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Mauro Cezar celebra êxito familiar: “filho tem que torcer pelo time do pai”

UOL Esporte

21/05/2015 06h00



Foto: Divulgação/ESPN

Qual pai apaixonado por futebol não sente orgulho dos filhos torcendo pelo seu mesmo time de coração? Não é diferente com jornalista que trabalha com futebol. Assim é com Mauro Cezar Pereira, comentarista da ESPN Brasil: "meus três filhos têm a camisa do Racing, torcem pela Academia. O garoto de 10 anos, principalmente. Acompanhamos os jogos juntos, torcemos muito e ele conhece até as músicas cantadas pelos hinchas. Isso nos une demais, não tem preço", conta.

Filho tem que torcer pelo time do pai? "Comigo foi assim e as minhas melhores lembranças com meu pai são ligadas ao futebol, em campos de várzea e nos incontáveis jogos que vimos juntos, na arquibancada do velho Maracanã. Nunca vou esquecer. E espero que os meus guardem a mesma lembrança. Fui duplamente competente, afinal, meus meninos torcem pelos meus times, no Brasil e na Argentina. E nada irá mudar isso", comemora.

Nesta exclusiva ao UOL Esporte o niteroiense, conhecido pela franqueza na defesa de suas opiniões, fala sobre essa sua postura, liberdade de imprensa e sobre jornalistas que não revelam o time de infância, como é seu caso. "Acham normal que a mulher tire as roupas diante de um médico, porque confia no profissionalismo do doutor, que não misturará as coisas, mas duvida que um jornalista seja capaz de analisar futebol com isenção, deixando a velha paixão de lado enquanto expõe o que pensa. Não ficam perguntando ao analista político em quem votou, se é de direita ou de esquerda. Quando exerço minha profissão, nada é mais importante do que ela. Minha velha paixão futebolística fica de lado". E garante não aliviar para time nenhum: "não estou aqui para isso. Digo o que penso da forma mais direta e sincera possível". E disse mais nesta entrevista. Veja abaixo.

UOL Esporte: O que o fez trocar Niterói e o Rio de Janeiro por residir e trabalhar em São Paulo?
Mauro Cezar Pereira:
Eu era repórter de "O Dia" quando comecei a escrever para "Placar", em 1991. Fazia frilas para a revista e em 1993, quando estava no "Jornal do Brasil" há quase dois anos, recebi o convite para trabalhar na redação, em São Paulo. Como minha função no novo emprego seria de editor, sabia que não iria à Copa do Mundo de 1994 ao fazer tal opção, algo que era certo caso permanecesse no Rio de Janeiro. Abri mão de cobrir um Mundial, mas a oportunidade valia a pena e não me arrependo nem um pouco. A Copa dos Estados Unidos acabou e eu estava num mercado maior, onde tive oportunidades que jamais receberia se permanecesse onde estava, dentro e fora do jornalismo esportivo. Em mais de duas décadas trabalhei em jornal, revista, rádio, internet e televisão. Até releases para assessoria de imprensa escrevi. Cobri esportes, mercado automobilístico, economia, tecnologia, fiz matérias de política, temas diversos e dei aula em faculdades de jornalismo e Rádio e TV. Em nenhum outro mercado eu teria tantas chances e aprenderia como aprendi trabalhando em São Paulo. E aprendi a gostar da cidade sem romper meus laços afetivos com Niterói, onde cresci.

