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"Não tenho fama de barraqueira à toa", diz Cris Dias após saída da Globo

Marcelo Tieppo

04/04/2019 04h00

Depois de 13 anos na maior emissora do país, a apresentadora Cris Dias, gaúcha de 38 anos, não teve o contrato renovado. Com passagens por Globo Esporte e Esporte Espetacular, a jornalista comandava o bloco de esportes do Bom Dia Brasil. "A saída foi de boa. Disseram que não havia interesse na renovação. Mas saio com o sentimento de gratidão. Foi um aprendizado, fiz contatos, consolidei o meu nome no esporte", disse Cris.

A emissora carioca passa por um momento de reformulação e de corte de gastos. Recentemente, outros nomes do vídeo, como Fernando Rocha e Mariana Ferrão, também saíram. Carol Barcellos, que substituiu Cris Dias no Bom Dia Brasil, não terá uma participação diária no telejornal e vai continuar exercendo também a função de repórter. O bloco que era comandado por Cris deixou de ser diário e só entra agora às segundas e quintas-feiras.

Cris ainda está analisando o caminho que vai trilhar a partir de agora. A única certeza é que vai continuar no mundo esportivo. "Estou aberta. Já recebi algumas sondagens de outras emissoras. Mas o caminho também pode passar pelas mídias sociais. Tá pintando coisa nova aí, mas ainda é segredo", brinca.

O que Cris deve tornar público em breve é a paixão pelo Internacional, o que ela não podia fazer até semana passada, seguindo uma norma da Globo, que orienta apresentadores e repórteres de esporte a não revelarem para que time torcem. Ela deve seguir o exemplo de Luis Lacombe, com quem dividiu por alguns anos a apresentação do Esporte Espetacular. No mês passado, Lacombe usou o Instagram para revelar que torcia pelo Botafogo. "Eu lembro que quando fui no programa do Jô, ele insistiu uns cinco minutos pra que eu revelasse meu time e acabei contando no ouvido dele. Mas essa coisa de dizer publicamente o time que torce dá ibope. Vou fazer isso em breve", diz, caindo na gargalhada.

A seguir, Cris abre o jogo, revela bastidores dos 13 anos de Globo e fala sobre assédio, machismo, maconha e da paixão pelos esportes radicais.

Empoderamento feminino

Durante a Olimpíada de 2016, Cris Dias fez dobradinha com o então apresentador do Jornal da Globo, William Waack. A alfinetada que ela deu no jornalista ao vivo, ao ser interrompida durante um comentário, virou sucesso imediato nas redes. "Levantei a bandeira do empoderamento feminino. Foi sem querer, mas valeu, é sempre bom levantar essa bandeira. Quis interromper meu comentário e eu reagi. Não tenho fama de barraqueira à toa", revelou.

Cris diz, no entanto, que os dois se davam bem e se falam até hoje. "Muita gente não entendia a nossa parceria. Ele tem um humor ácido, mas a gente se dava muito bem. No dia em que isso aconteceu, a gente tinha ido ver o jogo de basquete da Argentina contra os Estados Unidos. Eu gostava de sacanear ele: 'você pilota avião e não sabe mexer em um telão'. No fundo, era um encontro de gerações e a gente se completava. Ele ficava com os papéis e eu com o tablet e o telão do estúdio".

Machismo e assédio

"Essa questão do assédio está enraizada culturalmente. Muitas vezes, o cara não se toca do que está fazendo. Já presenciei casos, mas comigo nunca aconteceu nada mais sério. Essa geração mais jovem tem ajudado a mudar isso. Teve uma vez que eu estava fazendo uma gravação na redação e um cara fez algum comentário desses machistas. Um jornalista mais jovem estava por perto e deu um chega pra lá no tio Sukita, dizendo que aquilo era desagradável. O cara depois mandou pra mim um e-mail se desculpando".

