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"Minha vida mudou após Neymar", diz repórter do Esporte Interativo em Paris

UOL Esporte

24/09/2017 04h00

Arquivo Pessoal

A vida de Isabela Pagliari mudou no dia 3 de agosto de 2017. Vivendo fora do Brasil há três anos, o anúncio da contratação de Neymar pelo PSG por 222 milhões de euros transformou a rotina da repórter do Esporte Interativo em Paris. Entradas ao vivo para o canal brasileiro e mais entrevistas a veículos franceses sobre o brasileiro mais caro da história. Desde o início da temporada europeia, não é exagero dizer que o dia da jornalista precisa ter bem mais de 24 horas.

Desde então, Isabela é procurada por meios franceses para falar de seu conhecimento sobre o brasileiro e sobre o clube que cobre antes mesmo de entrar novamente no radar da imprensa esportiva por causa da nova estrela do PSG.

"A minha vida mudou depois do Neymar", conta Isabela. "Eu dei mais de 20 entrevistas às mídias francesas com a chegada do Neymar", relembra.

Ao UOL Esporte, Isabela falou da dificuldade de chegar em um país estranho, dos medos por conta do terrorismo na Europa, de machismo e até de sua amizade com a mulher do zagueiro Marquinhos, do PSG.

Arquivo Pessoal

Apesar de parecer um sonho, a rotina da repórter é pesada, mas ela encara tudo com bom humor. Divide-se entre as atividades domésticas e as obrigações profissionais.

"Eu acho que meu dia às vezes tem 72 horas, mas a gente se vira", brinca. "O meu trabalho tem cobrança, mas é muito sonho.  Eu acordo, leio os jornais, escuto as rádios, separo os assuntos, bato pauta, eu me preparo e faço as tarefas de casa, pego o ônibus e vou para o Parque dos Príncipes. Eu entro ao vivo e faço o que precisa, traduzo as respostas, eu envio, eu penso as chamadas. Exige muita dedicação e muita paixão", comentou.

Nem sempre a vida de correspondente foi "de sonho" assim. Com 27 anos, Isabela Pagliari largou tudo no Brasil para ir para França estudar e pensou em desistir.

"Antes de trabalhar no Esporte Interativo eu montei um canal do Youtube e trabalhei um pouco no Globo Esporte. Eu trabalhei em bar de balada, mas sempre quis ser jornalista. Eu ia aos jogos do PSG mesmo sem trabalho. Eu vim para me jogar, eu não pensei muito. Se pensar muito, não vai.  Eu não tinha amigos no primeiro ano e pensei em desistir. Foi então que o Esporte Interativo entrou em contato para falar que queriam montar uma equipe por causa da Liga dos Campeões", relembrou.

Confira abaixo trechos da entrevista com a jornalista:

Reprodução/Instagram

O fenômeno Neymar em Paris: "as pessoas respiram Neymar"

O PSG tem um histórico com brasileiro. E a chegada do Neymar revolucionou. As pessoas respiram Neymar. Os torcedores criaram uma música para o Raí e agora adaptaram para o Neymar. Faz 19 anos que essa música não era ouvida e o Neymar mudou com status de ídolo. Era um sonho de consumo. A gente vê interesse do torcedor que aumentou e meninas que começam a querer vir aos jogos para ver o Neymar jogar. Tem interesse das revistas de fofoca. Eu falei até com a Paris Match, uma revista de celebridade sobre Neymar. É um interesse absurdo.

Arquivo Pessoal

Machismo: "Falaram que consegui entrevista por ser bonita"

Tem muito (machismo). Quando o PSG ganhou do Barça na Liga dos Campeões (jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões), eu estava na zona mista e normalmente os jogadores não falam, mas o Neymar parou. Os caras falaram que ele só falou comigo por ser mulher e bonita. Machismo existe e as pessoas sempre justificam as coisas pela beleza e não sua capacidade. Isso não tem nada a ver. Competência vem antes de tudo. Isso já me atingiu, e hoje eu tiro de letra. Eu continuo trabalhando focada.

Arquivo Pessoal

Trabalho sozinha: "Usei flash do celular para entrevistar o Lucas Moura"

Eu faço tudo sozinha. A gente chega muito cedo no estádio, tem que fazer vídeo, foto, buscar um olhar diferente para a matéria, arrumar o equipamento para o ao vivo. As pessoas da Europa ficam chocadas como fazemos tudo. Quanto mais polivalente melhor. Quando tem jogo aqui em Paris, eu tenho acesso à zona mista, monto meu tripé e falo para os jogadores que vou ajeitar tudo, peço para serem pacientes e respeitam. Um dia minha luz queimou e o Lucas Moura deu a ideia de usar o celular, eu segurei o flash do celular na cara dele.

Reprodução/Instagram

Isabela faz companhia para Carol Cabrino nas viagens de Marquinhos

Nos conhecemos por um amigo nosso em comum, antes de trabalhar no Esporte Interativo. Eu tinha um canal no Youtube e quisemos dar uma reformulada. Eu queria uma blogueira e a Carol topou, ela gostou muito do projeto e a gente ficou muito amiga. A gente se ajudou aqui em Paris, porque chegamos na mesma época. Quando o Marquinhos viaja e eu estou de folga, eu fico com ela. Ficamos muito tempo juntas e é uma amizade muito gostosa. É uma parceria. Eu a considero muito. Ela me dá bronca, apesar de ser mais nova.

Terrorismo: "Tinha medo de sair de casa após os ataques de novembro de 2015"

Eu ia no jogo (França x Alemanha), quando ocorreram os ataques de 13 de novembro de 2015, mas não consegui. Eu saí de lá e fui assistir em outro lugar, bem longe dali. Mas as pessoas não conseguiam falar comigo e muita gente achava que eu estava no jogo, mas não entrei. Foi muito delicado. Quando entra terrorismo e futebol tem que ter sangue frio. Era muito triste, as histórias… Doía meu coração. Tive medo, mas a informação tinha que entrar e eu dava tudo que podia, mas é claro que tinham situações de risco para evitar. Eu tinha medo de sair de casa, eu pegava transporte com medo, mas tem que continuar e fazer meu trabalho. Hoje eu não tenho medo, apesar de ficar bem exposta.

Karla Torralba
Do UOL, em São Paulo

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