Entenda como a Globo joga pesado na guerra contra a Turner no Brasileirão
Quando decidiu desafiar o monopólio do Grupo Globo no mercado de direitos de transmissão do futebol brasileiro, o grupo Turner sabia que estava comprando briga com um cachorro grande. Nas últimas três décadas a maior emissora do país reinou soberana e sem concorrência em um cenário em que contava com a parcimônia de federações subservientes e clubes que dependiam do dinheiro dela como do ar que respiram. Mas não contava que iria enfrentar um adversário que usaria todas as armas disponíveis para enfraquecê-lo – ou até tirá-lo do jogo nos próximos anos.
A última batalha dessa guerra foi travada no último sábado, na transmissão de Palmeiras x Athletico. Os dois clubes têm contrato com a Turner para os jogos exibidos na TV paga entre 2019 e 2024. Depois de uma longa negociação, o Palmeiras acertou com a Globo para a TV aberta e Pay Per View. Mas, para isso, a emissora carioca foi obrigada a ceder e retirar os redutores de valor que impôs aos que fecharam com a concorrente. Os paranaenses têm acordo com a Globo para a TV aberta e ainda buscam um acerto para aumentar os valores pagos no PPV.
Leia Mais
- Globo faz marcação cerrada à TNT na volta do Palmeiras à TV aberta
- Band fecha com DAZN para transmitir Série C do Brasileirão
- Flamengo x Corinthians bate recorde da Globo na Copa do Brasil
De toda forma, a Turner teria a opção de transmitir o duelo do sábado para toda sua base de assinantes. Mas, como a concorrente decidiu exibi-lo para São Paulo e Paraná, optou pela não exibição para capital paulista. A ideia foi evitar uma concorrência direta (e desproporcional) em plataformas com abrangências e escalas completamente distintas. Essa possibilidade está no contrato entre o Palmeiras e o grupo americano, que prevê que dois jogos do time não seriam exibidos para a cidade/praça onde seriam realizados.
Essa mesma condição estava no acordo de todos os clubes que fecharam com a Turner. Mas com a imposição dos redutores, aceita por todos menos o Palmeiras, na prática perdeu o efeito. Prova de que a estratégia da Globo deu resultado é que a Turner não divulgou os números da audiência do Palmeiras x Athletico. Tudo indica que foram baixos, o que de certa forma já era esperado por conta da concorrência global.
Na TV aberta, a audiência bateu os 17 pontos, dois acima da média do mesmo horário ocupado semanalmente pelo "Caldeirão do Hulk". Comparado ao domingo, o resultado foi inferior, pois dificilmente a audiência cai para menos 20 pontos em partidas do Brasileirão nesse dia.
Mas o que é o bloqueio de praça?
O bloqueio de praça foi a ação mais pesada da Globo na guerra com a Turner. Como a maioria dos clubes depende do dinheiro da emissora para pagar suas contas, acabaram aceitando a cláusula que determina redutores de cota que podem chegar a 20% no contrato de TV aberta e mais de 5% no acordo do PPV.
Com o bloqueio de praça, cada vez que um time da Turner, fora o Palmeiras, atua como mandante, a Globo pode aplicar multa para o clube caso a partida seja exibida (por uma emissora de fora do grupo, incluindo em streaming) para o Estado onde o jogo acontece. A alegação da emissora é que há prejuízo nos direitos, com possíveis perdas de receita na venda de pacotes do Premiere FC e de audiência.
A conduta da Globo chegou a ser analisada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão consultou representantes das três partes envolvidas (clubes e as duas empresas) para investigar se a ação da emissora não representava um flagrante desrespeito à livre concorrência e às boas práticas de mercado. Porém, até o momento o Cade não abriu uma investigação formal contra o Grupo Globo.
Dessa forma, a maior impactada acabou sendo a Turner. O grupo cedeu aos apelos dos clubes para que seus jogos não fossem exibidos em seus respectivos Estados. Com isso, os salvou das multas da Globo. Uma das razões para isso teria sido o fim do Esporte Interativo. No momento da assinatura dos contratos, havia a expectativa de que os jogos seriam exibidos no canal de esportes da Turner.
Apesar dos acordos não estabelecerem em que plataforma os confrontos seriam mostrados, a Turner cedeu aos pedidos para evitar desgastes e, quem sabe, até eventuais processos judiciais, pois os clubes poderiam alegar que, com o fim do canal, houve quebra de contrato. É improvável que teriam sucesso nos tribunais.