Alguns telespectadores ficam chocados com certa franqueza sua em dizer coisas que muitos não falam no ar, na maneira como vai para o confronto nas mesas redondas da ESPN Brasil. Houve até quem visse inimizade sua com PVC nos momentos derradeiros dele a serviço do canal. O que tem a dizer sobre tudo isso?
Se trabalho num veículo que me dá liberdade de expressão, procuro exercê-la. Não vejo forma mais honesta. Os confrontos são inerentes aos programas de debate. Aliás, na ESPN somos bem educadinhos, na maioria das vezes esperamos o outro terminar de falar, sem interromper, e as discordâncias não são tão frequentes assim. Já em outros canais de TV e nas rádios a turma quebra o pau e ninguém estranha. Talvez por isso alguns debates mais quentes provoquem certa reação de alguns fãs de esportes. É natural que as pessoas, em debates, elevem o tom de voz e defendam seus pontos de vista com veemência. O Paulo, que você citou, sempre gostou de longas explanações e defende suas opiniões de vista de maneira firme, o que é bom. Quando trabalhávamos juntos e discordava, eu apenas… discordava, ora. E apresentava meus argumentos. Quem acompanha tem a chance de concordar com uma das opiniões apresentadas ou discordar de todas. Mas se alguém não consegue encarar esse tipo de confronto de ideias com maturidade, paciência. Acho que deveríamos ter mais debates assim, isso ajuda a pensar, eleva o nível das reflexões feitas por nós e pelos que nos assistem. Mas se num programa que se propõe a ser de debates alguém não pode interromper o outro nem no calor da discussão, melhor criarmos programas de discursos. O cara fala, fala, fala e todo mundo fica só ouvindo. Seria bem chato, como horário político.

Já houve bate-boca na ESPN entre colegas após um bloco ou fim de programa que teve debate mais acalorado?
Não me recordo de algum bate-boca fora do ar. Se aconteceu, eu não estava presente.

Alguma vez você achou que passou do ponto, que foi mal-educado, que falou alguma grosseria ou usou um tom agressivo demais com um colega durante o debate?
É possível que eu tenha passado do ponto e que também tenham passado do ponto comigo, especialmente quando o colega não cede a palavra, fala sem parar por vários minutos e não aceita ser interrompido. Ou quando o camarada deturpa algo que é dito para sustentar o próprio ponto de vista, aí é dureza, não dá para aceitar calado, tem que marcar posição, sim, ou vai parecer que você acha que preto é branco e azul e vermelho. Distorcer a opinião do outro é algo intolerável. Mas debates quentes são válidos, desde que tenham conteúdo, não sejam falsas discussões.

O jornalismo esportivo está exageradamente politicamente correto?
Muitas vezes sim. Essa questão dos debates e sua repercussão é um exemplo disso. E a maneira como alguns sites repercutem esses momentos é absolutamente patética. Uma caça aos cliques apelativa e que tenta transformar algo que faz parte de programas numa crise, num problema. Como jornalista eu não gostaria de estar no lugar de quem passa os dias escrevendo e editando isso.

Na TV aberta só teve ex-jogador comentarista na Copa do Mundo do Brasil. Zero analista jornalista. Qual sua opinião?
Nada contra o ex-jogador que vira comentarista. Tudo contra o ex-jogador que vira comentarista e não se prepara, trata nossa profissão como hobby ou apenas um trampolim para não se esquecerem dele e então arrumar alguma nova atividade no futebol. Se o cara é capaz e leva a sério, okay.

Dupla de comentaristas, com jornalista ao lado do boleiro, é por aí o caminho?
Se o jornalista for bom comentarista e o ex-jogador também, pode ser interessante.

Sente falta do Lúcio de Castro como colega na TV? Em recente entrevista ao Yahoo!, ele falou sobre o papel da reportagem e comentou sobre o excesso de programas opinativos no veículo, da tendência de mais "ao vivo". Que te parece?
Trabalhar por cerca de quatro anos diariamente no mesmo programa do Lúcio foi um aprendizado. Também acho que seria positivo se as TVs em geral tivessem mais matérias com maior conteúdo, que avancem além do factual, das entrevistas de jogadores e técnicos. Reportagens que tenham repercussão.

Com a chegada do Fox Sports ao Brasil e a consequente aquisição de vários eventos e contratação de profissionais de porte por esse canal, a briga no segmento de TV esportiva ficou bem mais acirrada, não? Como você vê essa concorrência no Brasil?
Positiva. Amplia o mercado, gera empregos e dá mais opções ao fã de esportes. Hoje, por exemplo, o Campeonato Inglês tem rodadas quase inteiras exibidas aqui no Brasil, pois há mais um canal importante mostrando a Premier League. Isso significa mais alternativas e quem liga a televisão sai ganhando. E com os direitos de transmissão caríssimos, acredito que o mercado amadureça na direção do compartilhamento de eventos, como é comum nos Estados Unidos.

