A cobertura esportiva que fez Fernando Rocha segurar o choro no ar

Apresentador do Bem Estar até o começo do ano, Fernando Rocha se destacou pela leveza, espontaneidade e envolvimento nos assuntos. Características existentes desde os tempos de repórter esportivo, mas que nem sempre podiam ser expostas. O jornalismo era bastante carrancudo, obrigando até a engolir o choro na hora de entrar no ar.

"Chorei como jornalista esportivo. Mas você chora, enxuga a lágrima e vai. Nunca tive chance de chorar ao vivo".

A história que fez Fernando Rocha envolve uma ciclista de 20 anos que participava de uma prova de longa duração no sertão do Piauí em 2004: "Nunca esqueço o nome dela, Dayane", fala com pesar. O jornalista diz que a garota era muito simpática e amável e cativou a equipe da Globo responsável pela cobertura da competição.

"Escolhemos a menina para acompanhar e, num determinado momento, ela perdeu o contato conosco. A organização era muito falha, faltou água em plena caatinga. Voltamos e encontramos a Dayane numa cidade que tem uma reserva de paleontologia, São Raimundo Nonato. Encontrei no hospital. Ela estava em choque, tremia. Aquela maca de metal fazendo um barulho. Olho vidrado. Eu peguei na mão dela".

A cobertura de Fernando Rocha acabou sendo a respeito da morte de Dayane Rita Moura. Ela morreu durante a transferência de carro para Teresina, a capital do Piauí. Uma matéria que devia entrar na editoria de esporte tomou contornos de denúncia.

"Eu lembro de estar no hospital e ter olhado uma placa de inauguração de UTI. Mas não tinha UTI nenhuma. Ela precisava ser removida de helicóptero. A direção da prova prometeu, mas não pousou helicóptero nenhum. Morreu na ambulância na viagem. Peguei imagem de arquivo do governador inaugurando uma UTI que não existia. Uma atleta foi embora por descaso. Nesse dia a gente chorou".

Fernando Rocha apareceu para o Brasil cobrindo esporte

O jornalista sempre quis ser repórter da área esportiva e conseguiu a almejada vaga em 1997. Chegou apresentando suas credenciais de bom humor e pautas diferentes do habitual campo e bola. O olhar buscava pautas temas interessantes dos clubes de Minas Gerais.

Desejando ir para o Rio de Janeiro ou São Paulo, Fernando foi para o Recife em busca de destaque. Emplacar matérias no Jornal Nacional, Globo Esporte e Esporte Espetacular abriu as portas para grandes coberturas. Trabalhou acompanhando Campeonato Brasileiro, Copa América, Stock Car e Fórmula 1.

Em 2009, passou a integrar o núcleo que desenvolvia o projeto Bem Estar. O programa tinha uma visão diferente da saúde. Não era para falar da doença, mas maneiras das pessoas se prevenirem e evitar precisar de médicos e remédios.

"Me orgulhei e me orgulho em ter participado do programa que transformou e salvou a vida de muita gente. Pessoas que mudaram estilo de vida e salvaram vida de parentes próximos porque fizeram exame e descobriram um câncer de mama, de intestino por causa de informações que receberam no programa".

Fernando Rocha diz que não descarta uma volta a televisão, caso ocorram convites. Explica que toda proposta que chegar será analisada com carinho. Mas o jornalista fala que até o momento não foi procurado. Por TV aberta ou fechada.

De olho na Internet

O jornalista deixou de bater ponto nos estúdios da Rede Globo há pouco mais de um mês e está tateando o mundo fora de uma emissora gigante. Ele se mostra surpreso com tantas possibilidades. Ele afirma que o YouTube e os podcasts permitem que a própria rotina vire uma atração.

"Ainda não decidi como vai ser minha vida, mas penso em priorizar o mundo digital. São plataformas muito interessantes que permitem qualidade de vida e combinam com o que penso atualmente. Praticar esportes".

Fernando Rocha fala em fazer um programa a partir de sua vida. Mostrar a rotina de treinos para uma maratona, escalada, as conversas com os filhos e suas tentativas de danças. Ele explica que o retorno do público em suas redes sociais mostra que é este tipo de coisa que as pessoas gostam nele.

Outra vantagem, é que esta rotina permite manter um estilo de vida mais saudável que aprendeu no Bem Estar. No programa, bicicleta, corrida, caminhada e outros esportes virarem parte da vida do jornalista. Ele não tem pressa de escolher um caminho. Sobre a possibilidade de usar as redes sociais para um programa próprio, confessa que procura entender o significado de ser um influenciador digital.

"Não sei exatamente o que seria isto. Antes, na minha geração as crianças queriam ser astronauta. Agora, querem ser youtuber. Tenho muita responsabilidade se for considerado um influenciador digital".

Palestrante e escritor

Uma função que Fernando Rocha tira de letra é dar palestras. Elas são baseadas em seu primeiro livro, "Na medida do possível (ou quase)". Ele fala de assuntos que conhece bem, como transformar a rotina para ter um estilo de vida saudável sem precisar se submeter a dietas draconianas. "Palestrante é mais minha praia, domino mais e toda semana tenho agenda de palestra. Quando sair o segundo, terei mais possibilidades".

Fernando pesava 115 quilos e perdeu 20 quilos durante o Bem Estar no quadro "Afina Rocha". Acrescenta que trabalha para manter a forma atingida. Mas se permite algumas extravagâncias nos finais de semana. "Descobri que não existe um manual, cada um tem a sua medida. Incentivo que as pessoas descubram o que serve para si, o que vai se adequar para sua rotina".

O segundo livro se chamará "A vida é todo dia". Entre outros assuntos, vai tratar do famoso "fantástico encontro da clara com o ovo". A frase ficou famosa durante uma abertura do Bem Estar. A obra trará os textos que o jornalista falava no começo de cada edição do Bem Estar. A data de lançamento depende da editora, mas como tudo que lia no ar era passado a limpo, a parte do jornalista está feita.

Enquanto a publicação não ocorre, ele define uma estratégia com a certeza que sabe fazer TV e pensando em experimentar novas coisas na vida. Mas sempre integrando duas coisas com as quais trabalho em quase 30 anos de Globo: esporte e bem estar.