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Tande, sobre apresentar EE na Globo: "Vocês estão malucos. Eu erro muito"

Marcelo Tieppo

12/05/2019 04h00

Com apenas 22 anos, Tande entrou para a história do esporte brasileiro ao fazer parte da seleção que conquistou pela primeira vez o ouro olímpico no vôlei masculino.  Depois de disputar mais duas Olimpíadas, Tande também esteve em Atenas, em 2004, mas já como comentarista da TV Globo, aceitando o convite do então diretor de esportes na época, Luis Fernando Lima, que em 1992 era repórter na emissora e cobriu toda a campanha do time dirigido por José Roberto Guimarães.

"Ele me chamou um dia para conversar e disse que eles queriam me contratar como comentarista para ter alguém para falar de forma mais simplificada sobre o vôlei. Só que pra isso eu teria que me aposentar. Como já estava com muitas dores no joelho, aceitei o desafio. Eu sempre me reinventei", disse Tande.

No ano passado, Tande não escapou da onda de cortes que tomou conta do jornalismo da Globo. Como ainda tinha salário de apresentador sendo repórter, o campeão olímpico foi chamado para renegociar o contrato. "Eles disseram que eu tinha um salário muito alto, que não estava mais apresentando e vinha fazendo poucas reportagens. Me ofereceram então um contrato fechado para fazer sete participações no ano como comentarista. Em agosto, vão fazer uma reunião para discutir a Olimpíada do ano que vem, porque eles vão formar um time de ouro dos atletas."

Mas se engana quem acha que isso abalou o ex-jogador. "Eu achei ótimo, porque posso me dedicar às palestras motivacionais. É a minha prioridade, eu faço duas por semana. Você nunca pode apostar em uma coisa só. Quando ainda era jogador, eu tinha essa preocupação, por isso montei restaurante, fiz sociedade em academia. Fico muito triste porque tem muito jogador de vôlei hoje que não se preparou para parar e continua jogando pra ganhar um dinheirinho."

As palestras de Tande começaram antes de ele se tornar um global. Mas o ex-jogador reconhece que a passagem pela emissora fez com que ele se aprimorasse. "Ter a oportunidade de apresentar um programa ao vivo, fazer reportagens, isso tudo me ajudou demais nas palestras. Recentemente, tive minha final de Olimpíada. Dei uma palestra para os 300 maiores executivos de marketing do país. Deu aquele mesmo frio na barriga de não poder errar. Hoje a minha final é essa."

Com tantas facetas, Tande resolveu escrever um livro, que vai ser lançado em julho e que vai ter o mesmo nome de suas palestras: "A vida é um jogo". "Já poderia ter lançado um livro antes, mas queria algo que acrescentasse para as pessoas, com conteúdo, como são as biografias da Sharapova e do Agassi. Quero tentar ajudar as pessoas a enxergarem possibilidades novas, a se reinventarem, mostrando o meu exemplo."

Comentarista, repórter, apresentador e ídolo dos garçons

Depois de começar na Globo como comentarista, Tande foi escalado em um jogo do Grand Prix de vôlei feminino para entrevistar famosos no camarote. A chefia gostou da desenvoltura do jogador e ele começou a fazer reportagens para o Esporte Espetacular. Até que em 2010 Tande teve a primeira experiência como apresentador no Corujão do Esporte. "Fui o primeiro apresentador do programa. Tive a oportunidade de entrevistar famosos e apanhei muito, mas a sorte é que o programa era gravado. Chegava a dar 50% de share de audiência (porcentagem em relação ao número de tvs ligadas). Eu recebia muito carinho. Os garçons me paravam na rua, porque era a hora que eles estavam jantando em casa", relembra Tande.

Cuspindo bala na estreia do Esporte Espetacular

Em 2011, Tande foi convidado para ser apresentador do Esporte Espetacular ao lado de Glenda Kozlowski. Ele tomou um susto e argumentou que aquilo seria uma loucura. "Vocês estão malucos, eu disse pra eles. Eu erro muito, eu me perco. No Corujão é tudo gravado. Me disseram pra ser eu mesmo e eu topei mais esse desafio."

No programa de estreia, Tande e Glenda foram para a Argentina participar da cobertura da Copa América. E foi ali que o campeão olímpico pagou o primeiro mico. "Cuspi bala no ar. Depois é que os caras me avisaram que eu estava ao vivo, não acreditei que tinha aparecido cuspindo. Hoje, eu adoro contar essa história nas minha palestras."

Terror em Oruro

Em 2013, Tande foi fazer uma reportagem sobre a aventura dos torcedores corintianos para chegar em Oruro, na Bolívia, onde o Timão jogaria pela Libertadores contra o San Jose. Durante a partida, um torcedor boliviano de apenas 14 anos morreu depois de ser atingido por um sinalizador atirado pela torcida do Corinthians.

"Foi o maior sufoco da minha vida. Os bolivianos queriam acabar com os brasileiros. Antes de pegar um táxi para ir para o hotel, eu falei pra equipe não abrir a boca, porque como falo espanhol não ia deixar o cara perceber que a gente era do Brasil. Durante o trajeto, o motorista comentou que os brasileiros tinham matado um garoto. Ficamos no quarto fechado, quietinhos até a hora de pegar o voo e ir embora."

Chama o Tande

"Na hora da reunião do Esporte Espetacular, ninguém lembrava de mim quando a pauta era em Nova York. Mas aí quando falavam: corrida de tora, em Xingu, com os índios. Opa essa é a cara do Tande. Mas era isso que eu tinha que fazer mesmo, o diferencial. Foi muito divertido."

"Fiz vôlei na neve nos alpes austríacos. Fiz Stand Up Paddle nas correntezas de Foz do Iguaçu e quase morri afogado. Participei de corridas com zumbis em Seattle, nos Estados Unidos. Fiz meia maratona de 21 kms com cortina de choque, lama, entrei em buraco. Fiz de tudo nesse período no Esporte Espetacular."

Filosofia de vida

"O tempo traz as pessoas de volta. Se eu tivesse sido escroto, em 1992, quando fui campeão olímpico, as coisas seriam diferentes pra mim. Lembro que quando comecei a fazer reportagens, as pessoas diziam que tinham orgulho de me ensinar, porque eu sempre tratei eles muito bem quando era jogador."

"Tenho certeza que se eu não tivesse sido legal, as pessoas me odiariam. Um ex-jogador de vôlei apresentando o Esporte Espetacular, claro que isso cria um ciúme. Mas eu trato todo mundo igual: do porteiro ao empresário."

Prazo de validade

"Tudo na vida tem prazo de validade. Já passou a geração do Bernardinho. Já passou a geração do Giba, do Giovane. Já passou o Pelé. Já passou a fase do Cid Moreira na Globo e ele começou a fazer aquelas lindas leituras bíblicas. As pessoas precisam se reinventar sempre."

"Não pode valer só quando te chamam pra ser apresentador. E depois dizer que as pessoas não prestam quando te mandam embora."

Sobre o Blog

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