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Galvão fala de rivalidade com Luciano do Valle e quase saída da Globo em 86

Carolina Alberti

28/04/2019 03h01

 

Galvão Bueno abriu o jogo durante o Grande Círculo, programa do SporTV, exibido nesta madrugada. O principal narrador do Grupo Globo recordou seu início na emissora, a bronca no tricampeonato de Ayrton Senna e o que faltou em sua longa trajetória como locutor esportivo.

Copa de 50 ou 7 a 1? Esta foi a primeira questão levantada pela bancada. Nascido dias após a derrota para o Uruguai, Galvão elegeu este momento como o 'mais sofrido' para o Brasil. Além disso, o narrador escolheu a última boa atuação da Seleção.

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"Eu imagino que 50 deve ter sido muito mais sofrido para quem ali estava. O Brasil fazia uma grande Copa. Em 2014, não vimos isso. Vínhamos raspando na trave. O Brasil não faz uma grande Copa há muito tempo. A última grande atuação da Seleção Brasileira foi na Copa das Confederações em 2005. Foi o último grande momento da Seleção Brasileira", declarou.

Com 45 anos de profissão, Bueno recordou sua chegada ao Grupo Globo, em 1981 e a rivalidade com "um dos grandes gênios da comunicação", Luciano do Valle.

"Luciano do Valle foi um dos grandes gênios da comunicação. Nós fomos aqueles rivais que um puxa o outros. Nós competíamos na audiência, mas sempre fomos amigos. Quando eu vim, ele ficou com a Seleção Brasileira e eu com a Fórmula-1. Os outros jogos, nós dividíamos. Foi uma honra para mim ter dividido com o Luciano".

Ele contou que, após a Copa de 86, quase deixou a emissora por não ser escalado para narrar os jogos da Seleção Brasileira. Anos depois, Galvão afirma que não tem do que reclamar.

"Foi uma opção do Boni. Ele foi influenciado pela importância de São Paulo e Osmar Santos era um gênio. Houve uma decisão do Boni. Acho que fiz uma bela Copa do Mundo e narrei um jogo do Brasil, que foi contra a Argélia. O Osmar teve um probleminha. Só que eu avisei para eles que, depois da Copa, iria embora. Negociei sério para sair, mas o bom senso acabou prevalecendo e eu acabei permanecendo. Não tenho do que reclamar. De 90 para cá, fiz todos os jogos do Brasil", revelou.

O narrador ainda falou sobre o 'É tetra!', uma de suas frases mais famosas. Colocando a repercussão nas costas de Pelé, Bueno conta que até hoje as pessoas gritam o bordão ao vê-lo.

"Isso apareceu para o mundo inteiro por causa do Pelé. Estávamos enlouquecidos mesmo. Virou um grito de comemoração. Eu ando na rua e os caras gritam 'É tetra'. O penta não pegou tanto. Vamos falar a verdade? Nós estávamos na carona do Pelé", brincou.

Além disso, Galvão comentou sobre a evolução nas narrações desde a sua chegada no Grupo Globo. Ele conta que, quando entrou, tinha uma cartilha para seguir, mas, aos poucos, conseguiu fazer alterações.

"Quando eu cheguei, tinha uma catilhazinha. Eu acho que ajudei muito para mudar isso. Se um cara dissesse na transmissão 'Joga a luva, goleirão!', imagina o que poderia acontecer. A conversa direta do narrador com o jornalista não podia existir. Com calma, eu fui colocando isso e aquilo", revelou.

Polêmicas

Galvão também falou sobre momentos polêmicos durante os anos de profissão, como o episódio envolvendo o jornalista Renato Mauricio Prado. Os dois discutiram ao vivo em 2012.

"O Renato é pavio curto e eu também. Ali houve um desentendimento. Eu era a única pessoa da Globo que transmitia jogos no SporTV. O Renato era o meu parceiro de programa. A gente fazia uma reunião de pauta e ele era apaixonado por vôlei. Naquele dia, o assunto principal seria o vôlei. O Renato, daquele jeito meio Renato de ser, ele levou para o ar o que eu tinha falado lá (na reunião)", revelou.

