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Fernanda Gentil desconstrói preconceito com humor e emociona com empatia

Leandro Carneiro

31/03/2019 04h00

"Leveza, humor, mas não é só rir. Tem umas pancadinhas também. Melhor forma é pensar com humor". A frase dita por Fernanda Gentil, com exclusividade ao UOL Esporte, minutos depois de duas sessões da peça Sem Cerimônia resume o que é a apresentação. Na estreia como atriz de teatro, a jornalista usou e abusou da descontração para mandar recados, combater a homofobia e fazer as pessoas refletirem sobre o momento que vivemos. Faz crítica social, desconstrói preconceitos e desperta reflexão. Tudo isso sem esquecer toda sua trajetória no esporte: "um ciclo encerrado", como ela mesma afirmou.

Para falar sobre orientação sexual, Fernanda busca a reflexão das pessoas de forma bem humorada. Ela conta toda sua história com Priscila, sua esposa, e explica como foi a conversa com a sua família, aquele "conjunto de seres humanos onde habita o amor".

Mas, mais que isso durante os aproximadamente 80 minutos de peça, cobra respeito e empatia. Obriga as pessoas a olharem umas as outras na plateia e analisar desconhecidos.

"Virou gay e vem com discurso de gay? Não, quando pegava homem, eu também falava isso. É discurso de gente. Não estou falando de rótulo, não. É mais bonito olhar para o nicho do lado, para classe do lado".

A sequência da "primeira grande pancada" na plateia é seguida por uma passagem sua na Copa da Rússia. Faz as pessoas rirem e volta a leveza, falando de Sandy e Júnior e cantando.

Fernanda passa a impressão de que está cagando regra no palco. Ela admite que de fato está, que é difícil fazer tudo que fala. "Pelo menos quero sentir que estou fazendo meu papel".

Mas, ao mesmo tempo que cobra as pessoas, ela sente o golpe. Depois de fazer todos caírem na gargalhada, Fernanda se emociona ao falar de assuntos como perder pessoas próximas e derruba junto parte da plateia.

A peça passa por toda a trajetória profissional de Fernanda. Relembra o começo no Esporte Interativo, como foi sua demissão e o processo para entrar na Globo depois de muita dificuldade. O início no É Gol, programa recentemente extinto do SporTV, criado por ela e Lucas Gutierrez, hoje no Esporte Espetacular. Sem esconder as gafes, os telefones no chão e a famosa cena de tentar cumprimentar um cego na Copa de 2010.

A apresentadora ainda se abre e mostra como conseguiu disfarçar as coisas de maneira profissional na TV. Entrar ao vivo ao saber que uma pessoa morreu. Ir para uma cobertura depois da separação dos pais. Sem deixar transparecer aquela dificuldade.

Aliás, quando fala sobre televisão, Fernanda relembra a dificuldade que é lidar com os noticiários. Os erros relacionados ao seu nome ou quando teve sua forma física questionada publicamente. E passa pelas redes sociais e o comportamento das pessoas, alerta sobre isso se transformar em doença quando usada de forma compulsiva.

E se polêmica pouca é bobagem, Fernanda cutucou os críticos da Lei Rouanet. Fazer teatro é complicado no Brasil e sem Lei Rouanet", brincou antes de fugir do assunto política para não gerar situações delicadas.

A plateia ainda teve a oportunidade de uma sessão de fotos com a jornalista depois da segunda atuação. Surpresos com uma boa atuação de uma apresentadora que não é atriz e o humor de uma jornalista que não é comediante. Mas que uniu tudo isso e deixou a maioria satisfeito com as risadas dadas dentro do teatro e reflexivo sobre como melhorar no dia a dia.

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