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Como um aspirante a Walt Disney brasileiro virou o "Professor" da ESPN

Gabriel Carneiro

08/04/2019 04h00

Participante fixo do BB Debate, a mesa redonda de futebol das tardes da ESPN Brasil, Celso Unzelte é chamado de "professor" pelos colegas de programa. Aos 51 anos, ele é o mais velho entre os jornalistas, mas esta não é a única razão do apelido. É que o comentarista, de fato, dá aulas em uma faculdade de jornalismo de São Paulo. "O Jorge Nicola se formou em 2002 e eu comecei a dar aula em 2003. Por muito pouco o Nicola, que não é uma criança, não foi meu aluno", brinca Unzelte, em papo com  o UOL Esporte.

Comentarista, professor, escritor de 18 obras já lançadas e responsável pelo conteúdo do aplicativo histórico "Almanaque do Timão", o jornalista sonhou com outro destino quando era criança: ser desenhista de histórias em quadrinhos.

"Até os 15 anos era o que eu queria. Eu tinha uma coisa megalomaníaca de dizer que eu seria o Walt Disney brasileiro, não pensava em outra coisa. Eu desenhava quando criança, fazia o Pateta, o Donald… É o assunto que eu mais curto depois de futebol, sou fissurado e ainda leio. Diziam que eu queria desenhar para fazer prédio, ponte… Não! Era quadrinho mesmo. Mas a primeira vez que pensei em jornalismo esportivo foi para fazer um trabalho escolar e acabei tomando esse rumo mais por uma adaptação", conta.

"É o Atlecão. Eu não o desenhava há quase 40 anos… Talvez tenha sido melhor optar pelo jornalismo"

Unzelte trabalhou como auxiliar de escritório de uma metalúrgica antes de ingressar como revisor na Editora Abril, ainda no primeiro ano de faculdade. Trabalhou em diversas publicações do grupo, como a revista Quatro Rodas, mas teve trajetória longa mesmo na revista Placar e em seguida na ESPN Brasil, por indicação de PVC. Desde 2012 ele ainda é comentarista do programa Cartão Verde, da TV Cultura, ao lado de Roberto Rivellino, Vladir Lemos e Vitor Birner. Na TV, os estilos são diferentes. No canal aberto, a sobriedade. Na TV fechada, a zoeira sem limites. Sem limites?

"O jornalismo esportivo passa muito por essa dicotomia entre informação e entretenimento. As pessoas acham que começou com Tiago Leifert no Globo Esporte, mas não é verdade. No fim dos anos 70, o Globo Esporte tinha um editor chamado Edil Valle Júnior, que colocou na parede: 'Faremos o esporte com bom humor, mas sem perder a seriedade'. É algo que eu sempre fiz. Eu não faço humorismo, mas me sinto muito à vontade e vejo que é possível passar informação com bom humor. O que me incomoda é quando o bom humor tira espaço da informação. Já aconteceu de eu ver um programa que é tanta brincadeira que esqueciam de mostrar os gols, mas não é assim na ESPN", relata o jornalista veterano.

Futuro no Youtube e nos apps

Dono de um grande acervo de vídeos, livros, fotos, áudios, revistas e jornais esportivos no escritório de sua casa, Celso Unzelte tem o plano de lançar em breve um canal no Youtube para contar histórias do futebol na internet: "Quero fazer algo bem interativo, uma live com perguntas e participação do público dentro do meu acervo lá em casa." Ainda não há previsão de início das atividades. O plano mais próximo é bombar o aplicativo "Almanaque do Timão", que tem registro de todos os jogos e jogadores do Corinthians, seu time do coração.

"O aplicativo do almanaque eu queria que decolasse. Ele não dá dinheiro hoje, às vezes até tira. Mas eu queria ampliar para outros clubes, de repente uma associação de historiadores de clubes para eternizar a história do futebol. É algo que eu gostaria de fazer porque é a direção do futuro. E eu nunca resisti ao futuro", diz o comentarista multimídia: "Eu vou trabalhando em função do meu tempo e sempre fui aberto a novos projetos."

Filha também será jornalista

Celso Unzelte é casado com uma jornalista (Patrícia Rodrigues) e a primeira filha do casal, Carolina, de 21 anos, também está perto de se formar na mesma profissão dos pais. "Na escola, quando uma professora elogiava o texto dela eu lia e perguntava: 'você sabe o que isso significa, né?'. E ela: 'para, pai'. Ela resistiu ao jornalismo até o mês de setembro de quando prestaria vestibular. Era certo que ia prestar para arquitetura, mas ela assumiu meses antes da faculdade. Hoje é estagiária na Financial Times, já passou pela Revista Exame… Está se dando bem e fico feliz de vê-la realizada".

O professor ainda é pai de Beatriz, de 16 anos, e Daniel, de 14. Ele acha que a filha do meio é "séria demais" para ser jornalista, mas acredita que o caçula siga o caminho dos pais. "É meu filho que atualiza o aplicativo do almanaque do Corinthians. Nós mandamos notificação para quando começam e terminam os jogos, gols, e é o Daniel quem faz isso. Teve um dia em que ele foi para uma festa e eu fiquei para fazer o app. Nessa coisa de linguagem jovem teve um gol do Cruzeiro e eu mandei 'gooooooooool'. O pessoal da comunicação do clube mandou mensagem bravo, perguntando se tinha cruzeirense trabalhando. Aí o Daniel voltou da festa e eu disse: 'acho que fiz bobagem'. Ele me deu bronca. Disse que gol do adversário é só um "o" e em caixa baixa (risos). Se você perguntar se ele quer ser jornalista, ele vai dizer que não, porque jornalista não fica rico. Talvez no futuro ele acabe fazendo como a irmã."

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