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EI se explica após críticas por colocar narradora da Champions em 2º canal

UOL Esporte

01/05/2018 19h51

Depois de vencer o concurso Narradora Lays, Vivi Falconi foi a Madri com o Esporte Interativo para narrar o jogo de volta da semi da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Bayern de Munique, no Santiago Bernabéu. Além de fazer história nesta terça-feira (1), ela mostrou competência, uma dose natural de nervosismo e muita interatividade com o comentarista Mauro Beting, mas a emissora recebeu críticas por tê-la colocado no canal secundário, que não está disponível para todos os assinantes das diferentes operadoras de TV fechada.

O canal principal transmitiu a mesma partida com a voz de André Henning, narrador que já vinha trabalhando em outros jogos da Liga dos Campeões. Em contato com o UOL Esporte, o EI alegou que a decisão foi tomada "na concepção do projeto, por uma questão de compromisso com patrocinadores da Liga dos Campeões e com o fã da competição, que se habituou a acompanhar as partidas com o André Henning".

No texto enviado à reportagem, o Esporte Interativo também reiterou que fará uma proposta para que Vivi permaneça no canal, bem como outras participantes. "Estamos muito orgulhosos", afirmaram.

Embora o EI diga que a decisão de colocá-la no segundo canal foi tomada na concepção do projeto, ficou claro que muitos telespectadores estavam desinformados a respeito deste fato. Muitos foram à internet para reclamar da menor visibilidade dada à primeira mulher brasileira a narrar uma partida da competição europeia in loco – isto é, no estádio.

Assinantes escreveram que acompanharam o reality show desde o início e ligaram a televisão na expectativa pela narração de Vivi, mas que se surpreenderam ao descobrir que não poderiam acompanhá-la.

"A primeira mulher brasileira a narrar a Champions League direto do estádio! Tem que respeitar a Vivi!", escreveu o perfil do Esporte Interativo no Twitter. No entanto, durante o jogo, quase todos os vídeos de lances publicados pela mesma página eram narrados por André Henning. Posteriormente, após o apito final, maiores amostras do trabalho da narradora foram devidamente postados nas redes sociais da emissora (veja no compilado abaixo).

Vivi não emplacou bordões, mas emocionou Mauro Beting. "Você está carregando o sonho de muita gente com você", disse o comentarista. Apesar de críticos à decisão da emissora, muitos internautas se empolgaram com a transmissão e parabenizaram o Esporte Interativo pela iniciativa – houve quem dissesse que preferia ouvi-la a escutar André Henning ou mesmo Galvão Bueno, que fazia o jogo na TV Globo. Foi comparada a Luciana Mariano, que, em 1977, foi a primeira mulher a narrar o futebol na TV brasileira.

No entanto, comentários pejorativos e machistas também inundaram as redes: neste caso, a análise dos telespectadores não se restringia à qualidade do trabalho de Vivi Falconi nesta partida, mas sim a uma percepção de que "é estranho demais ver mulher narrando". Não deveria ser estranho: conheça melhor a nova geração de narradoras que tiveram as portas abertas pelo Esporte Interativo.

Em nota enviada ao UOL, o EI também deu destaque aos projetos das emissoras concorrentes, como o Fox Sports, que terá narradoras na Copa do Mundo (também em seu segundo canal), e a ESPN Brasil, que abriu espaços pontuais para a narração feminina.

Vivi Falconi venceu o concurso e a depressão

Aos 33 anos, a paulistana Vivi realizou um sonho e se consagrou como a vencedora do concurso, que deve lhe render um contrato com a emissora. Ao ouvir seu nome anunciado, ela não se conteve e foi às lágrimas: sabia a importância do momento e que a trajetória não havia sido fácil. Teve de superar uma depressão, o machismo e comentários preconceituosos. Dentre os mais leves, estavam "ah… a gordinha", "grita pra caramba", mulher narrando só fica gritando", "vai cozinhar".

Cerca de cinco anos atrás, Vivi trabalhava como operadora de telemarketing e estava muito infeliz na função. A narradora ainda sonhava em fazer uma faculdade de jornalismo, mas tinha problemas financeiros e não conseguia pagar os estudos. Acabou desenvolvendo uma depressão. Nesta terça-feira, como disse Mauro Beting, teve a chance de realizar seu sonho e abrir as portas para os sonhos de outras.

Confira a nota do Esporte Interativo na íntegra:

Estamos muito felizes com o resultado do projeto A Narradora Lays e satisfeitos com o desempenho da Vivi Falconi nesse grande jogo de semifinal, entre Real Madrid X Bayern. A decisão de exibir a transmissão no Esporte Interativo 2 já tinha sido tomada na concepção do projeto, por uma questão de compromisso com patrocinadores da Liga dos Campeões e com o fã da competição, que se habituou a acompanhar as partidas com o André Henning.
É muito importante que projetos como o nosso, como o da Fox Sports – que terá narradoras na Copa do Mundo, no segundo canal – da ESPN – que abriu espaços pontuais para uma mulher narrar – tenham apoio da opinião pública e da imprensa, para termos uma cobertura esportiva cada vez mais diversa. Um caminho que ainda teve a companhia apropriada do movimento #DeixaElaTrabalhar, apoiado integralmente pelo Esporte Interativo.

O projeto vai muito além da narração desta partida. A Vivi vai continuar no Esporte Interativo e outras participantes receberam propostas para trabalhar com a gente ou em outros veículos. Houve abertura de mercado para uma categoria que não era considerada antes de A Narradora Lays entrar no ar.

Estamos muito orgulhosos de termos sido o primeiro canal a mostrar um jogo de Liga dos Campeões, narrado por uma mulher, direto de um dos mais importantes estádios da Europa.

Ana Carolina Silva e Beatriz Cesarini
Do UOL, em São Paulo

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