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Novo na ESPN, Luciano Amaral já foi "herói do Tetra" e pioneiro de eSports

UOL Esporte

17/11/2018 04h00

(foto: reprodução/Instagram)

A infância de Luciano Amaral teve suas peculiaridades, mas, em certos momentos, foi bem similar à de muitas crianças da década de 80/90 e teve muito futebol. Além de jogar bola com os amigos na praça, brincar de futebol de botão e assistir a partidas aos domingos com o pai, outro fator importante ajudou a florescer a paixão do ator e apresentador pelo esporte: o programa "Mundo da Lua".

Luciano Amaral tinha dez anos quando iniciou os testes para viver o icônico personagem Lucas Silva e Silva, um garoto da cidade de São Paulo que tinha uma imaginação fértil, um gravador de voz e, assim como Luciano, uma crescente paixão pelo esporte. Apesar de ter se tornado sensação entre as crianças, havia uma coisa em particular que o incomodava durante as gravações do programa da TV Cultura, que foi ao ar entre 1991 e 1992.

"A única coisa que me pegava era quando os moleques ficavam para jogar bola na escola depois da aula e eu não podia ficar. Era o único momento em que eu pensava que queria muito ficar na escola. Meus amigos perguntavam se hoje eu podia ficar, e respondia 'não'. Isso me doía o coração. E ia ser muito da hora porque eles iam jogar na quadra, não com potinho de iogurte no intervalo, era com bola, na quadra e eu não podia ficar", lembra o apresentador em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Aos 39 anos, Luciano Amaral ainda guarda em seu rosto e em sua fala características marcantes do personagem infantil que marcou época na televisão brasileira. Hoje, o paulista nascido em Pindamonhangaba, cidade do interior de São Paulo, não é mais o rosto da infância, mas o representante das manhãs da ESPN Brasil, onde apresenta o programa "ESPN Bom Dia".

Há dois meses no comando da atração que vai ao ar de segunda a sexta, das 9h às 12h, Luciano conta que não encontrou resistência do público por ser um novato no cenário esportivo nacional, apenas surpresa em alguns momentos.

"Pelo menos nos primeiros dias, foi natural o questionamento, no sentindo de perguntarem: 'o que você tá fazendo aí, cara? Você fala de futebol, você manja?'. Era basicamente a mensagem que mandavam", conta.

Apesar de ganhar espaço na casa, Luciano não é novidade na ESPN. Desde novembro de 2017, o apresentador comanda o programa "Matchmaking", que vai ao ar todas as terças às 18h30. Um dos principais nomes nacionais na cobertura de eSports, Luciano agora volta suas atenções a algo novo na carreira.

De telespectador a participante

"Sempre fui audiência da ESPN, porque gosto muito de esporte. Sempre que estava em casa assistia aos programas, às vezes participava por mensagem. Então apresentar um programa foi algo muito legal, novo, por mais que seja algo que já faço há muito tempo, um tema totalmente novo. Sinto-me na obrigação de estudar algo novo todos os dias", diz.

A prática de assistir programas esportivos começou quando ainda era criança, ao lado do pai José Augusto, hoje falecido. Santista e flamenguista, como reforça Luciano durante a entrevista, o pai do apresentador não perdia uma partida de futebol transmitida na pequena televisão analógica e em preto e branco da modesta família paulistana, que dividia um apartamento de apenas um quarto no bairro da Liberdade.

"Meu pai era um cara que gostava muito de esporte. Ele acordava no domingo, que era o dia de descanso dele, e logo cedo já ligava a TV. O que ele fazia: só assistia a futebol. Assistia ao Campeonato Alemão na Cultura, em uma época que, sei lá… O Jorginho era lateral do Bayern de Munique. Assistia ao Desafio ao Galo na Record. Depois, à tarde, era futebol italiano na Band, ia para o Campeonato Brasileiro, depois os gols da rodada, as mesas redondas. Domingo era um dia sagrado, de futebol desde a hora que acordava até a hora que íamos dormir. E eu sempre ficava com ele", conta o apresentador da ESPN.

(foto: reprodução/Instagram)

Entre um domingo e outro, Luciano vivia a pacata e emocionante vida de Lucas Silva e Silva. Em um dos programas mais conhecidos e que ele mais gostou de gravar, o personagem "previu" o tetracampeonato mundial da seleção brasileira na Copa de 1994. No episódio "Brasil, Tetracampeão", que foi ao ar em 6 de setembro de 1992, o garoto foi o autor do gol da vitória por 1 a 0 contra o time fictício da Gormânia. A felicidade de gravar o episódio com a camisa 10 da seleção, no entanto, esconde a vontade de regravar uma cena em particular.

"Estava muito nervoso, porque eu que gravei todos os lances. Tanto é que, se eu pudesse, regravava o lance do gol. Porque na hora em que eu chutei, estava muito próximo do goleiro, e você percebe que o goleiro dá uma tirada de mão", conta. "Tem um lance de uma cobrança de falta, lembro perfeitamente. Eu tinha que bater no gol, e eu bato perto! Mas tive que botar uma força… imagina isso, um menino, a bola fora da área, pra cobrar perto do gol… e eu bati bem aquela falta", lembra, com um sorriso orgulhoso.

