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Datena lembra tempos como repórter de campo e piadas pelo uso de trena

UOL Esporte

17/09/2013 06h00

Justiceiro, defensor das classes mais baixas e crítico dos problemas estruturais do país. Esses talvez sejam alguns dos adjetivos que José Luiz Datena carregue entre seu público que o acompanha há 15 anos nos diversos programas policiais da TV. Mas o apresentador nasceu mesmo, no jornalismo esportivo, no qual ainda faz algumas participações esporádicas em programas da Band.

Datena começou no mundo dos esportes pelo rádio. Mas já foi repórter de campo, narrador, comentarista e âncora. Uma de suas passagens mais marcantes foi na década de 90, quando era repórter de campo da TV Bandeirantes e tinha que fazer uma medição no intervalo e finais dos jogos da distância do arremate até o gol na conclusão de um jogador.

O então repórter de campo usava para isso uma trena de um patrocinador e ficou conhecido como "Datrena". A ação daquela época simboliza  a diferença de tecnologia para a atual era, onde os computadores e tira-teimas dão inúmeras informações quase que em tempo real. Datena lembra com bom humor até as piadas que ouvia.

"Até hoje reclamo com o Neto porque foi dele o gol mais longe que eu medi. Fora as piadinhas que eu ouvia dos amigos. Ô Datena, mede o meu…", falou, bem humorado.

O jornalista ainda elogiou o jornalismo esportivo atual no Brasil mas diz que não pretende voltar a atuar nesse ramo. "Eu acho que está ótimo. A molecada de hoje está muito bem e são muito mais preparados que a gente. A internet ajuda muito e a facilidade para conseguir a informação é imensa", declarou.

"Nunca mais (jornalismo esportivo). Já andei o mundo inteiro. Tinha que comer sanduba todo dia. Os caras te davam o dinheiro para pagar as contas. Por exemplo: davam 100 dólares, você gastava 20 e juntava o resto para sanar as dívidas no Brasil. Mas não dava pra nada."

UOL Esporte – Como você analisa o jornalismo esportivo atualmente?
Datena – Eu acho que está ótimo. A molecada de hoje está muito bem e são muito mais preparados que a gente. A Internet ajuda muito e a facilidade para conseguir a informação é imensa. As pessoas estudam a partida, estudam adversário, os times. Você pega esses canais segmentados e vê que a molecada tem um preparo extremo. Uma informação de qualidade. É uma coisa bem profissional, mesmo com esse montão de assessores. Na minha época era uma coisa mais romântica, era mais no talento.

UOL Esporte – Era muito diferente do seu tempo
Datena – Para você ter noção, nosso time de reportagem da Globo, a grande TV Globo, tinha que dividir o equipamento. Cada um ficava uma hora com os aparelhos, porque só tinha um. Tínhamos que ser criativos. Uma vez fiz uma matéria sobre o fantasma do rebaixamento e o assistente teve pegar um lençol branco, entrar nele e quando eu entrava e tentava desvendar o cara tinha que escorregar em um barranco para não aparecer.

Qual é a melhor faceta de Datena?

UOL Esporte – Os assessores hoje atrapalham muito os jornalistas a conseguirem boas informações?
Datena – Não é que atrapalham, é que o futebol hoje é assim. Você tem que conviver com isso. Percebi isso pela primeira vez em 1998, cobrindo a Copa do Mundo. A gente tinha que ficar segregado num chiqueiro. Eu trabalhava pela Record, os caras atendiam a Globo, a imprensa internacional e só depois vinham falar com a gente. Tinha que chegar umas três horas antes pra conseguir alguma coisa bacana. Na minha época era uma zona, hoje chamam de zona de mista (risos).

UOL Esporte – E os jogadores? Eram mais acessíveis?
Datena – Não é que os jogadores de hoje são malas, é que eles são extremamente profissionais também. E outra coisa: o jogador ganha milhões, não precisa ir na imprensa falar. Na minha época, os caras sabiam que se falassem poderiam arrumar uma transferência. Hoje não. Mas existem muitos jogadores bacanas. O David Luiz é um exemplo. O assessor da CBF, o Rodrigo (Paiva), que não cai nunca, pede para o cara não falar. Ele vai lá e fala, porque está com vontade e não está nem aí. Na seleção, isso piorou com o Dunga. Ele cagou na cabeça da imprensa e exacerbou isso de uma maneira muito ruim para quem trabalha.

UOL Esporte – E os tempos de repórter de campo em que você ficou conhecido como "Datrena"? Na época medir a distância do chute era só assim…
Datena – Cara, para você ver como era. Eu tinha que viajar o Brasil inteiro com aquele negócio (trena). Eu vivia mais com a trena do que com a minha mulher. Eu era o tira-teima da época. Hoje o cara faz brincando aquilo numa ilha de edição. Comigo era assim: acabava o jogo, eu e o técnico de som saíamos correndo para medir a distância que o cara tinha feito o gol. Até hoje reclamo com o Neto porque foi dele o gol mais longe que eu medi. Fora as piadinhas que eu ouvia dos amigos. Ô Datena, mede o meu… ?(risos)

UOL Esporte – Você comandou algumas mesas redondas, como enxerga os novos programas?
Datena – Não digo que foi uma revolução, mas acho o Tiago (Leifert) ótimo. O Osmar (Santos) já tinha esse perfil, de apresentar e fazer gozações. Eu fui o primeiro a fazer isso aqui em São Paulo e tinha o (Márcio) Canuto, em Alagoas. O Tiago pegou esse esquema numa época em que a Globo estava engessada e se deu bem. Gosto muito dele, assim como admiro o Neto. São caras que trazem o jornalismo com brincadeiras e informação.

UOL Esporte – Durante uma mesa redonda comandada por você, Luxemburgo e Marcelinho Carioca brigaram. Foi difícil apaziguar a situação?
Datena – Eu me lembro bem. Foi no programa Com a Bola Toda, na Band. Eu apresentava com o Neto, e tinham o Muller e o Marcelinho. O Luxemburgo era convidado e eu peguei e fiz uma pergunta para o Luxemburgo. Foi meio de sacanagem. Eles começaram a discutir no ar, se xingaram… eu tentei interferir, não consegui e deixei os caras se xingarem. (risos)

UOL Esporte – Você já revelou que trabalhar com o esporte foi a melhor época da sua vida. Voltaria?Datena – Nunca mais. Já andei o mundo inteiro. Tinha que comer sanduba todo dia. Os caras te davam o dinheiro para pagar as contas. Por exemplo: davam 100 dólares, você gastava 20 e juntava o resto para sanar as dívidas no Brasil. Mas não dava pra nada. Era uma época legal, mas não dá para mim, não tenho forças, habilidade e olha que fiz muita coisa legal. Você conseguia entrevistar várias pessoas que te tratavam muito bem. Hoje se você quiser entrevistar o Cristiano Ronaldo, você se fode legal. Além dos assessores, o jogador mete um fone imenso e passa pela reportagem como se você não fosse nada.

José Ricardo Leite e Vitor Pajaro
Do UOL, em São Paulo 

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