Repórter da Band era surfista e cativa boleiros com super coleção de tênis
Estilo boleiro, mais de três décadas dedicadas à cobertura de eventos esportivos, tênis extravagantes, paixão pelo surfe e desejo de ser médico na juventude. Fernando Fernandes, 57 anos, é uma figura famosa no jornalismo esportivo da TV brasileira. Com passagens por grandes veículos, como SporTV, Rede Record, Cultura e Band, o repórter utiliza o seu estilo despojado para cativar os jogadores e revelar histórias marcantes.
Na entrevista abaixo ao UOL Esporte, o profissional também recordou da última viagem com o narrador e amigo Luciano do Valle, que morreu em 2014 após passar mal durante um voo.
Apesar da dedicação ao jornalismo, Fernandinho Fernandes, como é conhecido entre os profissionais da imprensa e no mundo do futebol, cogitou na adolescência se dedicar à medicina. Mas a ligação com o esporte o levou a outra trajetória.
"Eu sempre gostei de ler muito, mas nunca gostei da decoreba e naquela época era assim. Tentei o vestibular por uns dois anos e vi que não dava. Mas eu precisava estudar, fazer alguma coisa. Entrei em publicidade, mas vi que não era o meu caminho. Como sempre gostei de esportes, pratiquei surfe por muitos anos e também joguei muito futebol e handebol, escolhi este meio. No terceiro ano da faculdade (estudou na FIAM), optei pelo jornalismo. Naquele ano mesmo já comecei a trabalhar no meio e fui embora", revelou.
Há mais de 20 anos na TV Bandeirantes, o repórter iniciou a carreira, no entanto, nas rádios. "Fui trabalhar na Rádio Cultura. Preparava as entrevistas para a apresentadora do dia, desde uma entrevista com o prefeito até com algum fazendeiro. Foi então que conheci o Claudinei Ferreira. Ele montou um programa na Excelsior (atual CBN) chamado Bar Brasil e me chamou para trabalhar com ele. Depois fiz parte da equipe de Osmar Santos na Record, entre 1988 e 1991, na rádio e na TV", recordou.
No início da década de 90, o profissional recebeu um convite para trabalhar na Europa. Foi então que iniciou a sua jornada na televisão.
"Em 1991, recebi uma proposta para trabalhar numa rádio de Portugal. O José Calil e o Vanderlei Ribeiro tinham feito o Mundial (Sub-20), quando o Brasil perdeu a final para Portugal. Eles foram convidados para trabalhar nesta rádio, mas passaram a proposta para mim. Aceitei o convite e assumi o posto depois de ter trabalhado na cobertura do Pan-Americano de Cuba. Em Portugal, trabalhava na rádio e também fui assessor de imprensa na Federação Portuguesa de Futsal. Ajudamos a incrementar o futsal naquela época. Depois eu fui trabalhar na TV4, que é uma TV independente. Eu fiz a primeira edição da Champions League (1992) – a competição chamava Taça dos Campeões. Foi uma experiência muito boa", contou.
O retorno ao Brasil ocorreu em 1993, quando foi trabalhar pela primeira vez na Band.
"Entrei como pauteiro e também fui chefe de reportagem. Na Copa de 94 (Estados Unidos), a equipe era muito boa. Tinha o Datena, Gilson Ribeiro, Eli Coimbra e o Juarez Soares. Em 1995, me tornei editor e colocava o Show do Esporte no ar. Dois anos depois, a Band me passou para repórter e foi então que cobri a minha primeira Copa do Mundo, em 1998 (França), ao lado de Gerson e Rivelino".
Coleção já teve mais de 200 pares de tênis
Além dos esportes, Fernandinho Fernandes também tem uma paixão por tênis. A coleção de cerca de 100 calçados coloridos e extravagantes faz sucesso com os jogadores, paixão em comum no mundo da bola.
