Luiz Ceará relembra briga entre Neto e Marcos: “fiquei com cara de trouxa”
Crédito: Divulgação/Rede TV!
No ano de 2010, Marcos, ex-Palmeiras, já ensaiava sua aposentadoria dos gramados – que aconteceria dois anos depois. E uma entrevista do goleiro sobre o tema, após uma falha, rendeu-lhe duras críticas do comentarista da TV Bandeirantes, Neto, durante o programa Jogo Aberto, apresentado por Renata Fan. Não demorou muito para a réplica do arqueiro, que rebateu o ex-corintiano diante de um constrangido repórter Luiz Ceará, que ainda tem a cena gravada em sua mente.
Em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte, o hoje repórter da Rede TV! recorda o vídeo que ganhou uma série de cliques no YouTube – veja mais abaixo. Além da 'cara de trouxa' que ele mesmo diz ao acompanhar Marcos rebater Neto, Luiz Ceará nega que o apresentador e comentarista tenha o derrubado da TV Bandeirantes – ele foi demitido da emissora no ano de 2012.
Neto: "Marcos é um grande goleiro, mas estou de saco cheio, estourando, de toda a hora que perde um jogo, [ele] fala: 'Eu vou parar'. Não fica toda hora falando que vai parar. Quer parar? Para logo. Parece criança, você não dá o doce e começa a chorar".
Marcos: "Estou acostumado a críticas, mas fiquei bastante chateado com o que o Neto falou. Nunca pedi para ele me defender. Ele não é meu amigo, me compara demais ao Rogério Ceni e eu não gosto disso, pois fica uma situação chata, constrangedora. Falta um pouco de ética da parte do Neto".
"O Marcos esculhambou o Neto, mas não teve a ver com aquilo, não. O que teve a ver foi que o Zé Emilio [diretor de jornalismo e esporte] queria mexer na redação, trazer caras mais novos, repórteres bons também, ex-jogadores, e então precisou limpar um pouco a área. Ele mandou outros caras embora também, fez uma limpeza lá, mas eu sei que ele se arrependeu, ele fez cagada, e o que aconteceu entre o Marcos e o Neto eu não sabia, fui pego de surpresa, e o seguinte: se tinha uma treta, digamos assim, não tinha nada a ver com a entrevista que eu estava fazendo com Marcos. O Marcão é um cara que me deu grandes entrevistas, eu era amigo dele, só que, de repente, ele começou a falar tudo aquilo do Neto", conta.
"Você pode olhar a fita, eu estou com cara de trouxa, sem saber o que falar, e eu tinha duas coisas para fazer ali, como amigo dos dois: eu poderia ter entrado na conversa e ter cortado o Marcão, mudava de assunto, ou poderia ter deixado ele falar, respeitando o entrevistado. Na minha cabeça tem a crítica e tem a réplica, ou seja, o Neto poderia entrar ali e mandar ele tomar no cu, então eu dei o direito a ele de falar aquilo, então até hoje eu acho que eu fiz a coisa certa. Todo mundo fala que o Neto me derrubou, e o Neto não me derrubou, o Neto foi convidado para fazer o programa e fez, ele não tem nada a ver com a minha demissão, muito pelo contrário; o Neto só me ajudou, a vida inteira. É uma pessoa que eu gosto e tem um coração maior que ele. As pessoas não entendem ele, não sabem de onde ele veio, como foi a infância dele, eu sei tudo, eu conheço o Neto desde que ele tem 16 anos, em Campinas, então eu sei que ele é lutador", acrescenta.
Um ano depois, Marcos e Neto selaram a paz em uma casa de shows em São Paulo. Eles se abraçaram, conversaram e deixaram para trás as rugas que ficaram após o episódio.
Jornalista 'por acaso', Ceará já teve música gravada por Elza Soares
Antes de dar início à carreira de jornalista, Luiz Ceará tentava a vida como músico. E mesmo ainda aos 19, conquistou algo para nenhum compositor botar defeito: teve uma música gravada pela então já consagrada cantora Elza Soares, chamada Solidão, em disco de 1973.
