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Apresentadora recorda agressões em La Bombonera: “nunca havia apanhado”

UOL Esporte

16/12/2018 04h00

Crédito: Reprodução/Facebook

O ano de 2012 ficou marcado na vida de Débora Vilalba. Corintiana declarada, a jornalista pôde comemorar o marcante título da Libertadores, o primeiro na história do clube. Porém, a campanha ao longo da competição não foi só de flores, ao menos para ela. Então apresentadora do programa A Liga, da TV Bandeirantes, ela viveu momentos de tensão no jogo de ida da grande decisão contra o Boca Juniors, na mítica La Bombonera. Foi lá onde, segundo ela, apanhou pela primeira vez na vida.

Débora Vilalba gravava uma reportagem no meio da torcida do Boca Juniors. Com 1 a 0 no placar (gol de Roncaglia aos 27min do segundo tempo), os argentinos faziam a festa, mas Romarinho calou o estádio com um gol até hoje emblemático – marcado aos 39min. Foi o passo que o Corinthians precisava para abrir caminho para a conquista. Só que o gol deixou a torcida xeneize irritada, e acabou sobrando até para a apresentadora – como ela conta em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

"Eu estava no programa A Liga, da Band, na La Bombonera, e foi uma loucura. Cada um fez uma parte, e eu fui a brasileira que se infiltrou na torcida do Boca, isso foi incrível, mas quando acabou o jogo eu tomei chute, tapas, apanhei… Acho que foi a única vez que eu apanhei na minha vida, nem da minha mãe e nem do meu pai eu tomei tapa na bunda, e eu fui apanhar em La Bombonera", relembra a apresentadora, que em seguida brinca sobre o que teria motivado as agressões por parte dos torcedores do Boca.

"Eu apanhei porque o Romarinho empatou o jogo [risos]. A gente estava no meio dos argentinos, na torcida do Boca, e aí, na hora que saiu o gol do Romarinho, tinha um brasileiro do meu lado, e a equipe da Liga era toda argentina e eu a única brasileira, e, quando sai o gol de empate do Corinthians, este brasileiro levantou a mão; ele não super comemorou, mas deu a maior brecha, e aí, quando acabou o jogo, vieram para cima da gente, da equipe, e desse brasileiro que estava com a gente. Os próprios argentinos da equipe apanharam também", disse.

Dos males, porém, o menor. Na visão de Débora Vilalba, a história poderia ter sido outra se os papeis estivessem invertidos: "Uma coisa que eu fiquei surpresa: eu acho que se tivesse sido ao contrário poderia ter sido pior. Foi horrível, mas se fosse da Gaviões com um argentino teria sido pior. Eu achei muito louco o La Bombonera lotado para Corinthians e Boca, mas a torcida do Corinthians brilhou, foi uma loucura, uma invasão brasileira em Buenos Aires absurda, e eu sou Corinthians".

"Não imaginam o perigo que é ser jornalista"

Débora Vilalba não foi a primeira e nem será a última jornalista a sofrer agressões durante o trabalho, infelizmente. E ao longo da conversa por telefone, ela saiu em defesa da classe e revelou um sonho que tem relacionado a sua profissão: que ela seja mais respeitada.

"O meu sonho é que as pessoas não desqualifiquem a imprensa, que as pessoas acreditem mais nos jornalistas que estudaram e trabalham para isso. O Brasil não imagina a dificuldade que é e o perigo que é ser jornalista… Eu falo que o jornalismo está entre os trabalhos mais perigosos e tem gente que ri, mas isso é estatístico", opina Débora.

"Nós estamos num momento que a gente tem que acreditar na imprensa e apoiar a imprensa. Isso é importante para todo mundo porque, se tem que acreditar em alguma coisa, é no que o jornalismo e a mídia estão mostrando. Agora parece que jornalista virou o culpado de tudo".

De modelo a apresentadora, por 'culpa' do esporte

Crédito: Reprodução/Instagram

Antes de entrar, sem querer, no mundo do jornalismo, Débora Vilalba trabalhou por muito tempo como modelo. A paixão pelo esporte, porém, colocou-a na telinha. Foi em 2000, quando recebeu o convite para trabalhar no programa Zona de Impacto, da Sportv.

"Eu comecei como modelo bem nova, adolescente, na verdade, e eu trabalhei muito como modelo: campanhas de publicidade, de televisão, editorial de moda, catálogo, muitas campanhas que marcaram. E como eu fui parar no esporte? Eu sempre pratiquei muito esporte, desde essa época de adolescente… Cresci fazendo judô, depois fiz jiu-jitsu e, na época, quando eu comecei na televisão, não tinha visibilidade nenhuma, e foi isso que chamou a atenção do SporTV. Por quê? Por que eu competia? E quando saíram algumas entrevistas dizendo que tinha uma modelo que também praticava jiu-jitsu, com eu de quimono, o SporTV estava contratando apresentadora, e naquela época tinham tradição de colocar atleta e ex-atleta para os programas, e aí eu fui contratada para fazer o Zona de Impacto, que era um programa de esporte radical. Então começou aqui a minha trajetória no jornalismo esportivo", conta.

Ainda durante o Zona de Impacto, Débora conseguia conciliar a televisão com a carreira de modelo. A 'duplicidade' chegou ao fim quando veio o convite para apresentar a 'versão paulista' do Globo Esporte – oportunidade que durou três anos, até aparecer a Record em sua vida.