"Eu sempre gostei de tênis. Fui para a Olimpíada da China (2008) e lá é um paraíso, tudo é produzido ali. Trouxe vários tênis. Mas a história começou em 2005, quando a minha mulher trouxe uns All Stars coloridos. Eu comecei a usar com as cores muito chocantes, verde limão, laranja… Sempre gostei, mas a galera me alugava. Foi então que começou a fazer sucesso com os treinadores, jogadores e torcedores. Virou uma marca registrada, hoje popularizou. Cheguei a ter 200 pares de tênis, mas hoje eu tenho 100", disse o experiente repórter.
Parceria com Luciano do Valle
Em 20 de abril de 2014, Luciano do Valle narraria o jogo de abertura do Campeonato Brasileiro, entre Atlético-MG e Corinthians, em Uberlândia, mas o destino não permitiu. No dia anterior, sábado, o locutor desembarcou na cidade mineira acompanhado do colega Fernando Fernandes, que havia o encontrado ainda em São Paulo, no aeroporto.
Não demorou muito para o parceiro de tantas e tantas transmissões perceber que, independentemente das dores nas costas, frequentes na vida do narrador, algo estava errado. A equipe do voo foi acionada, e Luciano do Valle começou a ser atendido assim que o avião decolou. Lembranças difíceis e ainda vivas na memória tomaram conta de Fernando a partir de então.
"Eu estava com ele, e foi uma coisa meio incomum. O Luciano há muito tempo já morava em Campinas, e nós nos encontrávamos já nos locais. Nós fizemos as finais do Campeonato Paulista (2014, dias 6 e 13 de abril), e terminou o jogo no Pacaembu e fomos jantar no Jardim De Napoli (cantina em São Paulo). Ele me falou: 'Quando é que você vai para Uberlândia?' 'Olha, não sei, mas provavelmente no sábado'. Na terça-feira, ele me ligou e disse: 'Olha, vou com você então', mas normalmente ele saía de Campinas e nos encontrávamos no local do jogo. Dessa vez, ele marcou no mesmo voo que eu", contou.
"Eu estava no aeroporto, e ele chegou em cima da hora, reclamando de dores nas costas – ele sempre teve dores nas costas. Nós embarcamos e, dentro do avião, ele passou mal. Avisamos a comissária para quando chegássemos. O Luciano não estava passando bem, mas desceu andando do avião, e ficamos aguardando em uma sala para sair do sol até a ambulância chegar. A ambulância chegou, e quando ele estava entrando na ambulância começou a passar mal, e foi aí que aconteceu. Tinham os médicos, os paramédicos, e eu acabei indo junto na ambulância. E ele faleceu, acho que no momento que deu entrada no hospital. Os médicos ainda tentaram reanimar", acrescentou o jornalista, que acabou não trabalhando no dia seguinte.
"Depois que foi confirmada a morte dele, eu dei suporte ao pessoal da emissora, aquela coisa toda: avisar a família, a esposa do Luciano, fazer aquele trâmite e trazer o corpo para Campinas. Eu voltei para São Paulo no domingo de manhã", descreveu Fernando.
Foram anos e anos de convivência com o narrador, que passou a fazer parte de sua "família" desde que o trabalho os uniu. Com 22 anos de casa, Fernando diz ter aprendido muito com o amigo Luciano do Valle.
"Sensacional, foi uma oportunidade rara, dei muita sorte. Eu trabalhei com muita gente boa que me ajudou, que me ensinou. Era um cara que eu convivia mais com ele do que com a minha família, e ele a mesma coisa. Viajava terça, voltava quinta, viajava sábado, voltava segunda, isso quando não emendava. E foi um privilégio que eu tive. O Luciano, acima de tudo, sempre foi muito generoso comigo, uma boa pessoa, muito companheiro e extremamente profissional. Era um cara com quem aprendi demais", relembrou o repórter.
Vanderlei Lima e Augusto Zaupa
Do UOL, em São Paulo
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