Topo

Ana Thais Matos faz estreia discreta, porém eficiente no Mundial na Globo

Chico Silva

09/06/2019 14h56

Exatamente às 10h18min do domingo 09/06/2019 teve início a inédita transmissão de uma partida da Copa do Mundo feminina na maior emissora do País com direito a narração da maior estrela da casa, Galvão Bueno, e comentários de Ana Thais Matos, que fez história ao se tornar a primeira mulher a comentar um jogo na telinha global. Com isso entrou para o time de especialistas da casa.

Para que tudo ficasse completamente alinhado só faltou a presença de uma mulher empunhando o microfone e outra analisando arbitragem. Mas o trauma causado pelas críticas nos Jogos Rio 2016 desestimulou Glenda Koslowski a encarar o desafio de narrar futebol. E a Globo não dispõe de uma Renata Ruel ou Nadine Bastos, especialistas de arbitragem na ESPN Brasil e Fox Sports. A reportagem de campo da vitória brasileira na Copa do Mundo feminina ficou a cargo de outra mulher, Carol Barcelos.

Leia mais sobre a seleção brasileira de futebol:

Análise: Melhor notícia da estreia da seleção feminina na Copa é Cristiane de volta
Andressa Alves não liga para elogio sobre beleza, mas quer foco em futebol
Vadão elogia ataque da seleção na Copa e não garante Marta no próximo jogo
Formiga chega à 7ª Copa e bate recorde entre mulheres e homens no futebol

Mas, se por um lado a atenção dada pelo canal ao Mundial Feminino é elogiável, por outro ainda revela que a distância que separa as seleções de Marta e Neymar é maior que a do Jardim Botânico a Grenoble, cidade onde o Brasil estreou com vitória por 3 a 0 sobre a fraca Jamaica. Se para a Copa do Mundo masculina a emissora despacha centenas de profissionais para a cobertura in loco do evento, na feminina Galvão e cia comandaram os trabalhos dos estúdios da emissora no Rio de Janeiro. Para tentar atenuar o déficit de atenção entre uma e outra, a Globo até que se esforçou para reproduzir o clima dos jogos dos Mundiais dos homens.

Figurinha repetida do canal nos jogos do Brasil nas Copas, o batuque baiano foi a estrela do "Show do Intervalo". Só que com um detalhe bem sacado: no lugar do Olodum, a banda Didá mostrava sua percussão formada só por mulheres. O canal também enviou repórteres para links ao vivo na casa de três jogadoras: a zagueira Mônica, a meio-campo Andressa Alves e a goleira Bárbara. Houve até tempo para uma divertida comparação da atacante Cristiane com seu "xará" Cristiano Ronaldo. Galvão deu uma "provocadinha" ao lembrar que a brasileira marcou mais gols em Copas e Olimpíadas que CR7. Por conta disso foi chamada de "Cristiane Ronaldo".

Espaços quase iguais

A grande curiosidade da transmissão era ver como Galvão se comportaria com uma mulher ao seu lado. Isso já ocorreu em outros esportes nos Jogos Olímpicos, por exemplo. Mas no futebol seria algo inédito. O narrador é de uma geração onde feminismo era uma palavra que mal constava nos dicionários. Havia claro risco de "mansplaining" e "manterrupting", nomes em inglês do dicionário machista que identificam práticas comuns de homens que (muitas vezes de maneira inconsciente) tentam explicar o óbvio ou interromper mulheres quando estas falam. Mas parece que o narrador se preparou bem para a missão. Ainda que não tenha demonstrado o mesmo entrosamento visto com Caio, algo natural, afinal trabalham juntos há anos, o narrador teve o cuidado de dar a ela quase o mesmo espaço conferido ao colega homem. UOL Esporte Vê TV computou o número de intervenções de cada um deles durante os 90 minutos do jogo. Vitória apertada de Caio: 28 x 26.

No geral, ficou claro que Ana Thais tinha muito mais informação e conhecimento sobre os times e as jogadoras que o colega. Durante o segundo tempo, Galvão chegou até a pedir para que ela se colocasse no lugar do técnico brasileiro Oswaldo Alvarez, o Vadão, e decidisse que alterações faria para tornar o time mais rápido e ofensivo. O próprio Caio, que no primeiro tempo chegou a elogiar a beleza de Andressa Alves, completando que era mais bonita que ele inclusive batendo na bola, reconheceu o preparo de Ana Thais ao dizer que ela tinha todos os dados e informações sobre os jogos do Mundial da primeira fase. A comentarista também lembrou que a lateral-esquerda Tamires era a única mãe de todo o elenco, e uma das poucas no Mundial. A conversa, no entanto, não enveredou para as barreiras enfrentadas pelas mulheres no esporte. Poderiam ter aproveitado a oportunidade para colocar a discussão em pauta.

Desde que foi anunciada como comentarista da Globo no Mundial, Ana Thais, que dá expediente no SporTV, canal em que chegou a comentar jogos do último Paulista, vem se preparando arduamente para missão. O esforço deu resultado (e rendeu stories emocionados em seu perfil no Instagram após o primeiro desafio vencido). Ela demostrou segurança e conhecimento nos comentários, mas ainda falta um pouco de desenvoltura e naturalidade na tela. Agora é ficar de olho para ver se vai ser só uma comentarista de futebol feminino ou se será integrada ao time de analistas fixos do canal.

Essa sim seria uma vitória até mais importante do que a da seleção na bela e fria Grenoble.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Ana Thais Matos faz estreia discreta, porém eficiente no Mundial na Globo - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.


UOL Esporte vê TV