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Mãe de Galvão foi atriz famosa. Mas saúde do filho interrompeu o sucesso

UOL Esporte

18/04/2015 06h01


O papel de mocinha caía como uma luva para Mildred dos Santos na década de 40, quando a televisão dava os seus primeiros passos no Brasil. A voz doce e meiga, a beleza e o jeito atraente lhe garantiam o posto de protagonista das primeiras telenovelas do país ainda na extinta TV Tupi. Os tempos não eram de selfies, mas a estrela já parava as ruas do Rio de Janeiro com fãs enlouquecidos por autógrafos e abraços.

Hoje, quase 70 anos depois, poucos a conhecem nas ruas. O passar dos anos tornou Mildred uma bela senhora de 86 anos cheia de vitalidade. Mas ela preferiu sair de cena para deixar brilhar seu filho: o narrador global Galvão Bueno.

Depois de enfrentar a transição entre rádio e televisão, Mildred ingressava no veículo novo como uma das mais importantes artistas e com carreira ascendente. Mas a dificuldade de conciliar o trabalho puxado com as obrigações da maternidade, especialmente naqueles longínquos tempos, a fez optar pela vida familiar.

Ela conta que ainda nos primeiros anos da infância o pequeno Galvão começou a apresentar alguns problemas de saúde. O médico logo decretou o diagnóstico: falta de mãe.

"Meu filho apresentava problemas, ele começou a piscar sem parar e eu não entendia o que ele tinha. Levei ao médico e o médico falou que era falta de mãe. Eu me lembro que ele adorava maçãs e picolés. Um dia eu disse que tinha que trabalhar para comprar os picolés. E ele respondeu: 'mamãe, eu não gosto mais de picolé'", contou ela, ao UOL Esporte.

Mildred não titubeou em interromper a carreira em meados dos anos 50 quando o filho tinha entre cinco e seis anos. Quase 70 anos depois, não se arrepende, especialmente diante do resultado final. A mãe coruja sente muito orgulho da trajetória do filho que se transformou no maior ícone da narração esportiva no país. O locutor se tornou a voz 'oficial' da seleção brasileira e das corridas de Fórmula 1 e é uma das figuras mais conhecidas do povo brasileiro.

"Eu larguei a minha carreira cedo, mas valeu a pena. Eu fico admirada de ver o meu filho e ver o que ele é hoje, tudo o que ele conquistou. Eu nem vi o tempo passar, hoje vejo que ele se transformou em uma pessoa maravilhosa e simples".

Mildred deixou a carreira de atriz, mas não ficou parada. Hoje ela preside a Associação Beneficente Galvão Bueno, criada pelo filho e que realiza um trabalho filantrópico com idosos. Para se dedicar ao Centro de Convivência para o Idoso, ela deixou o Rio de Janeiro e se mudou para Londrina.

A vida fora dos holofotes no Paraná é bem diferente da que levava nos primeiros anos de vida. Aliás, ela nasceu já predestinada a brilhar. Autor do livro "A Era do Radioteatro", da Gramma Editora, e estudioso no assunto, Roberto Salvador conta que o pai da atriz era um oficial do Exército muito rígido, mas com apreço pelo teatro e pelas artes.

Quando a filha nasceu, ordenou que o quartel fizesse um toque festivo com uma salva de 21 tiros de canhão. Ainda decretou que a herdeira teria nome de artista e seria atriz.

Anos mais tarde a previsão se concretizou. Mildred começou a carreira aos 14 anos na Rádio Clube do Brasil e, pouco depois, começou a fazer papel de menina na Tupi e na Tamoio. Já adulta migrou da rádio para a TV e trabalhou com nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo e Chacrinha.

Os vários papéis como mocinha a fizeram virar centro de um tema polêmico na época: os beijos nas novelas. Segundo Roberto Salvador, na era do rádio os atores beijavam as próprias mãos e aguçavam a imaginação dos ouvintes. Mas na televisão os beijos precisavam ser reais. Protagonista de vários papéis de mocinha, Pequetita, como era chamada, se tornou uma das atrizes mais beijadas da época.

"Ela brinca que era a mulher mais beijada do rádio e da televisão. O Paulo Porto, que era um galã na época do Radioteatro e um nome muito relevante, fez par com ela várias vezes. O Paulo dizia que ela era a atriz que beijava melhor na televisão. Foi preciso bastante compreensão da família para aceitar os beijos na TV naquela época", conta Roberto.

Mas Mildred logo teve a compreensão do marido Aldo Viana, pai de Galvão Bueno e que também era ator e ainda acumulava outras funções na área como a de escritor, roteirista e diretor de programas.

Fãs encaram 4 h na fila para ver Galvão e imitam bordões famososApesar da carreira curta, Mildred deixou seu nome marcado na história do rádio e da televisão. Uma citação do livro "A Era do Radioteatro" ressalta bem o que ela representava na época.

"Ela conquistou o coração do público, realmente. Eis uma prova: certa vez, foi a Nova Iguaçu junto com outros artistas da Tupi. Entre eles Paulo Porto, um dos grandes galãs da época, e Jaime Filho. Era comum os atores complementarem o salário usando seu prestígio junto ao público, fazendo apresentações em teatros, cinemas e até circos fora da capital. Terminada a apresentação, o público acorreu pedindo autógrafos. Solícita, mas inexperiente, começou a atender ao público. Mas o entusiasmo era tamanho que a jovem ficou espremida no meio dos fãs quase sem poder respirar, sendo beijada e abraçada pela multidão. Foi quando Porto e Jaime vieram em seu socorro e conseguiram retirá-la do tumulto. "Levei uma enorme bronca do Paulo Porto. 'Nunca mais faça isso, ouviu?', me disse ele furioso." Fora realmente uma temeridade. Mildred se transformara num mito. Foi atriz pioneira na televisão Tupi para onde levou o prestígio conquistado no Radioteatro", diz a publicação. De fato, a história mostra que o astro Galvão Bueno tem a quem puxar.

Luiza OIiveira
Do UOL, em São Paulo

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Crédito da foto: Thiago Duran e Paduardo/AgNews

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