"Nesses 13 anos de Globo já deu para perceber grandes mudanças. A mulher tem se colocado de forma mais contundente. A gente tem que fazer o cara se colocar no nosso lugar e pensar se ele gostaria que isso acontecesse com a sua filha, com a sua mãe, com a sua mulher. É um exercício muito bom".

"A gente ainda sofre com o machismo no trabalho. Temos que provar mil vezes mais do que o homem. Muitas vezes seu trabalho é subestimado ou desqualificado, principalmente se você exerce a mesma função que um homem".

Cris Dias discute com seguidores após momento fofo com namorado

UOL Esporte

Plantação de maconha na Jamaica

Durante as férias, Cris Dias e o namorado, o ator Caio Paduan, foram para a Jamaica. Lá, a apresentadora visitou uma plantação de cannabis, a folha da maconha. Ela resolveu postar uma foto no Instagram sobre a experiência e conheceu de perto a fúria das redes sociais.

"Argumentei que a maconha é usada para fins religiosos e medicinais. Fui acusada de tudo, de ser um mau exemplo, de influenciar as pessoas negativamente. Tentei abrir uma discussão porque a planta tem esses benefícios que poderiam ser usados contra doenças, por exemplo. Mas não teve jeito, tive que deletar a foto".

"Esse negócio de rede social é bem complicado. Meu namorado [o ator Caio Paduan] faz papel de um cara milionário na novela 'Verão 90'. Outro dia, fiz uma brincadeira com isso, em que ele aparecia me penteando. 'Olha o Quinzinho (nome do personagem), quem diria, virou cabeleireiro'. Você acredita que tive que me explicar? Disseram que eu estava dizendo que todos os cabeleireiros eram pobres".

Congelando ao vivo no Encontro com Fátima

"Tirando o episódio com o Waack [ela solta outra de suas famosas gargalhadas], não lembro de ter pagado nenhum grande mico nesses anos, mas durante a Copa América do Chile, em 2015, eu congelei ao vivo durante uma entrada no programa da Fátima. Fiquei alguns segundos sem poder falar, minha boca travou porque fazia muito frio lá e eu já entrava no ar cedinho, desde o Bom Dia Brasil. Mas, no final, todo mundo encarou numa boa depois que eu consegui explicar o que tinha acontecido".

"O maior perrengue eu passei em 2013, quando fui com a equipe do Esporte Espetacular fazer uma matéria sobre o Psicobloc, um esporte radical, no Canyon do Rio Poti, que fica em Buriti dos Montes, no Piauí. Nunca ninguém tinha ido pra lá para praticar esse esporte. Só tinha pescadores. Aconteceu de tudo: a canoa furou, o motor do barco não pegou. Foi um desespero".

Do futsal para os esportes radicais

A paixão de Cris pelos esportes começou no colégio. Ela jogava handebol, basquete, vôlei, participava das corridas. A  grande paixão sempre foi o futebol. "Eu era ponta-esquerda, pequena, rápida e habilidosa. A gente tinha um time de futsal e viajava para disputar torneios. Era muito divertido".

Aos 18 anos, Cris se mudou com o então namorado para o Rio de Janeiro, entrou na faculdade de Jornalismo e aí o esporte virou o ganha pão. "Comecei a fazer estágio na TVE e depois virei repórter de um quadro chamado 'Extremo', que fazia parte do programa de esportes 'Stadium'. Comecei a praticar esportes radicais e não parei mais".

Cris chamou a atenção dos executivos globais, foi contratada e nas reportagens que fez para o Esporte Espetacular teve a oportunidade de praticar todos os esportes radicais possíveis. Foi aí que descobriu o Kitesurf. "Virou uma paixão, praticamente virei setorista desse esporte. Também pratico surf, corro na areia e jogo futebol na praia com meu filho Gabriel. Não consigo ficar parada. Em último caso, vou para a academia", diz Cris, que agora tem aproveitado o tempo livre para pegar uma praia, sempre pela manhã.

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