O "Mundo da Lua" ainda teve outros episódios memoráveis com o esporte em primeiro plano, como em "O Ás do Volante", no qual Lucas Silva e Silva sonhou estar pilotando um carro de Fórmula Y. Fã de Ayrton Senna, Luciano Amaral possui recordações especiais de cada episódio esportivo do programa, porém, o do tetracampeonato mudaria a vida do garoto de maneira especial e para sempre.

"Aquele episódio foi feito com o time infantil do São Paulo, e eu já gostava do São Paulo, aí vi os caras jogando e pensei 'caramba, eles são jogadores profissionais'. Eu tinha uns 9 anos de idade e falei 'pô, esse vai ser o meu time'. Porque por mais que o meu pai falasse do Santos, me influenciasse, eu não tinha uma identificação com o Santos", diz.

São-paulino e colecionador de camisas

A partir daí, a ligação de Luciano com o São Paulo passaria a ficar cada vez mais forte, e sempre com a televisão sendo parte importante. O apresentador lembra de outro momento eternizado em sua memória.

"Eu já estava na TV Cultura, e o Raí foi uma época lá, me deu uma camisa autografada. No Turma da Cultura (1997-00), a gente recebeu o Rogério Ceni, eu bati um pênalti nele – bati na trave, que raiva, mas foi em respeito por ele, não foi por falta de técnica", conta às gargalhadas.

(foto: reprodução/Instagram)

O apresentador não esconde ser torcedor do São Paulo, e registra os momentos vividos no estádio do Morumbi em suas redes sociais. Luciano acredita não ter encontrado resistência da audiência da ESPN por divulgar seu clube do coração.

"Mais do que ser são-paulino, eu sou consciente. Acho que tenho o mínimo de discernimento, e eu não deixo a paixão pelo meu time me cegar. Não é porque é meu time, ou time A ou time B que eu não vou analisar da mesma maneira", comenta.

Luciano Amaral defende os colegas de profissão que não gostam de tocar no assunto. A ESPN é conhecida por ter jornalistas que não escondem seus times, como o corintiano Celso Unzelte e o flamenguista Mauro César.

"Se o cara acha que existe quem trabalhe com futebol e não torça para nenhum time, ele está errado. Todo mundo torce para algum time. Eu também entendo quem não fala e não divulga, está dentro do seu direito, é mais por conta de alguns torcedores loucos e fora do planeta que não respeitam que o outro tenha uma opinião ou torça para um time diferente".

A imparcialidade se faz presente também em outra paixão esportiva do ator: uma coleção de camisas de futebol de diversos times nacionais e internacionais. Existe até uma área de seu armário reservada para os xodós, e a estimativa é de que possua mais de 100 camisas, entre elas, algumas favoritas que combinam o amor por futebol com o universo dos games.

"Vi uma camisa do Seattle Sounders e tinha o patrocínio do Xbox, aí fui lá e comprei essa camisa. Mas já tinha várias outras. Aí comecei a focar nessas mais nerds. Mas as antigas são mais difíceis de arrumar. Tipo aquela da Fiorentina com o patrocínio da Nintendo. Encontrei depois a do Japão, com o Pikachu", relembra.

(foto: reprodução/Instagram)

Embaixador de eSports

Lucas Silva e Silva, Pedro do Castelo Rá-Tim-Bum e Luciano "dos games": essas são algumas das facetas do apresentador da ESPN. A relação com o universo dos games é quase tão antiga quanto a com futebol. Tiago Leifert, apresentador e jornalista da Rede Globo, chamou Luciano de "embaixador do eSports no Brasil" no programa "Zero 1", apresentado por Leifert. Muito presente nas redes sociais, Luciano começou a apresentar programas voltados ao universo nerd em 2002, quando o assunto ainda era pouco abordado. Tudo era mato.

"Lembro que ele brincou com isso, falando 'você é o embaixador, literalmente quando isso tudo aqui era mato'. Eu realmente comecei a falar de videogame há muito tempo. Em 2002, quando teve o 'boom' de lan houses no Brasil, o pessoal jogava muito Counter-Strike, era proibido no Brasil. Times chegando, poucos campeonatos, pouca premiação. Não me sinto responsável por isso, mas me sinto uma pessoa que gostava do que estava fazendo e torcia muito para que desse certo, como acho que já deu", afirma.

Além de apresentar o "Matchmaking" na ESPN, Luciano é editor-chefe do "The Enemy", site do Grupo Omelete focado em tecnologia e videogames. Mesmo com maior aceitação do público e de quem manda na TV, o apresentador acredita que os esportes eletrônicos ainda têm um longo caminho a percorrer no cenário nacional.

"Acho que ainda existe uma resistência de tratar os eSports como esporte. Acho natural existir isso, é a resistência que eu encontrei lá em 2002. 'Videogame é coisa de criança'. Mas depois começa a surgir o aspecto financeiro", diz.

Lucas Sarti
Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

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