Globo exalta Senna, mas mostra lado sujo e com crítica até de Galvão
UOL Esporte
27/04/2014 11h46
O terceiro episódio do documentário exibido pelo Esporte Espetacular detalhou a personalidade ultra competitiva de Ayrton Senna. A reportagem teve o mérito de fugir do discurso ufanista, comum quando se analisa o ídolo da Fórmula 1.
O documentário mostrou algumas facetas de Senna: a do homem que impressionava pela bondade e feitos, como o histórico triunfo em Interlagos, em 1991, mas também retratou um esportista que de tão obcecado pela vitória era capaz de agir de maneira desleal nas pistas.
A intensa rivalidade com Alain Prost pontuou o episódio deste domingo. O acidente entre Senna e Prost no GP do Japão em 1990 foi apresentado como um "ato antidesportivo do brasileiro", mas também como resposta por ter sido "roubado" pela FIA um ano antes, quando lhe foi tirado o título.
Ao mesmo tempo em que endeusa Senna, tratando o piloto como o "Brasil que deu certo", Galvão Bueno entende que o piloto agiu erradamente ao provocar acidente com Prost em 1990, batida que definiu o título ao brasileiro.
Para o narrador, Senna deu troco em Prost usando o mesmo jogo sujo de um ano antes.
"Foi uma fase triste da Fórmula 1. Foram dois títulos disputados com atitudes antidesportivas", entendeu o narrador.
"Aquilo foi falha de caráter do Ayrton", reforçou Derek Warwick, ex-piloto.
O então presidente da entidade, Jean-Marie Balestre, na opinião dos entrevistados, agiu claramente com o intuito de beneficiar o compatriota Prost, tirando a vitória de Senna no GP do Japão em 1989. Sem os pontos de Senna no Japão, Prost, consequentemente, foi determinado pela FIA como o campeão de 89.
Na ocasião, as duas McLarens se chocaram; Prost abandona a prova no Japão. Senna prossegue, vence, mas é desclassificado por manobrar na área de chicane.
Um mecânico da Honda relatou que Senna o agarrou pelo colarinho após Prost conseguir melhor resultado dentro da McLaren.
Melhor amigo que Senna fez na Fórmula 1, o austríaco Gerard Berger disse que o brasileiro sofria por às vezes não conseguir ser o melhor. Sobre o polêmico acidente de Senna com Prost em 1990, Berger conta que o brasileiro estava "engasgado" por tudo o que havia ocorrido um ano antes e, portanto, previa uma resposta "à altura".
"O Senna disse para mim antes da corrida: 'Preste atenção porque vou fazer um bom show hoje", sorriu Berger, sobre a disputa com Prost.
"O Prost sabia que tinha jogado [o carro em cima de Senna] um ano antes, tanto que eles descem [dos carros após o acidente em 1990] e um fala com outro", acrescentou Galvão.
Senna zelava pela saúde dos pilotos
Ayrton tinha preocupação excessiva com a integridade dos pilotos. Ele, por exemplo, invadiu hospital para saber o estado de saúde de Derek Warwick, então piloto da Fórmula 1, que havia sofrido acidente durante uma prova.
O irmão de Derek Warwick morreria pouco depois, em um acidente automobilístico. Senna prestou solidariedade à família.
"Recebemos carta muito amada do Ayrton. Ele era uma pessoa que se preocupava com os pilotos. Não era aquela pessoa dura das pistas. As palavras transmitidas pelo Senna na carta representaram muito para a minha família", emocionou-se Warwick.
Senna demonstrava preocupação também com rivais. Ele se emocionou ao assinar mensagem de apoio a Nelson Piquet, que havia sofrido acidente gravíssimo nos Estados Unidos no início da década de 90, pela Fórmula Indy.
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