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Primeiro campeão do UFC trabalhava como babá e nunca tinha lutado pra valer

UOL Esporte

12/07/2017 04h00

Art Jimmerson e Royce Gracie, que lutaram no UFC 1 (Crédito: Divulgação/Academia de Filmes)

Royce Gracie tinha 26 anos quando entrou no octógono para enfrentar um experiente boxeador americano na primeira edição do UFC. Os tempos eram outros. Filho do fundador do jiu-jitsu brasileiro, Royce tinha chegado aos Estados Unidos dez anos antes para trabalhar como babá dos filhos de seu irmão mais velho, Rorion.

"A mulher dele viu que eu me dava bem com as crianças e me chamou para eu ir cuidar delas aqui", disse Royce. Quando Rorion criou um torneio sem regras, sem pontuação e sem limite de tempo para comparar todos os estilos de lutas e ser transmitido na TV, ele chamou o babá de seus filhos para representar a família mais famosa das artes marciais brasileiras.

Royce revelou que nunca tinha lutado profissionalmente antes. Rorion admitiu que inflou o cartel do irmão no anúncio da luta. O adversário seria Art Jimmerson, que havia vencido 29 lutas profissionais de boxe e resolveu entrar no octógono com luvas em apenas uma das mãos –  a outra ficaria livre para eventuais agarrões.

"Ele era o menor cara da noite", disse Jimmerson. "Essa luta era até injusta." Mas quando o combate começou, o boxeador se viu em uma situação complicada. Sem desferir sequer um soco, foi completamente dominado no chão, sem conseguir respirar sob o peso do corpo do brasileiro. Depois que o americano bateu no octógono desistindo, Royce começou a pavimentar o caminho que, duas lutas depois, o tornaria campeão do torneio.

"Jimmerson quis pular da janela quando soube que tinha perdido para uma babá"

A curiosa história do primeiro UFC está no programa "Espírito de Luta", que o canal Combate exibe desde a última segunda-feira. O primeiro episódio, "12 de novembro de 1993" (a data do primeiro UFC) foi dirigido pelo cineasta João Wainer. Os outros dois serão mostrados nas próximas segundas, sempre às 20h. Todos os episódios serão reprisados ao longo da programação do canal.

"Quando contamos ao Art Jimmerson que ele tinha perdido para uma babá, o cara quis se jogar pela janela", disse Wainer, aos risos, na semana passada.

(Crédito: Divulgação/Academia de Filmes)

Bem-humorado, Jimmerson também conta como recusou uma proposta que poderia ter lhe tornado rico. Os organizadores do primeiro UFC (Rorion Gracie e o publicitário Art Davie) lhe ofereceram duas possibilidades de pagamento pela sua luta: 20 mil dólares ou 1% do UFC. "Meu empresário disse: 'Pega essas 20 mil e vamos embora. Esse negócio de UFC não vai durar muito"'.

Duas décadas depois, o evento seria vendido por 4 bilhões de dólares.

O documentário conta algumas histórias curiosas e divertidas sobre aquela primeira aventura em Denver, no Colorado. Rorion Gracie não queria fazer as lutas em um ringue de boxe para evitar que os lutadores fugissem do combate. Antes de chegarem ao desenho do atual octógono, com grades em volta, eles cogitaram envolve-lo em uma cerca elétrica ou com um fosso de jacarés e piranhas. "Mas descartamos porque não seria muito fácil viajar por aí com água e animais", conta Art Davie.

Atleta lutou com dente cravado no pé

Outro detalhe que mostra o quanto as artes marciais mistas evoluíram daquele tempo quase bárbaro: Gerard Gordeau, que venceu a primeira luta do torneio com um chute forte na boca de um atleta de sumô, lutou as outras duas com o dente de seu aniversário cravado no pé.

A direção de Wainer trata "o esporte que mais cresce no mundo", segundo letreiro mostrado no documentário, de maneira cinematográfica. Para minimizar o cansaço do formato "cabeças falantes", tão usado no gênero, o diretor fez os personagens comentarem as lutas olhando diretamente para câmera, enquanto as cenas do UFC são projetadas na parede às suas costas, criando um efeito interessante.

No segundo episódio da série, "Paixão e Luta", a ser exibido na segunda (17) o diretor Paulo Caldas contará histórias de torcedores de MMA, acompanhando pessoas comuns assistindo a lutas de seus ídolos. A produção foi, por exemplo, ao Amazonas para conhecer a família de José Aldo e à Irlanda, entrevistar fãs de Connor McGregor.

No terceiro, "Terra de Luta", Tadeu Jungle viajou para comunidades tradicionais para investigar as origens históricas do fascínio do ser humano por esportes de luta.

"Espírito de Luta" é uma produção da Academia de Filmes, do UFC e do Combate.

Adriano Wilkson
Do UOL, em São Paulo

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