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Em carta, repórter mexicana relata assédio sofrido durante final de torneio

UOL Esporte

30/04/2018 18h09

Maria Fernanda Mora, jornalista do canal FOX Sports no México, divulgou nesta segunda-feira (30) uma mensagem "à opinião pública" com detalhes do assédio que recebeu na última quarta-feira (25), enquanto cobria o título do Chivas Guadalajara na Liga dos Campeões da Concacaf 2018.

Na ocasião, enquanto acompanhava a movimentação em uma região de Guadalajara conhecida como Fuente de la Minerva, Mora entrou ao vivo ao lado de torcedores. Um deles apertou suas nádegas, e a jornalista reagiu imediatamente: virou-se de costas para a transmissão e acertou o torcedor com o microfone.

"O que me aconteceu na madrugada da última quinta-feira na Fuente de la Minerva, em Guadalajara, durante as comemorações da Liga dos Campeões, acontece com milhares de mulheres todos os dias em uma infinidade de espaços públicos. A diferença é que a minha aconteceu durante um link ao vivo pela televisão, no qual decidi me defender. Minha reação é que transformou o fato em algo viral", afirmou a jornalista em sua conta no Twitter.

"Aos que dizem que exagerei porque se tratou de uma 'encoxadinha', digo: até um olhar lascivo deixa vulnerável uma mulher. Mas não, não foi uma 'encoxadinha', e explico o que aconteceu – não porque eu tenha que fazê-lo, mas porque quero fazê-lo", acrescentou.

De acordo com o relato de Maria Fernanda Mora, "este pseudotorcedor me apertou uma nádega". Ela, então, dá detalhes da experiência pela qual passou.

"Pensei: 'Pode ser um esbarrão acidental por causa dos empurrões das pessoas'. Então continuei falando para a câmera. Este sujeito, cheio de coragem porque não reagi e segui meu trabalho, meteu a mão entre minhas nádegas outras duas vezes. Decidi me defender", descreveu a repórter.

"Não me arrependo de minha resposta diante do ataque, porque anteriormente já havia sofrido assédio no desempenho de minha prática jornalística. Não lamento a forma como me defendi, porque nós mulheres não vamos deixar, não vamos nos calar. É preciso deixar bem claro: o problema é sempre o agressor, não nós", acrescentou.

Na carta publicada nas redes sociais, Maria Fernanda Mora afirma ter recebido "muitas demonstrações de apoio", mas também relata mais situações acontecidas após o assédio do torcedor.

"O problema não é sair sozinha à noite, não é caminha pela rua, não é usar biquíni, um decote ou uma saia curta. O problema é que existem os que se sentem com direitos sobre o corpo de outra pessoa. Recebi muitas demonstrações de apoio, às quais agradeço infinitamente; mas também me preocupam as centenas de comentários, alguns acompanhados de pornografia, nos quais dizem que 'eu merecia', que sou uma 'p*ta', que vão ou que deveriam me 'estuprar', que eu 'procurei'", diz, indo além.

"Palavras que me tornam novamente vítima e são o reflexo do que é o machismo e a misoginia estão profundamente arraigados em nossa sociedade. Me inquietam os que minimizam, questionam ou exaltam o assédio do qual fui vítima, que tergiversam o cenário e me colocam como agressora. É fácil distorcer a informação quando não se esteve ali."

Por fim, Maria Fernanda oferece uma solução para que o número de casos de assédio a mulheres no jornalismo diminua. "Não é que nos afastem de cobrir determinados eventos. A questão é que devemos exercer nossa profissão com liberdade. Exigimos respeito", encerrou.

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