Após a perda da Liga dos Campeões, manter direitos do Inglês e do Espanhol, ainda que eventualmente compartilhados, virou obrigação para a ESPN Brasil?Tal questão cabe à direção do canal, sou apenas comentarista, não participo de decisões estratégicas, mas tenho certeza que a ESPN vai seguir batalhando para levar o melhor. E mesmo com ótimos caras trabalhando nas outras emissoras, temos um grupo de profissionais difícil de se equiparar. Nosso time é um trunfo que a ESPN mantém.

Teme que a ESPN perca relevância entre os telespectadores por falta de eventos esportivos de porte em sua grade, sobretudo de futebol, que é a modalidade preferida do telespectador brasileiro?
Quando a PSN apareceu no mercado comprando tudo, muita gente pensou isso, mas a ESPN seguiu. Claro que o cenário hoje é outro. A Fox é um canal internacional consolidado e obviamente chegou ao Brasil para brigar pelo mercado, não será algo passageiro como foi a PSN. Mas a ESPN não perderá relevância, pois construiu uma história de credibilidade e bom jornalismo ao longo de mais de duas décadas. Isso não acaba assim, tampouco acredito que a ESPN fique sem eventos.

Comentar Brasileirão, quarta e domingo, em TV aberta, com muito mais exposição do seu trabalho, é algo que o seduz, tem esse desejo?
Gosto demais do meu trabalho e amo o jornalismo, não apenas o esportivo. E na minha função de comentarista, transmitir jogos de futebol, especialmente no estádio, é a sempre algo muito importante, mas não é tudo.

Não vou perguntar o seu time, mas se quiser, pode dizer. Mas em sua casa, esposa e filhos torcem por times aqui de São Paulo ou do Rio?
Não revelo abertamente meu time de infância porque muitas pessoas que nos acompanham, quando associam o jornalista a um clube, acham que ele não é capaz de separar as coisas. O cara acha normal que a mulher dele tire as roupas diante de um médico porque confia no profissionalismo do doutor, acredita que ele não misturará as coisas – e assim deve ser, claro -, mas esse mesmo sujeito duvida que um jornalista seja capaz de analisar futebol com isenção, deixando a velha paixão de lado enquanto expõe o que pensa. As pessoas querem saber para quem torce o jornalista esportivo, mas não ficam perguntando ao analista político em quem ele votou, se é de direita ou de esquerda. Sempre vivi dos salários pagos pelas empresas por onde passei e quando exerço minha profissão, nada é mais importante do que ela. Minha velha paixão futebolística fica de lado. Se o sujeito não é capaz disso, melhor trabalhar em outras áreas do jornalismo. Em mais de dez anos de ESPN, já fui chamado de torcedor de vários times e não há um grande brasileiro cuja torcida jamais tenha me xingado. E isso acontece porque não alivio nenhum deles. Não estou aqui para isso. Digo o que penso da forma mais direta e sincera possível. Sobre a família, meus filhos e minha mulher torcem por times brasileiros, embora até tenham simpatia por equipes europeias. Desde pequenos os levo aos estádios, infelizmente não com a frequência que gostaria por causa de minha escala de trabalho, que toma os finais de semana. Meus três filhos têm a camisa do Racing, torcem pela Academia. O garoto de 10 anos, principalmente. Acompanhamos os jogos juntos, torcemos muito e ele conhece até as músicas cantadas pelos hinchas. Isso nos une demais, não tem preço. Filho tem que torcer pelo time do pai. Comigo foi assim e as minhas melhores lembranças com o meu pai são ligadas ao futebol, em campos de várzea e nos incontáveis jogos que vimos juntos, na arquibancada do velho Maracanã. Nunca vou esquecer isso. E espero que os meus guardem a mesma lembrança no futuro. Hoje posso dizer que fui duplamente competente, afinal, meus meninos torcem pelos meus times, no Brasil e na Argentina. E nada irá mudar isso.

Rogério Jovaneli
Do UOL, em São Paulo

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