Dani Monteiro já pediu demissão por assédio e brigou para usar biquíni
Ex-apresentadora do Esporte Espetacular, tricampeã brasileira de windsurfe e especialista em esportes radicais, Dani Monteiro decidiu deixar a TV de lado no final de 2017, quando era repórter do canal Multishow. Antes, ela já havia abandonado as aventuras e as viagens longas, depois que Maria nasceu. "Minha filha nasceu em 2011 e já não podia ficar 57 dias viajando e me arriscando. Então entrei no mundo das matérias diárias, mas por mais que estivesse dentro do universo do entretenimento, uma coisa fundamental se perdeu: a mensagem, ou como gostam de chamar hoje, o propósito. Quando isso acontece, a gente perde a motivação."
A quebra do encanto e o medo de seguir o caminho de colegas, que ela notava que estavam desmotivados apesar de serem bem sucedidos profissionalmente e financeiramente, fizeram Dani deixar o glamour da TV de lado e virar empreendedora. "Comecei a trabalhar com uma gigante internacional do segmento de saúde e rejuvenescimento. É uma empresa de vendas diretas. Hoje tenho uma equipe incrível e sou apaixonada pelo trabalho. Foi sim uma mudança de carreira, uma mudança de vida. Não foi a primeira e talvez não seja a última", admite.
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Nessa entrevista ao UOL Esporte, Dani revela bastidores da sua passagem pela TV, como o dia em que se esqueceu do nome de um presidente do Flamengo durante uma entrevista ao vivo, fala de machismo e assédio, que a fizeram pedir demissão, e da sua passagem pelo mundo da música, com direito a entrevista com Cristiane Torloni e o seu "Hoje é dia de Rock, bebê!", que virou um dos maiores memes da história.
Do esporte para a TV
Dani Monteiro tinha apenas 17 anos, era vice-campeã sul-americana de windsurfe e fazia planos de morar no Havaí. Só que durante um evento na praia, ela decidiu ajudar um produtor de TV. Pegou o microfone dele e fez as entrevistas. "Isso foi parar no SporTV e me rendeu um convite para um teste. Logo depois, me chamaram para fazer parte da equipe do programa Rolé."
"Pensei muito antes de aceitar porque ia atrapalhar o meu resultado no esporte. Eu teria que pausar a minha vida de atleta para viajar pelo Brasil por três meses. Daí lembro de pensar: três meses não é nada e eu voltaria no ano seguinte com toda força. Esses três meses viraram 21 anos."
"A oportunidade de mostrar a minha paixão pelos esportes radicais aconteceu muito cedo e abracei com vontade. Queria falar para as pessoas que elas podiam aprender o esporte que quisessem e que isso lhes faria muito bem. Fui sendo promovida de menina estabanada a maluca que faz todos os esportes. Havia no meu discurso uma questão de superação de mostrar para o mundo que a gente é capaz de realizar o que quiser."
Assédio, machismo e preconceito
Dani Monteiro não esquece dos bons momentos que viveu, principalmente quando fazia parte do programa Rolé, só que tudo mudou, quando ela decidiu investir de vez na TV. "Tive muita gente para me ensinar e me ajudar, mas nessa época ainda era atleta. Quando virei 'concorrência', o bicho pegou. Sempre vinham me contar que fulano ou beltrano andava falando de mim. Só que eu tinha sido atleta e todo mundo fala de quem tá na frente. E um conselho que eu sempre me dava era: se você quer continuar na frente, melhor não olhar pros lados nem pra trás. Olhe para sua linha de chegada."
"Já fui assediada, mas nunca uma vítima. Logo no início da minha carreira um diretor recém chegado me chamou em sua sala para me diminuir a plenos brados e de porta aberta, usando um misto de machismo e assédio para me acuar. Ele queria que eu virasse repórter de campo, mas obviamente não sabia comunicar isso."
"Havia uma maldade no discurso dele, uma arrogância. Ouvi em silêncio os trinta minutos em que ele falou num tom ameaçador. Quando ele parou pra respirar, eu calmamente olhei pra ele e falei – vou pedir demissão. Lembro que ele discursava com os pés em cima da mesa e naquele instante quase caiu da cadeira. Os colegas que haviam escutado o show me olhavam de boca aberta e olhos arregalados. Naquele dia descobri que não tem nada mais assustador do que alguém que não se aceita como vítima."
Biquíni era proibido no Esporte Espetacular
"Acho que entrei no EE em 2001. Naquela época o Esporte Espetacular se levava muito a sério. Era roupa social, linguagem formal. No primeiro programa que foi ao ar, eu não podia usar biquíni. Fui questionar então com que roupa eu deveria fazer kitesurfe e windsurfe."