"Eu virei jornalista mais por um acaso. Eu era músico, estava morando no Rio de Janeiro em 1970 e tocava na noite para me defender, tentar gravar alguma coisa, e eu era muito amigo do Laércio de Freitas, pai da atriz Thalma de Freitas, e ele é um grande pianista, um craque, um monstro, e ele é aqui de Campinas. E o Laércio também morava no Rio e nós começamos a fazer algumas coisas juntos, músicas… E ai um dia o Laércio falou: 'A Elza Soares vai gravar um disco e eu vou fazer os arranjos, vou produzir o disco dela, mas ela só vai gravar com os grandes compositores, vai gravar músicas do Mano Décio da Viola, do Cartola, Nelson Cavaquinho, esses craques'. Mas eu tinha uma música que se chama Solidão e que eu podia mostrar para ela… 'Mas Laércio, você está falando para mim que ela vai gravar as músicas desses craques aí, o que é que eu vou fazer? Eu vou passar vergonha, né'? E o Laércio falou: 'Não vai passar vergonha, ela vai ouvir, ela é gente muito boa, vamos na casa dela comigo e eu quero que você mostre essa música para ela'", recorda.
"Aí eu peguei e fui na casa da Elza Soares, mostrei a música para ela e ela ficou me olhando assim e falou: 'Você tem 20 anos, como você pode ter feito uma música dessa? Você não tem útero, você não podia estar pensando em solidão dessa forma'. A Elza Soares se assustou com a letra da música, com a tristeza, porque é uma música de um cara mais velho, um cara mais sofrido, mas quem faz música faz e acabou, o negócio sai da sua cabeça e é o que era a minha praia", lembra Ceará, que até hoje não esquece do momento em que ouviu a música gravada pela primeira vez.
"O Laércio me levou ao estúdio e a Elza estava lá, e ela falou: 'Menino, dê uma olhada no que você fez, olha o tamanho do estrago'. Pô, a música ficou bem legal, com uma orquestra tocando a música, puta que o pariu [risos]. Eu quase tive um infarto, com 20 anos… O coração começou a bater a 180, era inacreditável, as pernas tremiam… Eu via a Elza Soares cantando na TV, e eu acabei ficando muito próximo da Elza. Ela esteve aqui em Campinas há um tempo atrás e ela chorou pra caraca ao me ver. Eu fui me apresentar para ela, porque ela não acompanhou o meu envelhecimento físico… Quando eu a vi eu estava com 65, hoje tenho 68, e ela falou: 'Você é o Luiz'? Eu falei: 'Sou eu, meu amor', e ela falou: 'Nossa', e cantou Solidão… Não tem tamanho! E eu falei: 'Pô, Elza, assim você vai matar o véio [risos]. Mas é muito emocionante, a música foi gravada por uma grande artista quando só tinha nêgo cobra [compondo]", conta.
Garrincha deu estalo para virar jornalista esportivo
No dia em que foi à casa de Elza Soares para mostrar a sua composição, Luiz Ceará, que também já era fã de futebol, deparou-se com a presença de Garrincha, então marido da cantora. Foi o suficiente para ele decidir o que queria fazer profissionalmente pelo resto da vida.
"Entrou o Garrincha na sala, de calção, sem camisa, e cumprimentou a gente. E naquela hora ali mudou a minha história, por que? Eu era boleiro, morava no Leblon, eu ia jogar bola na praia, assistir aos jogos do Flamengo… E aí eu vi o Garrincha e falei: 'puta que o pariu, eu estou ficando louco, eu tenho que ficar perto desses caras', e aquilo foi um estalo que me deu de querer mudar, de querer fazer jornalismo esportivo", relembra Luiz Ceará.
Como foi parar no jornalismo esportivo?
Crédito: Arquivo pessoal/Luiz Ceará
O primeiro trabalho de Luiz Ceará relacionado ao jornalismo aconteceu em um diário de Campinas, escrevendo críticas sobre músicas. Depois, já durante a faculdade de jornalismo, arrumou um bico de publicidade em uma rádio e resolveu arriscar: fez uma proposta ao seu diretor e ganhou um programa que se tornou líder de audiência – como ele conta.
"O Zeza, que era da minha banda, trabalhava no Diário do Povo, jornal de Campinas, e ele disse assim: 'Por que você não escreve sobre música no jornal? Eu vou falar com os caras'. Aí ele falou com o Romeu Santini, que era o diretor do jornal, e ele me pediu um texto. E ele: 'Você vai escrever críticas de músicas'. E eu comecei a escrever no jornal. Aí eu peguei e fui fazer vestibular para jornalismo, porque eu queria ser jornalista mesmo. Só que eu tinha na minha cabeça que eu queria trabalhar no esporte por causa daquele dia na casa da Elza Soares, onde eu vi o Garrincha, e também porque eu comecei a trabalhar na Rádio Cultura de Campinas. Essa rádio na época tinha a melhor equipe de esportes da cidade, e eu no meio daqueles craques, só que eu vendia publicidade na rádio…", lembra.
