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Este era o Galvão Bueno quando ouviu “Cala a boca” pela 1ª vez na carreira

UOL Esporte

25/11/2014 06h00

Foto 4 Carteirinha Galvao Bueno

Em uma daquelas coincidências cósmicas (e neste caso é literalmente cósmica), o locutor mais famoso da televisão brasileira viveu – e narrou – alguns de seus momentos mais marcantes em julho de 1969. Aconteceu em Niterói, durante a realização da primeira edição dos extintos JEB's (Jogos Estudantis Brasileiros). Carlos Eduardo Galvão Bueno era auxiliar do treinador da equipe de basquete masculina do Distrito Federal.

Numa determinada noite, o alojamento dos atletas ficou apinhado de gente para tentar assistir à transmissão ao vivo da chegada do homem na lua. A TV Globo e a extinta Tupi, dos Diários Associados, formaram um pool para exibição via satélite do momento histórico. Eram centenas de alunos dos sete Estados participantes dos Jogos e nem todos conseguiam ver as imagens em preto e branco da pequena tv encostado à parede do alojamento.

Eis que Galvão teve uma ideia. Tomou o megafone utilizado pelos professores para orientar os alunos durante a prática esportiva, que estava sem uso naquela hora, e passou a narrar cada instante do desembarque do homem na lua. Às 23h56 (de Brasília), segundo os jornais da época, Neil Armstrong pisou na lua e Galvão descreveu cada movimento a partir do que via na TV.

E foi aí, neste marco histórico para a televisão brasileira que nasceu, ainda que forma improvisada e involuntária, uma expressão que acompanha Galvão nas cabines de narração dos estádios de futebol, ginásios, autódromos e redes sociais. Foi no dia que o homem pisou na lua que se registrou a origem da expressão: "Cala a boca, Galvão".

O Brasil amargava o auge da ditadura. Os JEB's eram um produto dos militares para, entre outras coisas, mobilizar os estudantes e engajá-los no esporte. Mais de 300 competidores de até 17 anos estavam em Niteroi para a disputa. Galvão, já com 19, não podia jogar. Mas tinha a simpatia de todos onde estudava, no Caseb, tradicional escola pública na Asa Sul de Brasília, que foi convidado pelo treinador da equipe de basquete do DF, o mineiro Pedro Rodrigues, para auxiliá-lo nos JEB's..

É de Rodrigues o relato sobre a narração de Galvão do homem caminhando na lua. "O pessoal que estava no fundão queria ouvir o que Galvão estava dizendo, porque ele narrava perfeitamente tudo que via na TV", lembra Rodrigues. Perguntado se todos ficaram satisfeitos com a performance de Galvão, o professor acrescentou: "Ah, tinham uns caras que estavam de frente para tela, que não precisavam da narração, que ficavam reclamando e pedindo silêncio."

Neste mesmo JEB's, o narrador conheceu Lúcia, jogadora de vôlei da equipe brasiliense, com quem viria a se casar e teria três filhos: Letícia, Carlos Eduardo (Cacá) e Paulo Eduardo (Popó) Bueno. Os dois já estavam separados quando, em 2010, Lúcia morreu de câncer, aos 60 anos.

Armador titular
Galvão morou em Brasília de 1967 a 1971. Veio acompanhar o tio, Antônio, dono de uma empresa que trabalhou na construção da nova capital. Chegou ao Caseb, onde o professor Pedro dava aulas, e jogou basquete, handebol e atletismo. Dedicou-se com maior vontade ao basquete. Ele é um dos pioneiros da modalidade e sua atuação está registrada no livro "Ponto de Partida", dos jornalistas Luiz Roberto Magalhães e Paulo Rossi, sobre o surgimento do esporte em Brasília após a fundação da cidade.

"Ele era magrinho e tinha o cabelo grande. Era armador e dos bons. Já chegou Brasília formado, tinha ótima visão de quadra", relata Rodrigues. Os colegas o chamavam de Galvão, às vezes de "Paulista" e, em tom de brincadeira, de "guaxinim", conforme revelou um de seus companheiros no time de basquete, hoje empresário do ramo de restaurantes na capital, ao jornal "Correio Braziliense" em 2007.

Galvão e o professor Pedro Rodrigues mantiveram contato até o início da década de 1990. O narrador esteve na cidade em pelo menos duas oportunidades neste ano, durante a Copa do Mundo de futebol, quando a seleção brasileira enfrentou Camarões e Holanda. "Parece que ele acabou se encontrando com o pessoal daquela época [década de 1960 e 1970], mas eu só soube depois que ele veio. Seria muito legal reencontrá-lo", almeja Rodrigues, hoje aos 81 anos, e ainda praticante de basquete.

*Daniel Brito, de Brasília

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