Comentarista do SporTV trava guerra judicial com empresa após morte do pai

(foto: arquivo pessoal)

Elias, pai do jornalista brasileiro Fernando Kallás, levou uma vida normal até o dia 31 de março de 2016. Mesmo com o diagnóstico de câncer no pulmão, feito um ano antes, os médicos seguiram otimistas e o deixaram trabalhar. Mas a história teve uma guinada angustiante e cruel no primeiro fim de semana de abril, e o comentarista do SporTV jamais imaginou que o direito de se despedir do pai viraria uma guerra judicial contra a companhia aérea Iberia.

Naquela quinta-feira de 31 de março, depois de todos os seus exames apontarem pulmões limpos, Elias acordou tossindo e com sintomas que, até então, se assemelhavam a um quadro de pneumonia. Aos 80 anos e já sob os cuidados do hospital em Pouso Alegre (MG), o sociólogo e professor universitário piorou na noite de sexta e permaneceu internado.

Amal, mulher de Fernando, é médica anestesista especializada em cirurgia de urgência; pessoas com este currículo costumam manter a estabilidade emocional em momentos de crise, mas, desta vez, ela não conseguiu. Enquanto um Barcelona x Real Madrid ocupava o marido no trabalho, ela ligou e o aconselhou a comprar a primeira passagem para o Brasil.

O senhor Elias estava sofrendo: se os dois pulmões estavam limpos três semanas antes, desta vez um deles surgiu tomado pela metástase do câncer.

(foto: arquivo pessoal)

O avião para São Paulo tinha decolagem prevista para as 23h30 de 2 de abril, na noite de sábado. Quando o embarque já deveria ter ocorrido, a companhia Iberia avisou que haveria um atraso de 30 minutos; depois, mais uma hora. Às 2h30 da madrugada, avisaram a Fernando que o voo tinha sido cancelado. Os passageiros voariam sete horas depois, às 9h30.

Segundo ele, a empresa teria dado justificativas diferentes para os passageiros; para Fernando, nada foi dito sobre mau tempo ou condições inseguras de voo. Seu Elias sofria e precisava ser sedado, mas pediu aos médicos para ficar acordado para que pudesse se despedir do filho.

Angustiado por saber que sofrimento do pai estava sendo prolongado, o jornalista de AS, BBC e SporTV foi para casa e tentou dormir durante o pouco tempo de intervalo que teria entre as tentativas.

Afinal, precisava se apresentar novamente no aeroporto em Madri às 7h30. Porém, Kallás sofreu com um novo atraso de duas a três horas, desta vez decorrente de um problema na decolagem. Ele esperava chegar em São Paulo no domingo de manhã, mas só pousou no aeroporto de Guarulhos à noite.

(foto: arquivo pessoal)

Fernando ainda teve de encarar 200 km de estrada até Pouso Alegre. O encontro entre os dois finalmente ocorreu, mas durou menos do que ambos mereciam. Elias sofria tanto com a dificuldade respiratória que foi sedado após passar apenas meia hora com o filho. Faleceu 24 horas depois.

O comentarista do SporTV já relatou muitas vezes esta história em suas redes sociais e à imprensa europeia. Ele diz que o único contato direto que recebeu da Iberia até hoje foi uma mensagem quase protocolar pelo Twitter: "Olá, Fernando. Lamentamos profundamente a morte de seu pai. Nos envie por DM os detalhes do ocorrido, por favor. Saudações".

Sem usar palavras que indiquem um pedido de desculpa, a companhia aérea publicou a declaração acima como resposta a uma reportagem do jornal espanhol "El Mundo" sobre o caso. O UOL Esporte procurou o escritório da Iberia no Brasil e sua assessoria de imprensa na Espanha; inicialmente, a empresa diz que está em recesso de fim de ano e pede paciência para responder nos próximos dias. Quando isto ocorrer, terá seu posicionamento publicado aqui.

Segundo a legislação espanhola, a ação movida por Fernando pode render, no máximo, uma indenização multiplicada por 10. Neste caso, como a quantia prevista por lei é de 600 euros, o juiz pode exigir que a Iberia pague 6.000 euros ao jornalista. No Twitter, o filho de Elias deixa claro que não é o dinheiro que o motiva: "Não vou desistir! Quero justiça!", escreveu.

Ana Carolina Silva
Do UOL, em São Paulo