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RedeTV aposta no Campeonato Inglês para ir do traço à liderança no Ibope

UOL Esporte

03/09/2018 04h00

A sala está na penumbra. Extensa, a parede do fundo tem 15 monitores enfileirados. Na da frente há uma bancada em que cabem, fácil, 10 cadeiras lado a lado. As três do canto têm microfones à frente. O que fica na ponta da bancada é empunhado por um tetracampeão do mundo, Paulo Sérgio. Ao lado dele, o narrador Marcelo do Ó aumenta o estado de concentração quando o alto-falante anuncia: "30 segundos".

Pep Guardiola está em 10 monitores. Vai começar a partida do Manchester City pela quarta rodada do Campeonato Inglês e a RedeTV transmitirá com exclusividade em canal aberto. A expectativa da emissora com a atração é gigante.

"Acho que seria normal que o melhor futebol nacional do mundo dê pelo menos dois dígitos de média e que venha a brigar pela liderança", projeta Franz Vacek, superintendente de jornalismo, esporte e digital da RedeTV.

Os primeiros resultados são promissores. O executivo revela que o programa anterior dava entre 0,1 e 0,2 pontos no Ibope. É o famoso traço. Na terceira rodada, o Inglês chegou a 1,1 ponto na Grande São Paulo. Mas Franz acredita que a atração seria líder na Globo e enxerga muito potencial.

Outro bom começo foi na área comercial. A emissora vendeu duas cotas de patrocínio. Caixa Econômica e o site de apostas Bodog foram os compradores. O superintendente conta que há outras três em negociação. Fechar os contratos resultaria no binômio audiência e faturamento, o sonho de qualquer canal de televisão.

Transmissão jovem e informativa

Para conseguir bater todas as concorrentes, incluindo a Globo, a orientação passada para o narrador Marcelo do Ó foi fazer uma transmissão jovem. Com origem no rádio, cerca de 30 esportes transmitidos na carreira e Olimpíada e Copa no currículo, o homem do microfone busca equilíbrio.

Ele quer manter padrão de muitas informações instituído pela ESPN, emissora que transmite o Inglês há anos na TV a cabo. Mas também precisa traduzir o campeonato para o público da TV aberta que não está acostumado com a competição. Marcelo do Ó afirma que, se for muito técnico e específico, o telespectador não se sente convidado a assistir aos jogos, mas também precisa atender ao público tradicional.

A escolha dos convidados para comentar os jogos reflete a preocupação em atrair os jovens. Fred, do Desimpedidos, trabalhou em um jogo. Neste último sábado, foi Bolívia, do mesmo canal no You Tube, quem deu seus pitacos.

A narração de Marcelo do Ó é bastante didática e ele explica qual seleção cada jogador defendeu na Copa. Ressalta que o Newcastle, adversário do City no sábado, já foi grande e cita jogadores que vestiram a camisa do clube no passado. Outra característica é que o ritmo é um pouco mais acelerado que o usual. Coisa que um ouvido não treinado nem percebe.

A escolha de Marcelo do Ó escancara a prioridade pelos jovens. A Rede TV também conta com o medalhão Silvio Luiz e os comentaristas Juarez Soares e Ceará. Eles ganharão programas no futuro, ms dirigidos ao público já consolidado da emissora.

Marcelo do Ó, 39 anos, foi escolhido para trazer novos telespectadores que acompanhem a emissora por muitos anos. O time é completado por Paulo Sérgio. Com passagens na Band Sports e ESPN, ele trabalhou no primeiro jogo como experiência e fechou com a emissora na sequência.

Oportunidade de mudar de patamar

A transmissão do Campeonato Inglês é tratada como uma oportunidade de mudar o status da emissora. Recém-reformado, tudo é novo nos estúdios. A redação do canal tem um lustre que faria bonito mesmo em hotel de bacana. O torneio tem até engajamento de outras áreas.

"O Edu Guedes mandou abraço, a Sônia Abraão comentou. Isto sem ninguém pedir porque todo mundo está mobilizado" explica Marcelo do Ó.

A exposição é grande e Marcelo do Ó conta que ganhou mil seguidores no dia de Arsenal contra Chelsea. Nada mal para quem tem 12 mil seguidores.

"O primeiro divisor de águas da minha carreira foi ser contratado pela Rádio Globo. Esta é para ser o segundo".

A aposta da emissora também inclui um correspondente em Londres. O repórter faz matérias para os jornais da RedeTV e trabalhou em pré-jogo. O contrato permite que esteja em campo e isto deve acontecer a partir deste mês. Também há possibilidade de fazer uma transmissão direto do estádio, algo que pode vir a acontecer.

RedeTV quer segundo campeonato europeu

A negociação para ter o Campeonato Inglês na grade foi longa, começou há nove meses. A partir do momento em que perdeu a Série B, os executivos passaram a procurar um torneio para substituir a competição. A ESPN Brasil foi consultada e as tratativas foram lentas.

A parte comercial também foi complicada porque a maioria das agências e dos anunciantes estavam envolvidos com a Copa do Mundo. Ainda assim, as exigências foram atendidas, houve patrocinadores e o Inglês está no canal. Por quanto tempo é mistério. A duração do contrato não é revelada por causa de uma cláusula de confidencialidade.

Mas com este contrato fechado, a emissora busca um segundo campeonato europeu para transmitir e ganhar corpo no futebol. O superintendente de jornalismo, esporte e digital da Rede TV, Franz Vacek, não adianta nomes, mas não deu esperanças de ter Neymar na emissora. Ele disse que o Campeonato Francês é o mais complicado no momento.

Mas o executivo ressalta que hoje a RedeTV é o único canal de televisão aberta com jogos de campeonatos europeus. Ele quer que o público passe a lembrar que todo sábado, às 13h30, haverá partida na TV aberta.

Franz lembra que Esporte Interativo e Fox Sports passam por transformações e afirma que a RedeTV se tornou um player neste cenário. O superintendente ressalta que vontade nunca faltou.

"Faltou oportunidade em um mercado monopolizado. Conseguimos furar bloqueio e mostrar que a emissora é viável. É muito importante que não sejam só um ou dois microfones no Brasil que possam transmitir esporte."

Felipe Pereira e Carolina Alberti
Do UOL, em São Paulo

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