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Chico Silva: As lições que a Globo precisa aprender com o caso Sidão

Chico Silva

13/05/2019 12h00

"Reflexão! Lições que ficam! @sidão_12. Nossas desculpas!!". Esse post do narrador Luís Roberto em seu perfil oficial no Instagram expressou o imenso constrangimento e incômodo que o episódio Sidão causou nos corredores do Grupo Globo. Ao dar ao pior em campo o troféu de melhor jogador da partida entre Santos e Vasco, a emissora conseguiu algo raro no futebol: uniu grande parte das torcidas contra ela. Apesar das falhas e erros cometidos por Sidão no gol vascaíno ontem, a emissora fez do vilão do jogo um quase herói nas redes sociais. E pensar que tudo isso poderia ter sido evitado se houvesse um pouco mais de sensibilidade da ponta de cima da cadeia de comando e melhor compreensão da sarcástica "psiquê" da internet.

Assim que a "vitória" de Sidão na eleição de craque do jogo foi confirmada, a equipe da Globo no Pacaembu, composta por Luís Roberto e os comentaristas Roger e Casagrande, alertou a chefia de esportes de que se tratava de uma galhofa dos internautas com o goleiro, que falhou miseravelmente em dois gols sofridos pelo Vasco ontem. Insensível aos apelos dos seus comandados, sendo que dois deles passaram anos do mesmo lado do balcão que o goleiro, a cúpula global determinou que as regras do concurso fossem cumpridas à risca e sem contestação. O "manda quem pode e obedece quem tem juízo " estourou no elo mais fraco da corrente. Obrigada a cumprir a ordem, a repórter Julia Guimarães passou por aquele que talvez tenha sido o maior constrangimento da carreira ao entregar o troféu a um Sidão perplexo e claramente envergonhado. Se a cúpula da Globo realmente quer tirar lições desse episódio, a primeira é dar mais atenção e ouvidos para aqueles que estão no calor dos fatos. Os tempos mudaram. Estamos na era das estruturas "horizontalizadas". Chefias autoritárias e irredutíveis estão cada vez mais fora de moda.

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O segundo ensinamento do episódio é entender melhor o "zoeira never ends" da internet. Por mais que busque se atualizar, a Globo é um grupo tradicional de mídia. O alto escalão foi formado na era analógica. Aí talvez esteja a explicação para a barbeiragem de ontem. A expressiva votação em Sidão foi incentivada por perfis de humor nas redes sociais. Com mais de 1,6 milhão de seguidores no Twitter e 3,9 milhões de fãs no Facebook, o Desimpedidos foi um deles. O canal publicou um post em sua página no microblog estimulando a votação no goleiro. Perfis "zoeiros" estão no seu papel, que é do fazer "zoeira". A Globo é que não poderia ter embarcado nessa. Faltou filtro e jogo de cintura aos responsáveis pela atração na emissora, que poderiam ou ter dado o troféu ao segundo colocado na eleição ou, em última instância até ter ignorado o resultado. Claro que haveria implicações comerciais, pois o quadro faz parte da entrega aos patrocinadores do pacote futebol 2019. Mas certamente o prejuízo à imagem do canal foi maior do que o financeiro.

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Se houve algum aspecto positivo no episódio Sidão foi a rápida reação da emissora ao tsunami de críticas que recebeu dos internautas e até mesmo de estrelas da casa, como o próprio Casagrande e Roger, que a criticaram em suas páginas nas redes sociais. Às 21h03min o grupo publicou um pedido de desculpas ao goleiro no GloboEsporte.com e anunciou mudanças no formato da votação do "Craque do Jogo". A partir de quarta-feira (15), nos jogos de ida da Copa do Brasil, comentaristas também farão parte da votação. Cada um terá direito a um voto. Com isso o fator torcida na eleição será minimizado. Ainda não é questão fechada. Mas em caso de empate o narrador da vez poderá decidir quem foi o eleito. Mas apesar do mea culpa global, Sidão não foi perdoado por Tadeu Schmidt no quadro dos Gols do Fantástico. Ainda com a polêmica fervendo nas redes, o apresentador fez piada com goleiro, o chamou de furão e botou gatos miando em lances com as falhas e decisões equivocadas do jogador durante a partida. Será que a Globo aprendeu mesmo?

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