"Eu fiquei bravo mesmo. No dia seguinte, ele falou que só faria o programa se eu pedisse desculpas. Tinha que chegar no dia seguinte e brincar como a gente fazia de vez em quando, mas a rede [se referindo à internet] transformou isso numa briga de juramento de morte que não existe. No dia que o Brasil tomou de 7 a 1, nós fomos jantar juntos", completou.

Já sobre o 'Cala a Boca, Galvão!', da Copa de 2010, o narrador levou na esportiva. "Não tinha combinado que o Thiago ia entrar e falar 'Cala a boca, Galvão!'. Me deu o direito de escrever o livro Fala, Galvão!", afirmou.

O narrador ainda falou sobre os 'hatters' e brincou que, atualmente, eles estão carinhosos. "A pessoa ter a sua opinião, não gostar de mim, é o direito de todo mundo. Agora, eu também aprendi que o seu direito termina quando começa o do outro. Isso continua. Acho até que melhorou. Eu tomei tanta porrada que agora estou até estranhando", defendeu.

A bronca no tri de Senna

O tricampeonato mundial de Ayrton Senna rendeu uma bronca a Galvão Bueno. O carioca recorda que um simples 'Eu sabia!' teve como consequência um baita puxão de orelha. Durante a transmissão, o narrador, ao ver Senna entregar a corrida para Berger, soltou que já sabia que isso iria acontecer.

"Bronca mesmo eu levei foi no tricampeonato do Ayrton Senna. Eu esperava que acontecesse. No jantar da véspera, eles meio que combinaram. Berger não gostou nada do Senna deixá-lo passar. Como eu sabia da história, esperava que fosse acontecer", falou.

Ainda sobre a F-1, Galvão comparou as narrações das corridas a enredos de escolas de samba. Ele ainda ressaltou a diferença na locução em relação ao futebol.

"A corrida de Fórmula-1, você precisa entendê-la, ter informações. Você vai montando como se você estivesse imaginando um enredo de escola de samba. O futebol é diferente. As coisas vão acontecendo".

Bueno ainda lamentou a ausência de um piloto brasileiro na principal categoria de automobilismo do mundo. "Agora, atravessaram o ritmo. Sem brasileiro, o ritmo ficou meio atrapalhado", brincou.

Ditadura Militar

Galvão Bueno também recordou os seus tempos de militante na época da Ditadura Militar. Durante a entrevista, o narrador contou que enfrentou gás lacrimogênio e jatos d'água ao ir às ruas protestar.

"Em 1968, eu fui o único que fui para a rua, (que) tomou porrada na rua. Quem reclama do gás lacrimogênio agora não sabe o que foi em 68. Era duro de respirar. São momentos da vida que você, quando jovem, se entrega de corpo e alma", contou.

"Eu fui para assembleia permanente. Falei muito. A gente ia defender aquilo que a gente acha correto. Com o tempo, você até vai mudando. Todo extremo é ruim. Qualquer radicalismo é ruim. Era uma coisa do jovem. A pior coisa era o jato d'água, não conseguia respirar. Fez parte da minha vida. Coisas da juventude", complementou.

Faltou algo?

Com muitas narrações, Galvão contou qual história sentiu falta de ter participado. Sem eleger jogos, o carioca contou que gostaria de ter eternizado a trajetória de Gustavo Kuerten.

"Me faltou Guga. Eu fiz uma transmissão do Guga numa Olimpíada. Ganhou. Mas me faltou fazer a saga do Guga. Não é esse ou aquele jogo", declarou.

Bueno ainda criticou a administração do tênis naquela época por não ter explorado as conquistas de Guga para fomentar a modalidade.

"Me dá uma tristeza profunda saber que os homens que cuidam do tênis no Brasil não souberam aproveitar o que o Guga fez. Nós tínhamos que ter um tênis forte. O tênis brasileiro tinha que ser diferente após o Guga. Foram incompetentes".

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