, são momentos naturais, sem forçar a barra, e alguma coisa aconteceu com certeza. Outra coisa é a produção, como essa do Rei do Camarote, quando nos pintamos de Kiss. Mas,  nisso tudo, a minha participação é quase zero. Eu não sou bom para isso, não sou tão antenado, e sou um cara mais sério. Quem me conhece sabe bem disso e até se irrita um pouco com essa seriedade. Essas ideias partem da produção, tem uma garotada muito criativa lá, muito inteligente. Os caras são alucinados, têm muitas ideias. Eu nem sabia da existência do Rei do Camarote, daquele cara lá. Estava voltando de viagem, tinha ficado completamente divorciado do que tinha acontecido. Recebi uma mensagem pedindo para ir mais cedo e gravar uma escalada diferente. E foi impressionante, foi um dos vídeos mais acessados no site.

Às vezes eu fico assustado com isso. A produção original daquela escalada ia ter as meninas dançando, eu ia aparecer em um cenário de boate. Tinham a produção feita, ia ter imagens do estúdio, e já estava combinado com umas meninas, companheiras. Mas eu falei para repensar, e recuamos. Acho que fomos na medida certa, não houve exageros, foi bacana. Conversamos um pouco sobre isso. Mostra que estamos ligados no dia a dia, com coisas leves, mas não estamos ali para avacalhar. É para as pessoas sentirem uma simpatia no ar.

UOL Esporte: Em 2005 você abandonou o programa ao vivo, irritado. E o Trajano falou que leva a culpa até hoje, pois dizem que a culpa é dele, mas na verdade não é. O que aconteceu naquele dia?
Paulo Soares:
Aquilo foi  um problema meu comigo mesmo. Eu estava muito cansado, vinha de um ano cansativo. Era virada de 2005 para 2006. O Linha de Passe tinha passado por muitas mudanças. De cenário, de estúdio, de bancada. Uns saíram, outros entraram. Foi um ano de transformações pessoal e profissionalmente. Foi um ano difícil. Eu estava saindo da terceira cirurgia de coluna, vinha sofrendo muito. Eu estava cansado, tanto que pedi para sair um tempo e descansar. E eu tomava muito remédio para emagrecer por causa da minha coluna. Nem era para eu fazer aquele programa, eu tinha parado. E alguém não pode fazer, e me chamaram. Eu fiz muito esgotado, desgastado. E aconteceu aquilo lá, mas não por causa do Trajano. É uma pena. Eu estava pilhado, quase uma bomba atômica. Eu e o Trajano somos muito amigos, jantávamos toda semana, saíamos para tomar um vinho. Hoje damos risada, mas foi um momento ruim, chato. O mais legal de tudo é que aquilo só deu força para nós. Mostrou sentimento de união mesmo da equipe, como se nada tivesse acontecido, apesar do episódio, que é negativo.

UOL Esporte: Depois, quando você esfriou a cabeça, você ficou com medo de ser demitido?
Paulo Soares: Não fiquei com medo, porque eu falei "estou indo embora", e era indo embora de tudo. Não só do programa, mas da ESPN, estava fora. E depois pensei: 'ninguém vai querer que eu volte'. Fui embora mesmo, estava esgotado. E no dia seguinte, o meu 'ir embora' não era do jeito que eu imaginei. Estávamos juntos. Eu, Trajano, Juca, German (Von Hartenstein, diretor da ESPN). Foi uma coisa de momento. As pessoas têm que tomar cuidado quando tomam muito remédio. Eu tomei bastante, e eles ajudam a detonar um pouco mais. É uma lição que fica.

UOL Esporte: Você falou que é uma pessoa muito séria. No SportsCenter, porém, você é muito solto, extrovertido. Você diria que interpreta um personagem?
Paulo Soares: Não, isso não. Eu sou sério e nervoso, sou um cara exigente, procuro a perfeição, e sei que não atinjo a perfeição. Eu sou daqueles caras mais certinhos, quadrados. Isso me atrapalhou e me atrapalha muitas vezes. Procuro ser linha reta. Ali no SportsCenter o Antero tem uma participação importante. Ele quebra um pouco desse meu lado, essa coisa mais fria que tenho. Não propositalmente, mas como temos uma longa relação, a coisa flui naturalmente. Não existe isso de ser um personagem. Sou eu chamando noticia, chamando o Antero, fazendo entrevistas. Sou eu ali. Eu sou muito sério e estressado, e as pessoas reclam disso às vezes. Quando vou transmitir jogo, fico ansioso, preocupado com o resultado. Se viajo para uma transmissão, não tem essa de ir relaxar na praia, passear. Fico parado no meu trabalho, estou ali para isso.

Luiz Paulo Montes
Do UOL, em São Paulo

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