Repórter da Fox teve que mudar de nome porque ninguém sabia pronunciá-lo
UOL Esporte
04/03/2015 06h00
Nem a mãe de Gudryan Neufert tem certeza sobre a pronúncia do nome do repórter da Fox Sports. "Dependendo do humor, ela fala Gúdryan ou Gudryán", diz o jornalista catarinense, de 41 anos, cheio de paciência para explicar (mais uma vez) a pronúncia de seu nome. "Eu tendo a falar mais Gudryán, mas acho que as duas formas estão corretas".
Ele pode não fazer caso sobre a sílaba tônica, mas precisou lutar muito durante a carreira pelo direito de carregar o próprio nome. Nas redações da vida, já se rebatizou duas vezes por sugestão de chefes. E sugestão de chefe, você sabe, é um pouco mais do que isso.
Quando chegou a Florianópolis para trabalhar na afiliada da Globo local, um editor encasquetou logo de cara com Gudryan. "Na boa, esse é muito difícil, escolha um nome artístico que seja mais fácil de falar na TV", disse. O repórter pensou em protestar ("Eu não sou artista pra ter nome artístico!"), mas acabou escolhendo uma coisa mais simples.
Assim nascia, aos 23 anos, o repórter Carlos Neufert, rebatizado em homenagem ao pai e ao avô, ambos Carlos. "Era meio ridículo porque tudo mundo me chamava de Gudryan e na TV tinham que falar Carlos", lembra. "Às vezes esqueciam que estávamos no ar e saía Gudryan mesmo."
A esquizofrenia durou uns seis meses.
Na Globo de São Paulo, quando já fazia reportagens esportivas, ele voltou a ser quem sempre havia sido. Rebatizado outra vez, participava da cobertura da Copa de 2002 quando surgiu a notícia de que Pelé tinha passado mal. O repórter foi mandado à frente do Hospital do Coração.
Da Ásia, o narrador Cléber Machado interrompeu a transmissão de uma partida de Copa do Mundo para noticiar o estado de saúde do Rei do Futebol. "Mais informações sobre Pelé com o repórter Gu… Gudr… Gudran Neu…", gaguejou o narrador. "Gudryan Neufert!"
"Quando eu cheguei na redação, o comentário da chefia era um só: você precisa mudar de nome!"
Dessa vez, o prenome foi poupado. Sobrou para o alemão, Neufert, substituído por um tradicional Fernandes, oriundo da família de seu pai.
"Eu não gostava muito dessa história", diz o repórter, que hoje conseguiu restabelecer o Gudryan Neufert novamente (de uma vez por todas?).
"Nome é nome, é como você gosta de ser chamado. Esse negócio de mudar é um resquício dos anos 80, 90, quando os atores escolhiam nome artístico para ficar mais fácil pro público. Hoje, as pessoas já estão mais acostumadas a ouvir e pronunciar coisas diferentes."
Ele vai além em seu engajamento a favor dos nomes complicados: "Essa diversidade retrata a própria diversidade do Brasil. Nada a ver essa coisa de padronizar tudo."
Freud explica
Natural de Blumenau, de ascendência alemã, Gudryan agora dá um pequeno curso aos colegas que precisam chamá-lo ao vivo na televisão. "Escreve-se Neufert, mas fala-se Nóifer, assim como Fróid se escreve Freud", ensina ele aos profissionais da emissora.
Outro dia, uma funcionária de limpeza chegou à redação da Fox com um bebê no colo, anunciando aos quatro ventos: "Gudryan, esse é meu neto e ele foi batizado em sua homenagem". O repórter se emocionou.
Ele tem feito algumas pesquisas na internet e diz que nunca encontrou um Gudryan mais velho que ele. "Os que encontro no Facebook são sempre molecada". Pergunto se ele acredita que, por estar aparecendo na televisão, pais e mães têm batizado filhos em sua homenagem.
"Seria muita pretensão minha achar isso né? Pode ser que sim, quem sabe…"
Mas quando sua filha nasceu, o repórter de nome exótico não hesitou na hora de batizar a bebê.
Por via das dúvidas, ela se chama Carolina.
Adriano Wilkson
Do UOL, em São Paulo
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