Pioneira no basquete, árbitra brasileira vai comentar jogo da NBA na ESPN
UOL Esporte
04/05/2018 11h33
Árbitra brasileira Andréia Regina Silva (Foto: Arquivo Pessoal)
Pioneira ao se tornar a primeira mulher com licença para apitar qualquer jogo masculino organizado pela Federação Internacional de Basquete (Fiba), Andréia Regina Silva vai derrubar mais uma barreira nesta sexta-feira (4). A brasileira vai participar da transmissão da ESPN de New Orleans Pelicans x Golden State Warriors, jogo válido pelos playoffs da NBA, se tornando a primeira árbitra a comentar um jogo da liga profissional americana na emissora.
No ano passado, Andréia recebeu a licença black da Fiba, o que a credencia a apitar qualquer jogo de basquete masculino da entidade. Hoje, ela é a única mulher do mundo nesta situação. Entre os jogos de homens que ela arbitrou, está Estados Unidos x Cuba, disputado dia 23 de fevereiro e válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019.
"Lá, eles sabem que são considerados o melhor basquete do mundo. É cultural. Chegam no ginásio de terno e saem de terno. Levam como uma profissão. Por isso, não são muito de falar com a arbitragem em jogos da Fiba. Na NBA, conversam mais porque se conhecem, se veem o ano inteiro", comparou Andréia, em entrevista ao UOL Esporte.
Sua experiência apitando jogos de basquete masculino tornou a árbitra pioneira no basquete mundial. Exceção, ela acredita que é mais difícil para uma mulher chegar ao status que ela atingiu por conta do machismo presente no meio esportivo.
"Para mim, é um desafio. Por ser melhor, já existe um pouco de preconceito. Não sofro mais com isso, mas acredito que as mais jovens ainda sofrem. A mulher tem que errar menos que o homem. Isso acabou me treinando. Sou um pouco perfeccionista. Sei que perfeição não existe, mas excelência existe. Hoje eu sou referência para as meninas que estão começando. Vejo isso com responsabilidade. Me cuido fisicamente, me preparo fora da quadra, aperfeiçoo meu inglês. Não é só apitar", contou.
Nesta sexta, Andréia vai derrubar mais uma barreira ao se tornar a segunda mulher ao participar de uma transmissão de NBA da ESPN – a primeira foi a jornalista Alana Ambrósio. A primeira árbitra a comentar para a emissora diz que acompanhou a campanha "Deixa ela trabalhar", que pede o fim de assédio e machista contra jornalistas esportivas, e pede mais espaço para as mulheres nas duas esferas.
"Hoje eu penso bastante que as mulheres estão ganhando mercado. Tem que ser muito boa no que faz. Competente. Tem que ser duas vezes melhor. Não é gênero que determina, e sim o potencial. Isso existe também não só no basquete, mas no futebol, no handebol. Infelizmente, existem profissionais ruins que acham que, ao ver uma mulher se aproximar, podem ganhar algo em troca. É cultural. Acredito que está mudando. Por um lado, fico muito feliz por ser a única árbitra com licença black, mas por outro lado não é legal. Quero mais mulheres apitando. Preciso de mais mulheres apitando", pediu.
Convidada para a transmissão da ESPN, Andréia pensa em seguir os passos de Renatinho, ex-árbitro que comenta jogos de basquete para o SporTV. Ela afirma que já até se planeja para investir na possibilidade.
"Há uns dois meses, estava brincando com um amigo, projetando meu futuro, e pensei que quem sabe algum dia eu não ia receber um convite de uma televisão para comentar NBA? Não posso comentar Fiba porque tenho contato com muitos árbitros. Mas NBA eu posso. Estava comentando de fazer aulas de dicção, de investir nisso", revelou Andréia, que se disse à vontade para comentar também a parte técnica como faz Renatinho.
A árbitra vai participar da transmissão ao lado do narrador Rômulo Mendonça e do comentarista Zé Boquinha. A partida é a terceira da série, disputada em formato melhor de 7 – os Warriors venceram os dois primeiros jogos. Antes disso, Andréia também estará presente no ESPN League, programa da emissora sobre ligas americanas de esporte.
Polêmicas da arbitragem americana
Ao longo desta temporada, uma crise de relacionamento entre árbitros da NBA e outras esferas da liga estourou, com direito a alfinetadas públicas. Para Andreia, os juízes americanos não merecem críticas, mas precisam estar cientes da constante necessidade de evolução.
"Acho que precisamos melhorar em tudo sempre. Assim como os jogadores ficam maiores, mais rápidos e mais dinâmicos, a arbitragem também tem de melhorar", declarou.
Um dos temas da controvérsia é o relatório dos dois últimos minutos, em que a liga aponta erros e acertos de cada árbitro na reta final de partidas. Segundo Andréia, a iniciativa deve ser vista como uma oportunidade para melhorar, e não como uma crítica pessoal.
"Acho que ajuda. Acho que nós temos de aprender a receber uma crítica construtiva. Se eu receber um relatório da Fiba, tenho de usar isso a meu favor. Não posso ficar com melindre. Se você tiver uma cabeça aberta, pode ajudar a melhorar. O público vai ver de qualquer jeito na televisão. Errar e acertar faz parte. Nos dois minutos finais, o jogo está mais quente, os ânimos estão à flor da pele. Não só para os jogadores, para os árbitros também. A gente também sente pressão, adrenalina. Temos que controlar e não deixar passar para o apito", constatou.
Por Lucas Pastore
Do UOL, em São Paulo
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