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Em nova fase na Band, Lacombe revela detalhes de saída na Globo: "machuca"

Marcelo Tieppo

23/05/2019 04h00

O jornalista, escritor e apresentador Luís Ernesto Lacombe está prestes a estrear um programa de variedades ao lado de Silva Poppovic, o "Aqui na Band", na segunda-feira, dia 27 de maio, das 9h às 11h. Ele não esconde a ansiedade, apesar dos 31 anos de experiência no jornalismo. "Tô ansioso pra caramba. A gente fez muito piloto, mas tem que treinar e jogar. Não vejo a hora", diz Lacombe.

Na trajetória profissional, ele passou 20 anos dentro da Rede Globo, 14 deles atuando no esporte e sete à frente do Esporte Espetacular. Por isso, guarda na memória os detalhes do último dia de trabalho, quando depois de anunciar que iria sair de férias no Bom Dia Brasil, foi chamado para uma reunião com o diretor-executivo de esportes da emissora, Renato Ribeiro, ex-repórter e companheiro de várias coberturas.

"Era 13 de janeiro de 2017, uma sexta-feira. Estava no Bom Dia Brasil e era costume o apresentador avisar quando fosse sair de férias. Me despedi, disse que a Cris Dias estaria no meu lugar a partir de segunda-feira, mas que em fevereiro eu voltaria. A Ana Paula Araújo soltou aquela piadinha típica de redação: Vai sair de férias de novo? E eu saí de lá e fui participar da reunião de produção, como sempre fazia."

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Lacombe foi avisado então que Renato Ribeiro queria conversar com ele. "Entrei na sala, ele estava com os olhos cheios d'água. Disse que a emissora apresentou números e que ele não podia fazer nada, que iriam cumprir meu contrato, que venceria em maio, até o fim e que eu já podia procurar outra coisa. Não tenho dúvida de que se o Renatinho pudesse fazer algo, ele teria feito."

A emissora já estava começando o processo de reestruturação, que seria implementado pra valer em outubro daquele mesmo ano, e Lacombe esperava que oferecessem um novo contrato com redução de salário.

"Eu tinha um salário compatível com os 20 anos que trabalhei na Globo. Esperava que me chamassem e dissessem que eu iria ter que trabalhar muito mais no site, no Sportv, e com um salário menor. Não guardo mágoa, mas machuca. Dá uma bagunçada na vida, você vira um número. Você entende que o mercado vive uma retração absurda, que há um crescimento das mídias digitais, mas passei uma vida inteira lá. Foram 20 anos, ou 25 se contar o tempo em que trabalhei na afiliada da emissora, em Santa Catarina."

Reprodução/Instagram

O apresentador, que praticou vários tipos de esporte como natação, judô, jiu-jitsu, vôlei, basquete, tênis e vela, relembra detalhes da carreira no jornalismo esportivo, que começou quase por acaso e que rendeu boas histórias e boas lembranças, como o abraço que ele recebeu de Galvão Bueno, após narrar a medalha de ouro de Martine Grael e Kahena Kunze na vela, durante a Olimpíada do Rio de Janeiro.

O início no esporte

Apesar de praticar vários esportes, Lacombe só entrou no jornalismo esportivo 15 anos depois de ter iniciado a carreira como estagiário na TV Bandeirantes do Rio. Em 2003, ele passou a apresentar o Supervolley, no Sportv, porque algumas pessoas da emissora conheciam sua relação com o vôlei.

"Eu cheguei a jogar vôlei pelo Fluminense e sou cunhado do Carlão (campeão olímpico de vôlei, em 92), que é casado com a minha irmã e que também é jornalista. Eu estava na Globo News e um dos diretores do esporte, o Emanuel Castro, sabia dessa minha ligação com o vôlei e pediu minha liberação para que eu apresentasse também o Supervolley. Foi assim que comecei."

Logo depois, surgiu a primeira oportunidade no Esporte Espetacular. Na época, Tino Marcos apresentava o programa e Tadeu Schimdt, hoje no Fantástico, revezava com Tino, que sempre viajava muito, principalmente por causa da seleção brasileira. Até que durante o Pan de Santo Domingo, em 2003, Tino estava cobrindo o evento e Tadeu foi fazer uma prova da Fórmula 1. Lacombe acabou sendo convocado.

