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Jornalista deixou a ESPN Brasil para ensinar futebol na África

José Edgar de Matos

27/05/2019 12h00

Murilo Augusto levava uma vida confortável. Carro na garagem, casa própria e emprego dos sonhos na ESPN Brasil. Tamanhos privilégios fizeram o jornalista de 26 anos refletir. Quase um ano após as primeiras ideias, o profissional que trabalhava na emissora paulista largou o emprego em São Paulo, vendeu praticamente todos os pertences e rumou para a África, a fim de ensinar futebol para diversas populações carentes.

O jornalista criou a página 'Football Changes' no Instagram para exibir a aventura no continente africano. Fora a experiência de sete anos como profissional na televisão da Disney, Murilo Augusto realizou cursos na Universidade do Futebol e se licenciou para dar aulas de futebol para crianças africanas. Desde o desembarque na Cidade do Cabo, o ex-funcionário da ESPN passou por Tamale (Gana) e atualmente se encontra em Nairóbi, no Quênia.

Em comum além do continente, o futebol como pontapé para integração social. Murilo Augusto usou a paixão pelo esporte para ensinar crianças de maneira humanizada. "Futebol é minha vida desde que me entendo por gente. Vivo em função do futebol. A minha primeira palavra foi bola, não foi pai e nem mãe. O futebol me fez fazer jornalismo e agora me norteou a tomar esta decisão de ir para a África", contou, em conversa com o UOL Esporte.

"O futebol é muito mais do que o esporte em si. Não há qualquer outra prática que simule a vida real: o jogo coletivo, o estímulo do trabalho em equipe, disciplina, planejamento. São diversos fatores, valorizar o adversário, aprender na derrota, reconhecer a qualidade do próximo e ter autoconfiança. São atributos que o futebol simula e levamos para a vida", acrescenta.

Estas qualidades vistas por Murilo tornaram o futebol a base para a ideia do trabalho voluntário. Ao vender o carro, boa parte dos pertences e alugar o próprio apartamento na capital paulista, o profissional de imprensa analisou o orçamento e colocou a África como primeiro objetivo.

Serão quatro meses, a princípio, no continente, sede da primeira etapa da viagem que une trabalho voluntário e futebol. Murilo Augusto ainda destina passagens pela Tailândia para dar aulas de futebol e Índia, onde conhecerá um projeto de uma ONG brasileira que constrói complexos esportivos nas comunidades carentes do país.

O jornalista ainda planeja três meses de Europa na última para conhecer o trabalho e recrutamento de base de equipes como Barcelona, Manchester City e Ajax. As ações com refugiados da Bundesliga (Liga Alemã) e de equipes como Everton e Arsenal, na Inglaterra, também serão visitadas.

O jornalista desembarcou na Cidade do Cabo, na África do Sul, e deu aulas como auxiliar de educação física em uma escola na comunidade de Capricorn. Murilo Augusto usou o conhecimento adquirido nos cursos e ministrou práticas de futebol para adolescentes. O trabalho de semanas já levou o jornalista a ensinar aspectos da modalidade para uma equipe de base.

"Por indicação do professor, fui trabalhar em um time local chamado Super Lucky Stars. Passei treino para a molecada, fui ver jogos e vivi uma realidade muito interessante. Esse time usa o futebol para tirar as crianças das ruas no tempo livre, dá clínicas de futebol e ainda viaja todo fim de semana para jogos contra as outras comunidades. É incrível", relata.

Da África do Sul, Murilo viajou para Tamale, em Gana, onde conheceu a "África real". Foi na terceira maior cidade ganesa que o jornalista brasileiro enfrentou as maiores dificuldades até aqui e teve um contato ainda mais próximo com a população local. Lá, as aulas de futebol superavam a técnica e a prática; conversas "sobre a vida" eram comuns entre o ex-funcionário da ESPN e os adolescentes.

"Não tinha água encanada. Água? Só do poço em que tínhamos que ir com balde. A malária era um perigo real, toda hora era hora de passar repelente. As ruas são completamente de terrão mesmo. Era o projeto que me fez ir e foi incrível. Treinei crianças dos 9 aos 15 anos e ainda pediram para eu trabalhar com um time de terceira divisão, o Blackhawks FC", recorda, ressaltando a troca de experiências fora do dia a dia com a bola.

"Demos treinos modernos comuns na Europa, com posicionamento, tática e foi muito bom. Mas foi muito mais sobre a vida. A gente se encontrava e conversava, eu sempre dizia para eles terem um plano B, se dedicarem ao estudo. Tentei conscientiza-los desta parte difícil. Esta troca foi uma das melhores partes da viagem até aqui", relatou o jornalista brasileiro, que também direcionou uma parte da passagem por Gana para promover o futebol em uma escola apenas para meninas.

E o futuro?

Depois dos quatro meses planejados para a África, a passagem pela Ásia e os estudos na Europa, Murilo Augusto pretende misturar a paixão pelo futebol com a vocação jornalística. O futuro, no entanto, está aberto – a única certeza é que, além da conta do Instagram, a experiência do voluntariado terá um registro em audiovisual.

"Essa viagem está abrindo muitas portas para mim, poderia continuar em uma toada dessa. Estou de coração aberto. Em todos os países, tenho novas ideias e projetos que vão nascendo na minha cabeça. Estou aqui para aprender e criar oportunidade, vou seguir vivendo da paixão pelo futebol e vamos que vamos", anima-se.

"Quero criar um documentário, um curta, uma web série; enfim, ainda estou estudando o formato. Quero também exercitar o que sei fazer, jornalismo e o a experiência de trabalhar com televisão na ESPN. Depois disso, só Deus sabe", encerrou Murilo, que conversou com a reportagem direto de Nairóbi.

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