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Dos games para a vida real: Narrador conta a trajetória até o profissional

UOL Esporte

30/05/2019 04h00

Tudo começou como uma brincadeira, uma forma de amenizar o estresse do dia a dia. Com o tempo, as narrações de jogos virtuais se tornaram algo mais sério e, enfim, uma carreira. Cerca de sete anos depois, o apresentador e narrador Petar Neto encara agora uma nova missão: narrar jogos reais de beisebol e de futebol americano, pelos canais ESPN.

Em um bate-papo com o UOL Esporte, Petar Neto, 31, contou como se preparou para transmitir as informações e emoções de partidas reais de esportes norte-americanos, o início da carreira no mundo dos "electronic sports" e analisa a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de barrar competições de videogame nos próximos Jogos Olímpicos.

Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Petar Neto atuou por 11 anos na área de Tecnologia da Informação. "O videogame era um passatempo, um hobby para desligar do trabalho. Passava algumas horas jogando para descansar, desligar do mundo", comentou o narrador e apresentador dos programas Match Making e Arena e-Sports no canal ESPN Extra.

Cansado das longas jornadas de trabalho na frente dos computadores, o paulistano do bairro da Vila Mariana (zona sul da capital), resolveu, em 2015, dar uma guinada na vida profissional devido a problemas emocionais.

"Estava cansado da minha carreira. Fui diagnosticado com a Síndrome de Burnout [estresse provocado pelo excesso de trabalho]. Para amenizar esse desgaste mental, comecei a me dedicar mais aos games. Isso me fazia me sentir bem", revelou Petar, que ao mesmo tempo começou a produzir conteúdos sobre jogos eletrônicos em seu canal no Youtube.

"Não aguentava mais a minha antiga profissão. Dividia o meu dia entre o trabalho, os jogos e a produção de conteúdo. Sustentei essa situação por um tempo para pagar as contas. Mas sabia que o corpo não iria aguentar por muito tempo. Então comecei a estudar muito sobre os jogos, táticas, regras, forma de como melhorar a narração", recordou.

 Início das narrações de e-Sports

Para se dedicar integralmente aos jogos eletrônicos, Petar Neto montou um planejamento de três anos. Assim, iria se dedicar aos games e ainda seguiria atuando na profissão de gerente de TI. Ao mesmo tempo, foi batendo de porta em porta de produtoras e franquias de games em busca de oportunidades até fazer a transição total para a nova carreira.

"Enxuguei drasticamente os meus custos de vida para me sustentar. O que ganhava durantes os eventos de e-Sports não chegava a um terço do que recebia com o trabalho de TI. Mas, como sempre fui muito comunicativo, corri atrás de oportunidade e o Overwatch foi o jogo que me revelou", comentou,

"Já havia recebido cachê para transmitir eventos da Blizzard, da Campus Party e do PUBG [Player Unknown's Battlegrounds]. Mas eram pontuais e não dava para eu me sustentar por um ano inteiro. Não era um calendário fixo, mas sabia que, com o tempo, as coisas iriam melhorar. E foi o que aconteceu", acrescentou.

Estudando com os games

Apesar de narrar e apresentar programas de eSports, Petar Neto foi obrigado a diminuir o tempo dedicado aos videogames devido aos compromissos profissionais. Porém o profissional de 31 anos revelou que se esforça para jogar e, desta forma, conhecer melhor os games que estarão em pauta durante a programação da ESPN.

"Antes, eu jogava de cinco a seis horas por dia. Quatro dias por semana. Atualmente, jogo três horas por dia, em três dias da semana. Eu fechei muita coisa [contratos] depois que entrei na ESPN. Tive um crescimento na demanda de trabalho muito bom. Ficou mais complicado de jogar em casa para descontrair", declarou.

Para se dedicar aos games, Petar deixa de socializar com amigos em determinados momentos e até diminui as horas de sono.

"Forço a barra. Até deixo de dormir uma hora para jogar e aprender. Poderia sair com os amigos, mas fico em casa para estudar e entender o que irei fazer e falar. Jogar não é só diversão para mim", concluiu.

Do mundo virtual para o real

Apresentador de e-Sports dos canais ESPN desde 2017, quando ingressou na TV, Petar Neto resolveu se desafiar ao pedir à emissora para narrar partidas reais de esportes norte-americanos. Após um período de testes, ele foi incumbido de mais uma missão no início deste ano: fazer a locução de jogos MLB (Liga Americana de Basebol) e do College Football (torneio universitário de futebol americano).

"Logo depois que assinei o contrato com a ESPN para narrar os jogos, comecei a me preparar. Apesar de saber das dinâmicas das transmissões, eu estudei muito as equipes uma semana antes da partida. Estava cheio de informações. Acabei mergulhando no universo destes esportes e me tornei um apaixonado", contou Petar, que estreou na nova função na partida entre Chicago White Sox e Cleveland Indians, em 1º de abril, pela MLB.

Petar, no entanto, não se limitou apenas aos estudos das equipes e modalidades. Para aprimorar as jornadas esportivas, ele contou com a ajuda de locutores experientes da emissora, como Everaldo Marques e Rômulo Mendonça, especialistas em modalidades norte-americanas.

"Converso muito com eles. Acompanhei as transmissões com eles de dentro da cabine para tomar anotações. Nos intervalos, fazia perguntas. Busquei padrões, características de cada esporte para ajudar nas transmissões. Fui absorvendo conhecimento.

Os caras têm muito mais experiência de casa. Eu tenho experiência na internet", comentou o narrador, que ainda sonha em participar de transmissões da Premier League e da NFL.

Mercado brasileiro ainda engatinha

Segundo dados da Newzoo, consultoria especializada no mercado de games e de mobile, o Brasil é o terceiro maior público de e-Sports do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. No país, há 21,2 milhões de fãs. Deste total, 12 milhões são ocasionais e 9,2 milhões são entusiastas (aqueles que acompanham regularmente os torneios de esportes eletrônicos).

Apesar destes pomposos números, Petar Neto faz um alerta: ainda há poucas equipes que representem o Brasil em competições internacionais de alto nível.

"Não somos considerados um país que exporta talentos de e-Sports, mas isso faz parte do amadurecimento. Leva um tempo, processo de maturação. Isso entrará na cultura do brasileiro. Muita gente no Brasil ainda não sabe o que são os esportes eletrônicos. Mas o brasileiro tem algo que os outros não têm: a persistência", analisou.

Veto do COI aos e-Sports

Em setembro de 2018, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, frustrou a pretensão dos organizadores de torneios de e-Sports de ver competições de videogame nos Jogos Olímpicos. Na ocasião, o dirigente afirmou que as Olimpíadas não poderiam ter em seu programa jogos que promovessem a violência ou discriminação, como o jogo Counter Strike.

Apesar de sempre levantar a bandeira dos e-Sports, Petar Neto disse acreditar que a decisão da entidade foi correta porque há ainda muito a ser debatido sobre a modalidade.

"O papel do COI é ver se é sólido. Se ainda tem discussão, é porque ainda não está claro para o grande público. A Olimpíada tem um alcance gigantesco. Mas nós trabalhamos dia a dia para mostrar que os games não têm nada a ver com violência", analisou.

"Existem estudos das Universidades de Harvard e de Michigan que demonstram que as coisas não estão associadas. O que está inserido na sociedade é algo irreal porque as pessoas opinam sobre algo que não conhecem. Elas pegam a primeira coisa que ouvem como verdade. Temos que mostrar que elas têm uma visão errada. Isso é falta de acesso à informação", finalizou.

Augusto Zaupa
Colaboração para o UOL Esporte, em São Paulo

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