"Foi uma conquista programa a programa, e cada vez que a audiência respondia, ganhávamos um voto de confiança. O Caminhos da Aventura era feito de forma independente. A gente entregava o quadro pronto. Isso me distanciava da redação, mas não do público."
"Quando uma apresentadora da emissora tirou licença maternidade fizeram uma pesquisa de opinião para ver quem era mais lembrado no EE e deu meu nome. Achei que ia me encontrar. Mas depois de alguns meses não tinha salário que me fizesse ficar. Vivia com a cabeça pensando em saltar de paraquedas ou fazer outro esporte louco. Não importava o esporte, eu ia atrás do desafio. E ali, no estúdio, minha margem para desafios era mínima. Nessa época, nem improviso era visto com bons olhos. Pedi pra sair."
Profissão: esporte radical
Dani Monteiro foi praticamente a pioneira do kitesurfe no Brasil, esporte que conheceu no Havaí. Na época, apenas ela e mais três ou quatro amigos praticavam. Só que a lista de esportes radicais dela é extensa: paraquedismo, escalada, rapel, rafting, bodyboard, surfe. "Posso confessar? Hoje não pratico nada! Mas morro de saudade de saltar de paraquedas, snowboard e mergulho. Estou só esperando as crianças acompanharem para levá-las pra neve. Mas paraquedismo acho que nunca mais. Esse foi o esporte que vivi de um extremo a outro. Morria de medo, depois pirei de paixão. Não salto mais porque com certeza há riscos envolvidos com essa atividade. Mas hoje olho pro céu azul e tenho muita saudade de sair de um avião e voar em queda livre."
"No surfe, vivi fortes emoções no Havaí, na praia de Sunset, onde a força da onda é imensa. Me atirei achando que ia me dar bem e peguei certamente a maior onda da minha vida. Devia ter uns 2 metros. Para padrão Havaí é pequena, mas para o meu padrão era enorme."
"Capotei na frente da onda porque não controlei a velocidade da prancha e fiquei embaixo da água por umas três ondas sem conseguir subir. Na verdade, chacoalhava tanto que nem sabia onde era pra cima e onde era pra baixo. Ainda bem que na época treinava apneia e natação com os melhores surfistas de ondas grandes. Foi só um susto porque estava preparada para tomar caldos. Mas nunca mais."
"Naquela época, sem Instagram, Twitter e Facebook, a gente arrastava a câmera para todo lado e gravava do amanhecer ao anoitecer. Os editores enlouqueciam, mas saíam ótimas histórias. Uma clássica é a sequência de amareladas que tive para saltar de bungee jump na Nova Zelândia. Virou uma novelinha de fracassos que teve final feliz quando finalmente criei coragem na quarta ou quinta tentativa. Eu era muito ruim em todos os esportes, exceto o windsurfe."
Uma vez Flamengo
"Eu coleciono micos, mas não os chamo assim. São experiências engraçadas. Uma delas foi esquecer o nome do entrevistado em uma entrada ao vivo. E não era um entrevistado qualquer, era um ex-presidente do Flamengo. Nessa época, pra minha sorte, não havia rede social. Se existisse, teria virado meme."
Tenho certeza que a minha cara de sem graça gaguejando foi a melhor. O apresentador (Luiz Carlos Jr.) que estava no estúdio dava tanta risada que mal conseguia falar. Eu mesma começo a rir só de lembrar do episódio. Não lembro o nome dele
Hoje é dia de rock, bebê!
Na sua passagem pelo Multishow, Dani Monteiro cobriu o Rock in Rio quatro vezes e logo na primeira delas, em 2011, uma frase dita por Cristiane Torloni entrou para a história da transmissão do evento: "Hoje é dia de rock, bebê!"
"Quase ninguém sabe que fui eu. A frase ficou conhecida, a cena não. Mas ela estava muito engraçada. Fiquei olhando pra ela, será que eu tô falando grego? Será que ela não tá entendendo nada? Será que ela não tá compreendendo? Será que ela é assim? Sabe quando a comunicação simplesmente não chega no seu destino? É isso."
"Acho que no ano seguinte, ela vestiu a camisa Hoje é dia de rock, bebê! A Cristiane super puxou pra ela. Todos os outros anos (2013, 2015, 2017) eu a entrevistei. E a gente sempre lembrava e ela terminava a entrevista com o Hoje é dia de rock, bebê! Virou papo de comadre depois (risos)."
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