Como plano de Galvão Bueno fez carreira de Jota Júnior decolar
UOL Esporte
26/07/2017 04h00
Há 18 anos no SporTV, o narrador José Francischangelis Júnior, conhecido como Jota Júnior, iniciou a carreira em rádios do interior de São Paulo, nas proximidades de Americana, onde vive até hoje. O profissional que teve também passagem pela Band ganhou destaque na rádio Gazeta AM nos anos 1970. Mas essa história toda tem uma pessoa que fez total diferença com uma 'artimanha': Galvão Bueno.
Tudo começou quando o irmão de Jota Júnior, Pedro, convenceu o jornalista a participar de um concurso para narradores, comentaristas e repórteres da rádio Gazeta AM. Na época, Jotinha estava na Rádio Brasil de Campinas e não se animou muito com a ideia do familiar, mas decidiu ir.
"Trabalhando no interior eu tinha como meta chegar à capital. E na época (1976) a Gazeta é quem abria espaços para novos locutores comentaristas e repórteres. Promovia concursos, seleções e numa dessas fiz e fui aprovado", contou Jota Júnior em entrevista ao UOL Esporte.
Mas a contratação não aconteceu assim tão fácil como parece. Isso porque o diretor da rádio Milton Peruzzi não gostou do estilo de narração de Jota e desaprovou a contratação. Após 15 dias do teste, Galvão Bueno – que na época era comentarista da rádio Gazeta AM – entra na história inconformado com a escolha do chefe da emissora.
"Mesmo aprovado no concurso, o chefe da equipe Milton Peruzzi tinha restrições ao meu estilo de narração. Foi aí que entrou o Galvão Bueno juntamente com Roberto Petri – coordenador da equipe – fazendo pressão junto ao Peruzzi para me contratar. Com muitos postos em estádios num domingo eles me colocaram na escala e pude narrar alguns minutos do meu jogo sem Peruzzi saber. E finalmente fui contratado", explicou Jota.
Além do jogo principal que seria transmitido na Rádio Gazeta, eles faziam a cobertura de outros jogos ao mesmo tempo, com pequenos espaços para narrações. Sem Milton Peruzzi saber, Galvão Bueno armou com Roberto Petri para Jota Júnior narrar um dos jogos de ponta no estádio Brinco da Princesa em Campinas.
O comandante da jornada era justamente Milton Peruzzi, que estava fazendo um jogo no Pacaembu. Quando ele girou a equipe e chamou o jogo de Campinas entre Guarani e São Bento, Jota pensou "é agora ou nunca", narrou como se não tivesse amanhã e foi contratado de vez.
"Eu falei: 'Não podemos perder esse rapaz tão bom de Americana, que está trabalhando em Campinas'. E aí nós armamos uma armadilha com Peruzzi. O Jota Júnior entrou e vendeu o peixe dele. Peruzzi olhou para mim e eu falei: 'bom, hein?'. E o Peruzzi me falou: 'Bom mesmo, mas quem é esse garoto aí?'. Eu respondi: 'É aquele que você não queria'", falou Galvão Bueno em entrevista ao documentário acadêmico A Outra Face do Gol: Jota Júnior.
"Foi sim (um divisor de águas). Foi meu primeiro passo em São Paulo para mostrar meu trabalho. A Gazeta revelava profissionais e era uma vitrine importante", comentou Jota.
Galvão chama Jota para narrar na Globo
(Foto: Gustavo Amorim)
Não foi só do início da carreira de Jota Júnior que Galvão Bueno participou. O narrador indicou Jota Júnior para trabalhar na Globo. Mas o americanense estava na TV Bandeirantes naquele momento e preferiu permanecer na equipe ao lado de Luciano do Valle, seu grande amigo.
"A primeira proposta que tive da Globo foi em 1989, e depois, em 1994, a dois meses da Copa do Mundo, é claro que me balançaram. Porém não me sentia seguro para encarar uma missão dessas. E também a Bandeirantes através de Luciano do Valle me cercou de muito carinho e de reconhecimento profissional e decidi não aceitar os especiais convites da Globo", explicou Jota.
Em 1989, Jota teve uma reunião com Galvão e o diretor da época, Leonardo Griner. E o narrador de Americana conversou com Luciano do Valle, que comandava o esporte na Bandeirantes, focou em sua missão lá.
"Conversamos, fomos almoçar e ficou tudo certo. Quando eu fosse fazer seleção brasileira, ele faria Fórmula. Estava tudo certo, casava perfeitamente Jota Júnior com Rede Globo. Não quis morar no Rio, ele não consegue sair de Americana. Então foi a única vez que ele me traiu", brincou Galvão Bueno em entrevista ao documentário A Outra Face do Gol: Jota Júnior.
Em 94, Jota teve uma nova chance de entrar na Globo, às vésperas da Copa do Mundo. E o narrador, cotado para ser o locutor principal da emissora de jogos no Rio de Janeiro, recusou novamente.
"A reação de Galvão foi de não aprovar minha decisão mas é claro que respeitou. Agradeço até hoje o empenho e o carinho dele como amigo e depois ele entendeu a minha atitude. Galvão é um amigo de 40 anos", destacou Jota.
Cinco anos depois, Jota foi demitido da Bandeirantes, mas logo em seguida foi contratado pelo SporTV e, desde então, é um dos principais narradores do canal de esportes fechado da Globosat.
"Dois meses depois da minha saída da Band – março de 1999- recebi o convite do SporTV e de pronto aceitei. Já são 18 anos de casa e onde encontrei um ambiente altamente profissional e de relações humanas fantásticas. É minha segunda casa", falou Jota.
Beatriz Cesarini
Do UOL, em São Paulo
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