"O Emanuel disse que eu estava indo muito bem no Supervolley e sugeriu meu nome. Lembro que no primeiro domingo fui apresentar ao lado da Mylena Ciribelli. Na hora que entrou a matéria, ela virou pra mim e falou: 'Onde é que você vai com essa pressa toda?' Eu tinha lido a cabeça muito rápido, mas depois as coisas foram se assentando e deu tudo certo."

"Estava no paraíso"

Em 2004, durante a Olimpíada de Atenas, Lacombe voltou a apresentar o Esporte Espetacular porque Tino e Tadeu foram cobrir o evento. Depois de ser muito elogiado, depois dos Jogos surgiu a proposta para que ele deixasse a Globo News e se transferisse definitivamente para o esporte.

"Na despedida, eu lembro que ainda apresentei o último jornal na Globo News. Saí de lá, fui trocar de roupa e na saída já estavam me esperando pra gravar a chamada do programa. Fui pra redação e estava todo mundo vendo os jogos da Liga dos Campeões. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Estava no paraíso."

"Fiquei sete anos apresentando o Esporte Espetacular, de 2004 a 2011. Fui um dos mais longevos apresentadores do programa. É só fazer a conta. Já faz oito anos que eu saí e desde então passaram por lá o Tande, o Ivan Moré, o Flávio Canto, o Alex Escobar, o Felipe Andreoli e agora vai estrear o Lucas Gutierrez."

"Em 2011, eu cruzei com o diretor de esportes na época e ele me chamou pra conversar. Disse que estava tudo bem, mas que iam fazer mudanças no Esporte Espetacular e eu ia passar a apresentar o bloco de esportes do Bom Dia Brasil. Fui pego de surpresa, porque uma semana antes, ele tinha interrompido uma reunião do programa pra elogiar a equipe e a audiência. Gostava muito do EE e isso me machucou um pouco. Fiquei seis anos no Bom Dia Brasil."

O abraço de Galvão Bueno

"Comecei a narrar por acaso durante as Olimpíadas de Pequim, em 2008. Eu apresentava a Central Olímpica na madrugada. Teve um dia que por algum motivo a gente ficou sem narrador e também tinham dispensado o comentarista de vela, porque as regatas haviam sido canceladas por falta de vento. De repente, às 3h da manhã descobriram que o Robert Scheidt ia velejar. Perguntaram se eu podia narrar e eu fui fazer a regata. Como eu tinha velejado durante 11 anos, todo mundo acabou elogiando. Depois, ainda narrei a prata do Scheidt naquela mesma Olimpíada."

"Em 2016, já me escalaram oficialmente como um dos narradores. Fiz vela, judô, canoagem, boxe. E aí completei meu pódio particular. Narrei o bronze do Rafael Baby no judô e no último dia da Olimpíada fiz o ouro da Martine Grael e da Kahena Kunze na vela."

"Esse dia do ouro ficou marcado pra mim. Depois da prova, fui para o espaço onde serviam comes e bebes, e o Galvão Bueno estava lá. Aí ele veio falando alto naquele jeitão dele. 'Lacombe, quando começou a transmissão da vela eu fiquei me perguntando por que não era eu que estava narrando. Em dez minutos, eu descobri o motivo. Você narrou demais, conhece tudo do esporte. Parabéns!'. E me deu um puta abraço."

A despedida da Globo

"Depois de tudo o que aconteceu na Olimpíada eu não imaginei que no ano seguinte estaria fora da Globo. Comentei isso na conversa que tive com o Renato Ribeiro naquela dia 13 de janeiro. Eu fico triste, mas não fico revoltado. Aquela TV que eu conheci, que valorizava muito o funcionário, não existe mais."

Divulgação

"Nesse novo programa da Band de variedades só vai ter esporte eventualmente no bloco de notícias. Nos pilotos que gravamos, isso já aconteceu, por exemplo, no dia da morte do Niki Lauda. É bom que eu não fico enferrujado."

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.