"Eu trabalhei mais de dez anos como modelo. Eu parei quando fui para a Globo, porque aí eu não podia fazer mais nada, eu tinha um contrato que eu não podia fazer publicidade, e não tinha tempo também, aí não trabalhei mais como modelo. Na verdade, eu troquei um pelo outro, foi uma consequência. Eu não tinha muita pretensão. Eu estudava comunicação social e as coisas já estavam um pouco complicadas por causa do tempo, então não foi uma coisa que aconteceu assim: 'Ah, eu vou para o jornalismo esportivo'. Acabou acontecendo porque eu gostava de esporte, pegava onda, fazia wakeboard, snowboard, surfe, andava de skate, sou bicampeã no jiu-jitsu…", revela Débora, que diz adorar o sucesso, mas não a fama.

"Fama não me seduz. O sucesso é animal. É legal porque é um trabalho independente da fama. Tem gente famosa aí por não fazer nada, por fazer besteiras, e tem muitos exemplos de famosos que são maus exemplos. Mas sucesso profissional é incrível, é uma satisfação inenarrável", acrescenta a apresentadora.

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O que gostaria de ver a mulher fazendo no jornalismo esportivo

O que eu não vi é narrando futebol. Eu vi outro dia, mas eu quero ver de verdade. Tem muitas candidatas, mas acho que é uma tarefa difícil, esse primeiro passo… Ela vai quebrar algumas barreiras. De todas essas barreiras que a mulher está quebrando no futebol, a de narrar acho que é a última [risos]. O Brasil não está acostumado a ouvir uma voz feminina narrando futebol, e a dificuldade vai ser encontrar um formato ideal porque essa narradora não vai poder fazer como os homens fazem, de uma maneira própria, o timbre da voz, então essa é a maior dificuldade. Vai ter que encontrar um caminho próprio para as pessoas aceitarem, porque é uma questão de costume.

Renata Fan: "acho ela uma jornalista incrível"

A gente não é amiga porque não convive, mas eu acho ela uma jornalista incrível, uma mulher incrível, ela é muito inteligente. Eu penso que ela é tudo o que todo mundo fala, de verdade, e quem não for nessa é dor de cotovelo. Ela sempre foi esforçada, é advogada, é jornalista, lê todos os jornais esportivos, se informa, sabe o que está falando. Não tem o que falar dela, não.

As preferidas no jornalismo esportivo: "Fernanda Gentil é sensacional"

As meninas da Fox estão arrebentando, a Ana Thais Matos, do SporTV, a Maíra, ex-Rádio Globo, a Lívia Laranjeira, e a Fernanda Gentil, ela é sensacional. Ela abriu um caminho legal para as mulheres dentro deste mercado, mais solto, de espontaneidade.

A saída da Record para a Band: "não foi por dinheiro"

Quando o A Liga da Band surgiu, eu estava na Record. Eu não ia sair por causa de dinheiro… O Edu Zebini tinha saído, toda a equipe que tinha me levado para a Record tinha saído, e a Record tinha trazido uma equipe nova, toda diferente, para reformular o departamento, e logo em seguida a Record perdeu todos os campeonatos, a Record transmitia o Brasileiro e o Campeonato Paulista, e aí foi diminuindo o conteúdo e, de repente, deixou de ter, e aí veio junto a proposta da Band sobre esse projeto, o da Liga, que ainda era uma coisa meio secreta, e a princípio eu não quis. 'Pô, vou trocar a Record? Eu ainda tenho um tempinho de contrato, estou no ar', mas aí eles me deram o material para eu analisar sem compromisso. 'É um projeto inovador, é diferente, é um risco, mas tem tudo para dar certo, vem de outros países, já fez sucesso no Chile, Argentina', e eles me deram um DVD dos programas que já tinham ido ao ar na Argentina e no Chile, e na hora que eu cheguei aqui em casa, eu me lembro direitinho: eu saí da Record, fui na produtora e eles me deram os DVD's. Eu cheguei em casa e coloquei no aparelho; começou o programa e em cinco minutos eu já tinha aceitado a proposta. Eu gostei da comunicação visual, do conteúdo, da edição… Aí eu conversei na Record e falei: 'Poxa, eu quero ser super sincera, eu não quero contraproposta, não quero nada, eu quero sair porque eu estou sem espaço aqui e vou ficar cada vez mais', porque tinha chegado a Mylena Ciribelli, tinha chegado um monte de gente, e aí eu fui, eu arrisquei, e ficamos um tempão, quase um ano, produzindo, gravando, antes de estrear. Eu fiz três temporadas de A Liga; no total do trabalho deu quatro anos e meio.

"Não sofri machismo ou preconceito no jornalismo esportivo"

Eu não sou uma pessoa oprimida que agora está na moda, mas é claro que há machismo no jornalismo esportivo. Tinha e continua existindo, mas melhor hoje porque a gente tem muitas mulheres bacanas e antes não tinha essa quantidade de mulheres jornalistas trabalhando no esportivo. Mas eu não lembro de ter sofrido preconceito, não, acho que sofri a pressão natural de TV, de canal grande, essas coisas assim, mas machismo ou preconceito, não.

Eu quero voltar para a TV, eu gosto muito do esporte, que é o meu berço, e é o que eu gosto, mas a experiência que eu tive no A Liga e nas outras coisas que eu fiz fora do esporte foram muito felizes e, para mim, são um grande orgulho de ter feito parte.

Gratidão a Marco Mora, ex-diretor da Central Globo de Esportes

Uma pessoa que eu senti muito, das oportunidades que eu tive, e ele morreu no começo deste ano e não tive a oportunidade de agradecer, foi o Marco Mora. Ele teve uma importância no meu caminho para a Globo, ele me ajudou, foi um cara legal, me deu uns toques bons, acreditou em mim, porque não foi uma tarefa fácil tirar uma menina do Zona de Impacto no momento que o Globo Esporte ia mudar, e um monte de gente preferida na vaga e, de repente, eu fui a escolhida. Eu não me imaginava.

Por Marcello De Vico e Vanderlei Lima
Do UOL, em Santos e São Paulo

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