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Narradora do EI foi campeã após superar depressão e ouvir "vai cozinhar"

UOL Esporte

25/04/2018 07h12

Reprodução

Vivi Falconi realizou um sonho e se consagrou como a vencedora do concurso de narração promovido pelo Esporte Interativo na noite da última terça-feira. Ao ouvir seu nome, ela não se conteve e caiu em lágrimas. Vivi sabia a importância do momento e que a trajetória não havia sido fácil após superar uma depressão e o machismo.

Agora ela vai se preparar para narrar o jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Bayern de Munique in loco, no Santiago Bernabéu, e deve fechar um contrato para seguir como narradora do canal. Mas no início ela chegou a se abalar pelas críticas e comentários preconceituosos.

"No início foi mais difícil. Teve um programa que o Zico me escolheu como melhor narração e era para eu ficar imune naquela semana. Eu fiz a besteira de ir nas redes sociais e ler. Ouvi muita besteira pela minha aparência 'ah.. a gordinha', ou 'grita pra caramba', 'mulher narrando só ta gritando', 'vai cozinhar'. E aquelas coisas das mais absurdas. E eu deixei por algum momento aquilo me dar uma abalada, até que eu parei e falei: 'Péra. Desliguei o celular. Não vou ler isso'", conta.

Vivi duvidou do próprio potencial e ganhou confiança ao longo de sua trajetória no programa. Na inscrição, mandou o vídeo de forma despretensiosa e achava que não teria chances diante das concorrentes. Com o passar das fases, viu sua evolução e ficou satisfeita com o resultado. Agora, ela considera que sua vitória representa não só as participantes do concurso, como também muitas mulheres que ainda buscam seu espaço no jornalismo esportivo.

"O ramo esportivo é um ramo em que as mulheres batalham muito, estão sempre ali colocando seu potencial e as pessoas às vezes não valorizam. Acho que é mais uma porta que a gente está abrindo. Que se escancare agora porque tem muita gente boa lá fora fazendo um trabalho bom. E a gente precisa deixar as mulheres trabalharem sim, mostrar que elas podem, esse programa é uma oportunidade disso. E agora é botar o pé na porta que é nosso lema do programa e vamos com tudo".

O 'pé na porta' já vem trazendo efeitos positivos. Ela já recebeu mensagens de homens que mudaram a forma de pensar depois de acompanharem sua participação. "É tão engraçado que a gente vai vendo a evolução. De ontem para hoje recebi tantas mensagens. Teve uma discreta e muito legal de um menino que mandou dizendo: 'oh.. eu comecei com preconceito de não aceitar que mulher narre, mas eu comecei a acompanhar o programa. Então talvez seja falta de costume e algo cultural, mas eu estou torcendo muito por vocês porque vocês estão mostrando que vocês podem'. Eu gostei porque ele tinha um preconceito e com o programa foi quebrando isso. Estamos abrindo a mente do pessoal", conta.

Ela superou depressão

O machismo não foi o único grave problema que Vivi enfrentou. Cerca de cinco anos atrás, ela trabalhava como operadora de telemarketing e estava muito infeliz na função. Ela ainda sonhava em fazer uma faculdade de jornalismo, mas tinha problemas financeiros e não conseguia pagar os estudos. Acabou desenvolvendo uma depressão.

"Eu trabalhava com algo que eu não suportava e eu não via um planejamento de vida. É uma profissão que honro muito, nunca reclamei, mas era algo que não me fazia feliz porque eu não conseguia ficar presa. Trabalhei muitos anos com isso até o estado de entrar em depressão. Quando entrei em depressão, foi quando falei: "Não vou continuar nesse emprego porque não quero", conta.

A narradora ficou três anos desempregada e até vendeu itens pessoais para pagar as contas. "Nessa época eu estava desempregada e algumas contas começaram a apertar e eu fui vendo o que podia vender. Vendi uma câmera e o que sobrou era o violão. Um dos primeiros empregos que tive, comprei o violão e paguei uma grana até que legal, parcelado em mil vezes. Olhei para o violão e pensei: 'tocando música sem luz e água é difícil'. Vendi por preço bem menor. Mas vou comprar outro", relembra.

Com muito esforço, Vivi conseguiu uma bolsa no curso e na faculdade que queria. Arranjou um emprego e hoje trabalha na Rede Vida. Mas agora só pensa no desafio de ir para a Europa e narrar o jogo da Liga dos Campeões. "Minha vida anda meio assim. Deus que sabe de tudo porque está fazendo cada loucura na minha vida, mas vou pra lá para narrar. Estava nervosa na semi. Falei: 'cara, tenho que me divertir, tenho que representar bem'. Lá com certeza a emoção vai ser maior ainda, se duvidar vou chorar no meio do jogo porque é muito emocionante o que vou viver ali", disse.

Luiza Oliveira
DO UOL Esporte

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