"E aí, eu na faculdade escrevendo sobre música e trabalhando na rádio, falei com o diretor da rádio: 'Olha, Paulinho, eu estou com vontade de fazer um programa diferente, de produzir uma coisa diferente, o que você acha? Vamos fazer um programa de jornalismo, botar a molecada da minha sala de aula na rua, na minha classe todo mundo quer trabalhar, então você dá o estágio para três ou quatro e a gente dá gravadores para eles irem para a rua fazer matéria. Aí eu montei um programa que em três meses virou líder de audiência, chamava-se Comando Geral", acrescenta Ceará, que logo depois enfim alcançou o tão sonhado trabalho com esporte.
"O Romeu Santini [diretor do Diário do Povo] era o cara mais poderoso da cidade, e ele era o meu professor na PUC, e numa determinada noite ele falou: 'Está vindo para Campinas uma televisão que vai ser afiliada da TV Globo, vai se chamar TV Campinas – hoje EPTV – e eu contratei o Oliveira Andrade [narrador] e agora estou contratando você para ser repórter", recorda.
VEJA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA
Outra música de sucesso na carreira, com a Banda Brejo
Crédito: Arquivo pessoal/Luiz Ceará
Nós gravamos um disco só com músicas nossas, e depois uma delas, que eu fiz, chamada Turmalina, entrou numa série da TV Globo, Obrigado Doutor, com o Francisco Cuoco. A banda era um sucesso em baile, a gente abria show do Chacrinha, tocava no programa Almoço com as Estrelas, do SBT, e a banda era foda, cara. Só que a banda era uma coisa de duas faces porque a gente tocava esse som roceiro, mas também estilo dancing, tocava Led Zeppelin…
Briga com Datena: "ele é coração puro"
Nós tivemos uma briga e eu não sei exatamente porque foi, mas eu deixei de falar com o Datena. Acho que durou um ou dois meses, e ele voltou a falar comigo. Na Copa do Mundo de 2010, o Fernando Fernandes estava fazendo um ao vivo e eu estava ao lado do camera man, o Cabeção, e o Fernandinho falou para o Datena: 'Sabe quem está aqui? É o Ceará', e o Datena quase começou a chorar, entendeu? Ele ficou emocionado, mandou me chamar e falou: 'Pô, a gente não podia ficar longe', isso tudo ao vivo. O Datena é autêntico, é coração puro. É outro que é Pelé, né? Não tem igual. O Datena é um monstro.
Renata Fan: "pessoa mais competente que conheço"
Eu sou o único cara que chama a Renata Fan de Renatona, pelo amor, pelo carinho imenso que eu tenho por ela, guerreira, competente para caralho, uma pessoa com uma imensa competência. Sete da manhã ela já está na televisão, dando risadas, andando pela redação, montando o esquema dela. Faz o programa, pega um carro, vai para Recife, faz um evento, volta à noite e de manhã está na TV novamente. Ela é fodida, ela é a pessoa mais competente que eu conheço. É a maior de todas, está disparada na frente, a maior comunicadora de TV na área do esporte, e não vai aparecer tão cedo na televisão uma pessoa que tenha a competência da Renata Fan.
Luciano do Valle: "era o Pelé"
O Luciano é um capítulo à parte. O Luciano era o Pelé. O Luciano tinha um sonho à noite e depois, no dia seguinte, realizava esse sonho. É o único cara que eu conheço que fez isso. Ele sonhou com o vôlei e no outro dia ele fez o vôlei funcionar. Ele sonhou que ia botar o vôlei no Maracanã e fez isso. O Luciano sonhava com os olhos abertos, sentado e quieto… 10, 15 minutos antes de começar o futebol ele ficava quieto com os olhos fechados, ele estava sonhando, ele era foda, um cara acima de qualquer um. O Luciano do Valle era igual ao Pelé, não tem ninguém que vai narrar parecido com o Luciano na história da televisão brasileira, ninguém vai fazer o que ele fez, ninguém tem a categoria dele, ninguém tem a voz dele, ninguém tem o vislumbre, ninguém narra uma jogada igual ao Luciano do Valle, ninguém vai narrar igual ao Luciano.
Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
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