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Companhia cita razões técnicas para atraso em voo de comentarista do SporTV

UOL Esporte

26/12/2018 17h09

(foto: arquivo pessoal)

Processada pelo jornalista Fernando Kallás, a companhia aérea Iberia, da Espanha, enfim se posicionou sobre o caso nesta quarta-feira (26). A empresa justificou que "razões técnicas" atrasaram o voo que impediu o comentarista do SporTV de se despedir apropriadamente do pai, que estava internado e nas últimas horas de vida em abril de 2016.

"Pedimos desculpas pelos inconvenientes causados ao Sr. Cavalcanti Kallás em função do atraso do voo IB6827, de Madri para São Paulo, no dia 3 de abril de 2016. O voo foi atrasado por razões técnicas e, portanto, foi um caso de força maior. Os clientes afetados pelo atraso não tiveram direito a qualquer compensação", diz a Iberia em nota ao UOL Esporte.

"O Sr. Cavalcanti Kallás nos contatou através do departamento de atendimento ao cliente e por nossas redes sociais em 2017. Conforme solicitado na época, nosso departamento de atendimento ao cliente enviou a ele dois certificados que atestam o atraso dos voos", concluiu a empresa, que diz estar à disposição para maiores esclarecimentos.

Na última sexta-feira (21), a reportagem publicou a "saga" de Fernando Kallás na Justiça. Confirmando parte do que disse a companhia aérea, o comentarista do SporTV alega que o único contato direto que recebeu da Iberia desde 2016 veio em agosto do ano passado, quando escreveu à empresa no Twitter.

"Olá, Fernando. Lamentamos profundamente a morte de seu pai. Nos envie por DM os detalhes do ocorrido, por favor. Saudações", publicou a companhia na mesma rede social, em resposta a uma reportagem do jornal "El Mundo" sobre o caso. A Iberia justifica que Kallás não teve direito a qualquer compensação.

Porém, uma lei em vigor na União Europeia desde 2005 estipula que o passageiro tem direito a uma indenização de 600 euros (mais de R$ 2.600, segundo a cotação atual) se o voo tiver atraso de mais de três horas e distância superior a 3.500 quilômetros – Kallás vinha de Madri para São Paulo.

Se um juiz considerar que o jornalista tem direito, pode fazer com que a indenização de 600 euros seja multiplicada por 10 e chegue a 6.000 euros (mais de R$ 26 mil). No Twitter, o brasileiro que processa a Iberia diz que seu objetivo não é dinheiro: "Não vou desistir! Quero justiça", escreveu.

Entenda o caso

(foto: arquivo pessoal)

Elias, pai do jornalista brasileiro Fernando Kallás, teve autorização médica para continuar vivendo normalmente com seu diagnóstico de câncer no pulmão. No entanto, no dia 31 de março de 2016, o sociólogo e professor acordou tossindo e foi internado aos 80 anos. Os exames apontaram que um dos pulmões havia sido rapidamente tomado pela metástase do câncer.

Além de comentarista do SporTV, Kallás é jornalista nos veículos "AS", da Espanha, e "BBC", do Reino Unido; naquele momento, estava ocupado na redação com um Barcelona x Real Madrid, mas recebeu uma ligação urgente de sua mulher. Ela o aconselhou a comprar a primeira passagem para o Brasil, pois talvez tivesse de se despedir do pai.

Inicialmente previsto para decolar às 23h30 do dia 2 de abril, o voo IB6827 sofreu atraso e foi cancelado pela primeira vez às 2h30 da madrugada. O embarque foi remarcado para as 9h30, mas um novo problema na decolagem atrasou Kallás mais uma vez. Ele esperava desembarcar em São Paulo no domingo de manhã, mas só pousou em Guarulhos à noite.

Fernando ainda encarou 200 km de estrada até Pouso Alegre (MG), onde o pai estava internado. Em meio a tantos atrasos, Elias pediu aos médicos para ficar acordado, sem sedação, porque queria se despedir do filho conscientemente. O encontro entre os dois durou meia hora, e a espera o fez sofrer acordado com as dores. Ele faleceu 24h depois.

Ana Carolina Silva
Do UOL, em São Paulo

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