Sobrou para Turner
Em nome da boa convivência com seus novos clientes, a TNT abriu mão de uma preciosa audiência. O empate por 0 x 0 entre Santos e Internacional, na Vila Belmiro, não foi exibido para o Estado de São Paulo, praça estratégica para o mercado publicitário, por exemplo. Torcedores do Athletico residentes no Paraná não viram o triunfo do Furacão sobre o Bahia. Outros jogos também não foram vistos pelos torcedores dos seus times em seus Estados de origem.
A situação só não foi pior pois a Turner pôde abusar do Palmeiras enquanto o clube não tinha cedido seus direitos para a Globo. Dos quatro jogos do time no Brasileiro, três puderam ser exibidos para a capital de São Paulo. Foram as vitórias contra Fortaleza, Inter e Santos. O triunfo por 1 x 0 sobre os gaúchos marcou, inclusive, o recorde de audiência da TNT nesse início de Brasileiro. Naquele sábado à noite, o canal registrou 5,61 de média e pico de 6,88 pontos. Foi o evento que mais se aproximou das audiências do canal nas partidas decisivas da Champions League.
Com o acerto entre Globo e Palmeiras, até então a galinha dos ovos verdes da Turner, a vida do canal deve ficar ainda mais difícil. Ao que tudo indica, a emissora vai transmitir na TV aberta todos os jogos do atual líder do Campeonato Brasileiro que a TNT também puder exibir na TV fechada.
Com o trunfo do bloqueio de praça nas mãos, a Globo vai tirar da concorrente a chance de mostrar, por exemplo, para todo o Ceará, os dois clássicos entre os grandes do Estado. A Turner não confirma, mas a marcação pesada da Globo pode até ter atrapalhado seus planos comerciais. Até o momento, a empresa só conseguiu vender três cotas do seu pacote de Brasileirão. Confira, na sequência, a lista das batalhas da guerra entre Globo e Turner até 08/12, data da última rodada do Brasileirão
Jogos da TNT com bloqueio de praça (todas as partidas têm previsão de exibição pela Globo também)
- 12/06 – Internacional x Bahia – 21h30min – Menos Rio Grande do Sul
- 14/07 – Athletico x Inter – 16h – Menos Paraná
- 14/07 – Bahia x Santos – 16h – Menos Bahia
- 21/07 – Ceará x Palmeiras – 16h – Menos Ceará
- 28/07 – Internacional x Ceará – 16h – Menos Rio Grande do Sul
- 04/08 – Ceará x Fortaleza – 16h – Menos Ceará
- 18/08 – Fortaleza x Internacional – 16h – Menos Ceará
- 25/08 – Santos x Fortaleza – 16h – Menos São Paulo
- 01/09 – Athletico x Ceará – 16h – Menos Paraná
- 08/09 – Santos x Athletico – 16h – Menos São Paulo
- 15/09 – Bahia x Fortaleza – 16h – Menos Bahia
- 22/09 – Fortaleza x Palmeiras – 16h – Menos Ceará
- 25/09 – Athletico x Fortaleza – 21h30min – Menos Paraná
- 29/09 – Internacional x Palmeiras – 16h – Menos Rio Grande do Sul
- 06/10 – Bahia x Athletico – 16h – Menos Bahia
- 09/10 – Santos x Palmeiras – 21h30min – Menos São Paulo
- 13/10 – Internacional x Santos – 16h – Menos Rio Grande do Sul
- 16/10 – Santos x Ceará – 21h30min – Menos São Paulo
- 20/10 – Bahia x Ceará – 16h – Menos Bahia
- 20/10 – Athletico x Palmeiras – 16h – Menos Paraná
- 27/10 – Bahia x Internacional – 16h – Menos Bahia
- 30/10 – Internacional x Athletico – 21h30min – Menos Rio Grande do Sul
- 06/11 – Ceará x Internacional –- 21h30min – Menos Ceará
- 10/11 – Fortaleza x Ceará – 17h – Menos Ceará
- 17/11 – Bahia x Palmeiras – 17h – Menos Bahia
- 24/11 – Internacional x Fortaleza – 17h – Menos Rio Grande do Sul
- 27/11 – Fortaleza x Santos – 21h30min –Menos Ceará
- 01/12 – Ceará x Athletico – 17h – Menos Ceará
- 04/12 – Athletico x Santos – 21h30min – Menos Paraná
- 08/12 – Fortaleza x Bahia – 17h – Menos Ceará
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.