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Repórter da ESPN fala sobre cusparada e ameaças de torcidas

UOL Esporte

26/11/2017 04h00

Em seis meses como repórter da ESPN, Bibiana Bolson se deparou com um sucesso estrondoso ao cobrir o dia-a-dia do futebol brasileiro. A jornalista gaúcha recebeu o carinho de muitos fãs do maior esporte do Brasil, mas, por outro lado, já foi alvo de fortes ameaças e agressões de torcidas, potencializados pelo simples fato de ela ser mulher.

"Já fui cuspida no estádio, já recebi ameaças de ser abusada: 'Vou te estuprar'. Muitas ameaças", contou Bibiana em entrevista ao UOL Esporte.

Com passagens por SporTV e Esporte Interativo, Bibiana viu uma nova chance no jornalismo esportivo ao cobrir o período de licença maternidade da colega Débora Gares até setembro deste ano. Segundo a jornalista, a condição de ser uma repórter mulher em um meio considerado masculino implica em xingamentos até mais pesados do que com os colegas homens, que também sofrem.

"A gente fica mais exposta. Talvez as ofensas que meus colegas jornalistas homens recebam não sejam tão fortes, porque às vezes um homem lê um tipo de xingamento e não se sente tão agredido. Mas quando uma mulher é chamada de piranha, puta, é mais agressivo, porque a violência não precisa ser apenas física, ela pode ser simbólica também", explicou.

Hoje, a jornalista lida muito melhor com esses tipos de situações e exaltou a importância de não se calar.

"As ofensas são uma forma de violência. Eu já recebi muita ameaça nas redes sociais, e no começo eu ficava muito incomodada e não falava nada. Depois eu vi que precisava expor aquilo. Escrevi uma carta aberta nas redes sociais de um cara que falou: 'Ah, você nem sabe de nada. Vai só para aparecer no jogo. Não entende de nada'. Hoje eu lido muito melhor com elas. Eu sei que eu tenho para onde correr, denunciar esses crimes", disse Bibiana, que também falou sobre o período de estudos nos Estados Unidos, o sucesso como repórter na ESPN e o futuro.

Confira abaixo trechos da entrevista com Bibiana Bolson:

Ela quase desistiu do jornalismo esportivo antes da ESPN

"Foi um momento muito bom, embora tenha sido breve. Profissionalmente foi ótimo e pessoalmente também, porque um pouco antes de eu aceitar o convite da ESPN, eu estava buscando alguns caminhos mais acadêmicos. Eu estava um pouco desacreditada com o jornalismo esportivo… E a ESPN sempre foi um canal que admirei. Achei que poderia ser um bom desafio para eu também sentir se eu ainda poderia dar algo para o jornalismo esportivo. Logo nos primeiros dias eu me vi em um ambiente sensacional, onde um repórter é muito valorizado. A gente é ouvido. As histórias são valorizadas, a apuração é feita de maneira excelente, o clima é muito bom também".

Seis meses com coberturas que valem por muito tempo

"Eu tive a oportunidade de cobrir um clube como o Flamengo com jogadores caros, o Botafogo que foi uma surpresa nesse 2017 por ter avançado na Libertadores, por ter feito uma excelente campanha e ter se destacado no campeonato Brasileiro. Cobri um Fluminense com um orçamento mais limitado e também teve seu bom momento nas competições. Foram muitas coisas bacanas que aconteceram, como a chance de cobrir uma final, estava com o Cruzeiro na decisão da Copa do Brasil. Eu fiz uma retrospectiva na minha cabeça de quantas coisas legais tinha acontecido na minha carreira em um curto tempo, mas também o quanto foi difícil chegar até lá".

E qual o motivo do grande sucesso?

"Primeiro porque o torcedor se identifica muito quando a gente tira aquela imagem de repórter, de televisão e fica mais gente como a gente, digamos. 'Ah, ela é assim com a gente, gosta de futebol. Ela também erra'. Porque eu também fazia graças nos meus erros, nos momentos que me atrapalhava.

E segundo, acho que por ter ficado muito tempo no Flamengo, por exemplo. Por ter pegado o momento que o time era muito questionado, com elenco milionário, mas sem apresentar resultado. Eu era muito incisiva nas perguntas, tanto para dirigentes, quanto para técnicos. Então acho que o torcedor começou a ver em mim a possibilidade de fazer a pergunta, como se eu fizesse a pergunta que o torcedor queria ouvir. E eu já ouvi muito isso: 'Que saudade da repórter que faz a pergunta que o torcedor quer ouvir'. Isso ficou muito marcado, eu continuo recebendo muitas mensagens, de torcedores".

Bibiana sente saudade, mas está em um momento diferente na vida

"Eu sinto falta, claro, porque sou muito apaixonada por esse ambiente de futebol. Mas eu estou vivendo um momento que esperei muito. Sempre quis estudar fora. Eu estou fazendo um curso na Universidade de Nova York com um editor que há mais de 19 anos é editor e escreve para o New York Times, é um dos mais respeitáveis jornalistas daqui. E eu estou tendo a oportunidade de entender mais como funciona o mercado americano, como funciona a notícia. Então eu sinto saudades, mas essa saudade é amenizada porque estou realizando algo que planejei muito, queria muito ter essa oportunidade. Estou bem desligada do futebol hoje".

Como é escrever um conteúdo especial para mulheres

"Eu sempre recebi muitas mensagens de meninas, sobre acharem legal ter mulheres no esporte. E quando surgiu a oportunidade da espnW, vi uma espécie de ponte dessas histórias inspiradoras que temos no esporte com essas pessoas que estão do outro lado também. Não só a figura da repórter, mas uma figura da esportista que batalhou para chegar onde está, tudo o que cerca o esporte. O W tem uma característica de trazer essas histórias inspiradoras, de trazer o que é comum na rotina das esportistas, a esportista que é a mãe, a esportista que casou agora, a esportista que cuida da alimentação. Tudo que cerca esse universo feminino".

E o futuro? "Está muito em aberto"

"Tenho curso até janeiro aqui nos EUA. Estou avaliando a possibilidade de fazer outro curso mais longo também. Mas está muito em aberto, porque tem algumas inscrições de alguns programas que estão abrindo agora em dezembro. Eu também tive um convite de uma universidade americana para um trabalho que desenvolvi no mestrado, para que eu fizesse em forma de doutorado. Então ainda não sei. Estou focado nesse primeiro curso, que termina em meados de janeiro e depois eu vou pensar na minha situação. Mas sei que na primeira semana de fevereiro eu vou estar no Brasil, porque eu prometi para minha mãe, a gente já tem uma viagem de família marcada para Bahia".

Beatriz Cesarini
Do UOL, em São Paulo

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